Rodrigo Mozan é luthier, começou a dar os primeiros passos na profissão regulando o próprio instrumento. Desde criança, sempre gostou de criar e desmontar coisas, sendo assim, a vontade de construir a própria guitarra não demorou a surgir.
Para fugir do lugar comum, ele apostou na criatividade e irreverência. Suas guitarras muitas vezes apresentam formatos inusitados como coração, pé de pato e personagens de desenhos animados. A inventividade é tanta que chamou a atenção de famosos como o cantor baiano Saulo Fernandes e o comediante multimídia Whindersson Nunes.
Atuante em Fortaleza, Ceará, além de fabricar instrumentos de maneira completamente artesanal, ele oferece aos clientes serviços de manutenção e pintura em instrumentos musicais.
Durante a entrevista, ele contou um pouco sobre sua trajetória, as dificuldades enfrentadas no exercício profissional, deu alguns conselhos preciosos para quem está começando a dar os primeiros passos na luteria e muito mais.
Como começou sua trajetória na luteria?
Rodrigo Mozan: Comecei a tocar cedo, aos 12 anos de idade. Sempre gostei de construir e desmontar coisas. Nessa mesma época, comecei a mexer no meu violão fazendo tarefas simples como abaixar rastilho, instalar a roldana para correia etc. Desde então venho buscando aprender mais sobre a arte da luteria.
Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou no início da carreira como luthier?
Rodrigo Mozan: Basicamente as mesmas dificuldades que enfrento hoje, mas em outras proporções. Tudo é difícil de conseguir na luteria: ferramentas adequadas, madeiras de qualidade, vernizes para a pintura, peças (algumas são complicadas de achar e os valores são bem altos), informações não são compartilhadas… Enfim, nossa mente está sempre à frente do que podemos conseguir aqui no Brasil. Então, em linhas gerais, as dificuldades maiores dizem respeito aos materiais para trabalhar.
O mercado de guitarras está inundado por réplicas de modelos consagrados. Em termos de design, qual é a importância da inovação nesse seguimento? O público é aberto a inovações?
Rodrigo Mozan: Tenho percebido que o número de pessoas que querem produtos com personalidade própria tem crescido, mas ao mesmo tempo, ainda existe uma galera bem conservadora. Ademais, acredito que me destaco mais nas inovações. A cada dia o público está mais aberto às novas ideias.
Existe limite na customização de um instrumento?
Rodrigo Mozan: Penso que o limite está somente entre a distância da ponte e do nut. O resto é variável e sem limites.
Você costuma utilizar algumas espécies de madeiras brasileiras em seus projetos. Com quais delas você mais gosta de trabalhar? Por quê?
Rodrigo Mozan: Por conta das dificuldades em encontrar madeiras consideradas de “tipo A”, sempre usei as madeiras brasileiras de fácil acesso. Por exemplo, gosto muito de usar o marupá, que é uma madeira leve, apresenta boa densidade e textura, é linda, é ótima para se trabalhar e proporciona um ótimo resultado sonoro.
Quais conselhos você daria para quem está começando a dar os primeiros passos na luteria?
Rodrigo Mozan: Acredito que todos podem entrar nessa área, seja por hobby ou profissão. Todavia, é importante fazer uma autoavaliação para ver se a pessoa apresenta aptidão para arte, depois disso, como forma de treinamento, é preciso começar a mexer nos próprios instrumentos, buscando sempre informações na internet, pois aos poucos vão surgindo dúvidas. A princípio não acho interessante fazer um curso logo de cara, pois a pessoa acaba não aproveitando tanto, porque nem dúvidas ela terá, pois ainda não conhece muita coisa. Comece sozinho que o aprendizado será mais valioso.
Além de fabricar instrumentos com um apelo “mais convencional”, você aborda também um aspecto irreverente e lúdico nas construções de alguns instrumentos. Você já fez guitarra em formato de coração, de pé de pato, pica-pau… Existe algum outro projeto inusitado em produção ou em planejamento?
Rodrigo Mozan: Sim. Minha cabeça não para. Tenho algumas ideias, mas ainda não tive tempo para executá-las. Quero muito fazer o Bob Esponja, o Mickey e uma folha de maconha. Enfim, gosto de coisas diferentes.
Quais são os seus planos para 2020?
Rodrigo Mozan: Meus planos para este ano são: colocar mais amor nos meus instrumentos, estudar bastante sobre sons, músicos, entender cada dia mais os anseios dos meus clientes, melhorar meu atendimento e a qualidade dos serviços prestados. Enfim, meu plano é servir melhor a todos que me procuram.
Maiores informações no Facebook e Instagram do luthier Rodrigo Mozan
*Autor: Álvaro Silva é apaixonado por música, guitarra e luteria. Criador do blog Guitarras Made In BraSil – espaço dedicado à divulgação dos trabalhos de profissionais brasileiros que produzem guitarras, contrabaixos e violões custom shop.