Review do Leitor

Colabore com a comunidade musical.

Search
.

Специальное предложение от Vavada Casino – 100 фриспинов для новых игроков! Это ваш шанс испытать удачу в одном из самых надежных онлайн-казино. Активируйте бонус по ссылке.

Luthiers: Produção manual vs CNC: a grande disputa nos fóruns de luteria

Produção manual vs. automatizada. Pode ser chamado de lutier aquele que usa CNC?

Sparflex

Ultimamente venho acompanhado uma discussão sem fim nos fóruns de luteria (ou luthieria, de forma coloquial) onde muitos dos participantes se preocupam com os instrumentos produzidos de forma automatizada. 

Por outro lado, entusiastas da tecnologia valorizam (ou hipervalorizam?!) a utilização de CNCs na fabricação de instrumentos musicais e enaltecem uma maior precisão na produção. Também ressaltam que “apenas” a parte mais pesada do trabalho é realizada com as máquinas e o que “realmente importa” (ajuste fino, acabamento, regulagem…) é ainda feito manualmente.

E o que podemos dizer sobre isso? Nem tanto o céu, nem tanto o inferno…

Se voltarmos aos nossos tempos de escola, podemos lembrar que já estudamos na disciplina História um fenômeno bastante parecido. Lá entre os séculos XVIII e XIX aconteceram algumas transformações na Europa, onde, pouco a pouco, o trabalho artesanal foi substituído pelo assalariado e o uso de máquinas.

Ao mesmo tempo que a relação das pessoas com o trabalho mudou, tivemos a diminuição do custo pelos produtos, pois eram fabricados em maior quantidade (e, como tudo que tem muita quantidade deixa de ser raro, consequentemente, deixa de ser “valioso”) e poderiam atender mais pessoas. Este fenômeno também fez com que os hábitos de consumo fossem mudados e mais pessoas, inclusive os operários, se tornassem potenciais consumidores dos produtos e bens de serviços que surgiram com a invenção das máquinas.

:: Leia também:

A busca pelo aprimoramento, pelo controle de qualidade e padronização de produtos se seguiu, em especial no século XX, até nos encontrar aqui e agora, neste instante, em plena era da informação, onde os robôs dominaram o mundo! Ops. Ainda não! Ainda!

Inevitavelmente as máquinas e os processos de automação iriam se tornar o padrão também no setor de instrumentos musicais, com certa demora em sua adoção, diga-se de passagem. É uma realidade! O mercado exige velocidade para atender a demanda maior de produtos, bem como soluções para a dificuldade de se conseguir mão de obra qualificada para a produção manual/ artesanal. Se até o século XX as empresas buscavam contratar a “mão de obra”, no século XXI ninguém quer a mão de alguém: elas estão buscando e valorizando o talento e a capacidade do colaborador criar soluções para os seus desafios, cada vez mais complexos.

E o que isso tem a ver com os luthiers ‘raíz’ e os ditos ‘apertadores de botão’? Tudo! Entretanto, existe algo que alguns músicos, luthiers e profissionais do setor no Brasil desconhecem (ou ignoram) que gera toda essa confusão à toa. Vamos lá!

Foto: Pedro Ivo Prates/Meon

Violões de Lineu Bravo estão nas mãos de artistas como Chico Buarque e João Bosco

Pão, pão; queijo, queijo!

Assim como ocorre em outros setores, a indústria de instrumentos musicais produz um incontável número de produtos por ano, sendo que a maioria dos produtos são destinados a consumidores que buscam um produto com preço baixo (ou bom preço) e a maior qualidade possível dentro daquela margem que planeja destinar para a aquisição do bem de consumo. E é levando em consideração isso que muitas empresas buscam soluções para oferecer a melhor qualidade possível pelo menor preço possível. Para isso, um ingrediente importante é adicionado: o tempo.

Quanto menos tempo eu gasto na produção, maior quantidade eu consigo produzir, mais peças eu tenho para vender e, consequentemente, consigo vender mais barato. Quanto mais tempo eu gasto na produção, menos quantidade eu consigo produzir, menos peças eu tenho para vender e, pelos custos que terei de arcar, mais caros eles precisarão ser vendidos para que eu mantenha meu negócio funcionando.

[blockquote style=”3″]Os menos atentos podem cometer a imprecisão de acreditar que o produto final das duas opções será o mesmo, mas não será.[/blockquote]

Quando levamos em consideração maior quantidade de produção, inevitavelmente levaremos em consideração “qual a qualidade mínima aceita pelo mercado” para produzirmos e buscar formas de garantir este nível de qualidade mínima dos produtos.

No entanto, quando pensamos em abrir mão da maior quantidade de produção possível, podemos destinar o tempo para o controle de qualidade, oferecendo o melhor produto possível para o consumidor a quem se destina. É aqui que encontramos a CNC como principal aliada (ou não) na fabricação de instrumentos musicais: padronização, otimização do tempo de trabalho e custo.

Uma máquina não tem hora de almoço (apenas manutenções de rotina), não vai ter mudanças de humor para afetar o seu trabalho, não vai chegar atrasada e, principalmente, não irá questionar os seus comandos. Seria, para alguns, o cenário ideal se houvesse autonomia para produzir o trabalho todo sozinha, mas não é bem assim.

Uma CNC é uma ferramenta como todas as outras, mas, em vez de necessitar de uma equipe treinada maior para ter uma produção média aceitável sem ser assombrado pela possibilidade de retrabalho, um operador é suficiente para monitorar a produção e assegurar que tudo está sendo feito conforme projetado.

Essa é uma das razões de alguns fabricantes, em especial de instrumentos de corpo sólido, terem adotado a sua utilização. E onde os luthiers ‘raiz’ entram nesta história?

Quem somos nós na fila do pão?

Quando eu era adolescente fui procurar um luthier para saber se ele poderia me ajudar a produzir um violão fretless. Ele, além de dar risada da minha cara, me questionou: “quem é você na fila do pão? Ninguém toca violão sem trastes, vai soar tudo desafinado e eu não quero que as pessoas ouçam essa bizarrice e associem ao meu nome.”

Aquela resposta foi o convite para me aventurar no estudo da construção de instrumentos musicais de cordas dedilhadas aos 16 anos e me profissionalizar como músico. Além disso, descobri que estudar experiências parecidas servem de atalho para não darmos tantas cabeçadas na vida, o famoso benchmarking.

CNC trabalhando em braços de violões na Collings Guitars, no Texas/EUA.

CNC trabalhando em braços de violões na Collings Guitars, no Texas/EUA.

E uma das coisas que podemos fazer para evitar brigar com moinhos de vento, como Dom Quixote, é verificar que não precisamos investigar muito o caso para descobrir que esta confusão ocorre por uma falha de posicionamento do luthier artesão e desconhecimento por parte do consumidor daquilo que realmente está procurando.

Para isso, vamos apresentar as categorias que os instrumentos musicais são divididos no mercado e tentar compreender a quem se destinam, bem como o valor de mercado.

Categorias de instrumentos musicais

Nós brasileiros temos dificuldade de reconhecer categorias de instrumentos musicais, é fato. Nossa dificuldade vem pela falta de hábito de consumirmos produtos de alto padrão, em termos gerais e, principalmente, pela dificuldade de reconhecer valor no trabalho artístico. É uma questão cultural.

No entanto, quando tratamos de instrumentos musicais, uma das formas mais conhecidas de reconhecimento de valor está relacionada a categorização dos instrumentos musicais levando em consideração o processo de produção. A saber:

  • Instrumentos de fábrica: Sejam eles produzidos manualmente por funcionários de uma fábrica ou por máquinas, via de regra, são os instrumentos de custo mais acessível no mercado. O que importa aqui é o produto ser produzido no menor tempo possível, com a garantia de ter especificações aceitáveis pelo grande público e com perdas materiais em níveis aceitáveis. Tudo isso com o intuito de manter a grande estrutura e obtenção de lucro da atividade econômica da empresa. Em suma, no cenário ideal temos instrumentos honestos produzidos em serie/ em larga escala. Eles podem ter categorias diferentes de preço para atender perfis de consumidores diferentes. Ou seja, poderemos encontrar desde o instrumento mais simples, funcionais, até instrumentos com acabamentos primorosos e detalhes customizados com o intuito de atrair um público interessado em instrumentos de alto padr ã o. Além disso, como característica de instrumentos de fábrica de boa procedência, podemos destacar a capacidade de manter um padrão de qualidade alinhado ao perfil de consumidor que se destinam. Exemplos: Fender, Gibson, PRS, Taylor, Yamaha, Ibanez, Tagima, entre outras.
  • Instrumentos de oficina/workshop: Podem ter produção manual coordenada por um mestre luthier (no segmento de instrumentos de  corpo sólido é chamado de master builder) e produzida por uma equipe de luthiers assistentes; e também podem ter produção automatizada através do uso de CNCs. São de custo intermediário dentro do segmento e o perfil de instrumentos musicais que mais geram imprecisões no Brasil quanto a sua natureza. Muitas vezes chamados de instrumentos de luthier ou handmade, mas são categorizados mundialmente como instrumentos de oficina, instrumentos custom shop, ou de ateliê.  Assim como os instrumentos de fábrica, são produzidos por uma equipe com o aval de um responsável pela produção (ou seja, que atesta a qualidade do instrumento produzido).

Se diferem das fábricas, pois possuem uma preocupação maior com a qualidade do produto, o que inevitavelmente influenciará na velocidade da produção, mais lenta, pois haverá inúmeros controles de qualidade em cada etapa do processo.

Se por um lado os workshops possuem uma produção menor, por outro possuem menor desperdício de material, bem como são menores as chances de apresentarem produtos com defeito. Exemplos:  Guitarras Conde Atocha, Tom Anderson, Suhr, Music Maker, N. Zaganin, Klingen. Também podemos destacar que grandes fabricantes como Gibson e Fender possuem suas Custom Shops que servem como aspiracional para a comercialização de seus instrumentos de série.

  • Instrumentos de autor: São obrigatoriamente produzidos manualmente por um luthier do começo ao fim. Como os instrumentos são produzidos um a um, a produção é lenta. Via de regra, a matéria prima é bem selecionada e atendem no mais alto grau critérios de resistência mecânica, estética e sonoridade. Dependendo de quem assina a peça, o instrumento pode valer uma grande fortuna, como os casos de instrumentos leiloados com preços acima de US$ 3 milhões, violinos assinados por Antonio Stradivari e Giuseppe Guarneri, por exemplo.
Antonio Stradivari

Gravura romantizada de Antonio Stradivari examinando um instrumento

Caso o valor tenha assustado por ter passado um pouco do orçamento, existem opções de artesãos do nosso século que produzem violinos incríveis em Cremona e que podem oferecer um exemplar pela bagatela de 25 mil euros.

Evidentemente o valor do instrumento dependerá muito da capacidade técnica do artesão e, é claro, de sua reputação.

Exemplos de autores: Kathrin Hauser, Felipe Conde, Sergio Abreu, Lineu Bravo, Antonio Tessarin, Clodoaldo Pirajá, etc.

Antes de mais nada, é fundamental termos em mente que instrumento musical não é apenas um produto funcional. No caso dos instrumentos de autor, são peças com valor artístico, o que já os torna únicos. No entanto, existem valores intangíveis que podem alterar vertiginosamente o preço de mercado, mesmo que o instrumento musical seja de fábrica. Como exemplo podemos destacar modelos da Gibson que chegam facilmente a 5 dígitos de dólares e os instrumentos extremamente valorizados mercadologicamente da Fender.

Quem produz em CNC não é handmade, mas não existe máquina que faz instrumentos sozinha!

Outro ponto que vale destacarmos é que não existe uma máquina que praticamente “cospe” guitarras, baixos e afins, como num passe de mágica. Muitos artesãos, com o intuito de desmerecer o trabalho de workshops, dão a entender isso.

Não é fácil programar uma máquina e, além disso, por melhor que a máquina seja, o operador precisa conhecer suas características e limitações, bem como conhecer profundamente as particularidades de se construir instrumentos musicais, pois existem “gaps”, ou seja, disparidades entre o que deve ser e o que a máquina executa.

Não raras vezes encontramos erros grosseiros em instrumentos produzidos em CNC. Além disso, também podemos observar muitos casos de perda de material, pois a máquina “ainda” não possui sensibilidade para mapear a venatura da madeira e suas caracter í sticas únicas. Quem já trabalhou algum dia esculpindo em madeira, sabe o quanto é desesperador ver um pedaço sair de onde não deveria por um erro de “leitura dos veios”. A curva de aprendizado na usinagem de instrumentos de madeira passa por essa etapa.

Afinal, a CNC é a grande inimiga do handmade?

O foco não deve ser criticar quem usa CNC, mas buscar entender quem você é nesta gigante “fila do pão” e, a partir disso, se posicionar mercadologicamente de forma correta.

Se o intuito é produzir muito, seja com intuito de oferecer instrumentos de categorias mais acessíveis (fábricas) ou apenas instrumentos de alto padrão (workshops/oficinas), a CNC pode ser uma importante aliada para alcançar estes objetivos.

Para que seja uma experiência positiva e menos traumática, é fundamental que o empreendedor tenha em mente que deve se preparar antes para não queimar etapas. Uma máquina parada ou produzindo pouco é dinheiro perdido. Acreditar que a máquina fará tudo sozinha e partir direto para a produção automatizada sem ao menos saber diferenciar um “objeto em forma de instrumento musical” de um bem construído, será uma experiência frustrante.

Caso a sua natureza seja pelo trabalho artesanal, é fundamental estudar ao máximo referências, história da arte e a evolução da música ocidental. Pode parecer bobagem, mas estes temas são fundamentais para compreendermos aspectos estéticos e estruturar nossos caminhos na construção de instrumentos musicais de alto padrão.

Além disso, quanto mais nos especializamos e conhecemos sobre aspectos da construção e sobre organologia, mais podemos auxiliar os nossos clientes músicos a compreender as diferenças dos trabalhos e os valores praticados em cada um deles.

Também é importante destacar que as fábricas e os workshops são importantes portas de entrada para os instrumentos de autor. O trabalho do luthier, não raras vezes, deverá ter natureza consultiva, ouvindo o cliente e suas reais necessidades. O cliente, muitas vezes, por desconhecer a natureza do trabalho do luthier e particularidades na construção de um instrumento, pode se espantar ao ouvir os valores de instrumentos artesanais.

Luthieria

Qual o preço da arte da luteria?

Os clientes, em especial os que buscam guitarras e baixos, frequentemente solicitam orçamento para um luthier produzir uma cópia (diferente de réplicas, algo que poderemos abordar num futuro artigo) de um instrumento de fábrica, sempre com o intuito de ter uma “versão mais em conta”. Evidentemente existem profissionais dispostos a realizar o serviço – e não iremos discutir questões éticas a respeito disso. No entanto, caso o artesão se sinta incomodado com a situação, é importante que o luthier tenha paciência para explicar os motivos de não aceitar realizar o serviço que o cliente deseja, apresentar a natureza de um instrumento de autor e a quem se destinam; e direcionar a venda para um instrumento de fábrica que atenderá a necessidade do mesmo. É deste modo que podemos, aos poucos, educar o mercado e melhorá-lo. Existe espaço para todos.

Lembre-se sempre: a CNC é apenas uma ferramenta, assim como a goiva, o formão, o serrote…


Qual a sua opinião? Deixe nos comentários a sua resposta.

Tags:

We will be happy to hear your thoughts

Leave a reply

Música & Mercado
Logo
Shopping cart