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Bate-papo com Adriano Ribeiro Ramos, da RDC Guitars

Empresa mineira comercializa corpos e braços de guitarras e contrabaixos usinados em CNC. Conheça mais sobre a RDC Guitars a seguir.

Surgida há pouco mais de uma década, a RDC Guitars foi criada pelo empresário mineiro Adriano Ribeiro Ramos, que vislumbrou a possibilidade de unir seus conhecimentos técnicos em design industrial com a paixão de fabricar instrumentos musicais. Inicialmente, começou fazendo alguns trabalhos para amigos utilizando uma máquina CNC que adquiriu para outros fins, mas logo percebeu que a qualidade dos produtos fabricados poderia atender as demandas de profissionais e hobistas que pretendem se aventurar construindo o próprio instrumento.

Todos os produtos são fabricados com madeiras criteriosamente selecionadas e precisão milimétrica na usinagem das peças. 

Ao longo do entrevista ele contou maiores detalhes sobre o surgimento da empresa, falou sobre os produtos comercializados, algumas questões sobre seleção e utilização de madeiras e muitos outros assuntos.

Como e quando surgiu a ideia de montar a RDC Guitars?

A RDC Guitars começou em 2010 quando adquiri uma CNC Router. Ela estava um pouco ociosa, e como eu já tinha fabricado alguns instrumentos musicais desde os anos oitenta junto com os amigos Othon Arruda e Leonardo Beggiatto, a ideia de começar a fabricá-los novamente surgiu. Além disso, um outro amigo apareceu aqui na oficina e me pediu para tentar fazer um corpo modelo Fender Jazz Bass utilizando a máquina. 

Como sou formado em design industrial, não foi difícil encontrar as plantas adequadas na internet e adaptá-las aos cortes vetoriais necessários para a usinagem em CNC Router. O resultado ficou bom, daí então comecei a usinar outros modelos de guitarras e contrabaixos e a vendê-los para outros amigos e clientes que apareceram através de anúncios que veiculei no Mercado Livre. 

Foi através desses anúncios que conheci o cliente Paulo May, do blog Louco Por Guitarra. Ele encomendou um corpo, gostou do resultado e realizou uma postagem a respeito do produto no blog. A partir de então os pedidos aumentaram e montei a RDC, dedicando metade das atividades da minha empresa para a fabricação de corpos e braços de guitarras e contrabaixos, isso porque tenho uma outra empresa em que fabrica algumas peças de design, móveis e outros objetos utilizando a CNC.

Quais são os produtos oferecidos pela empresa?

Basicamente são apenas corpos e braços de guitarras e baixos. Grande parte são réplicas de modelos Fender, Gibson, Ibanez, Jackson etc.

Atualmente como é composta a clientela da empresa?

Atualmente a minha clientela está bem dividida. Metade são luthiers e a outra metade são hobistas.

Você também comercializa instrumentos finalizados?

Não. Apenas corpos e braços sem acabamento. Algumas fotos de instrumentos finalizados postadas em minhas redes sociais são fotos enviadas por clientes ou de instrumentos que faço para mim. 

Muitos me perguntam por que não envio o corpo já com a pintura final. O motivo é que o instrumento necessita fazer uma pré-montagem antes da pintura para verificar se todas as peças estão adequadas com o restante do instrumento. Caso ocorra alguma inadequação de alguma peça, não vai ser nada agradável ter que retocar a pintura já finalizada.

Além dos modelos de guitarra e baixo consagrados no mercado (telecaster, les paul, stratocaster etc.), a empresa atende a pedidos completamente customizados? Dá pra fazer um projeto do zero se for tecnicamente viável?

Sim. É possível fazer um projeto customizado do zero, mas como você mencionou, desde que ele seja tecnicamente viável. Por exemplo, já apareceram clientes apenas com ideias na cabeça, sem nada previamente projetado. Em casos assim, o ideal é que o cliente já traga o desenho vetorizado pronto para usinagem, pois caso contrário, precisarei interpretar o que ele deseja e fazer todo o planejamento técnico, o que encarecerá o projeto. 

Quais são os diferenciais dos produtos RDC Guitars?

Nossos diferencial é atender ao cliente da maneira mais rápida possível, utilizando madeiras secas rigorosamente selecionadas. Infelizmente, devido à pandemia, nossos prazos aumentaram bastante em virtude da falta de materiais, funcionários doentes e regras de restrição de funcionamento do negócio. Entretanto, tento agilizar o processo deixando várias peças que possuem bastante saída prontas, é o caso dos kits para stratocaster e telecaster.

Nossos produtos também têm garantia. Como vendemos para todo Brasil e esporadicamente para fora do país, se o cliente não ficar satisfeito com o produto recebido ou ele apresentar alguma falha, basta entrar em contato conosco que fabricaremos outra peça ou devolveremos o dinheiro.

Em seus produtos você utiliza uma várias espécies de madeiras brasileiras diferentes, algumas delas pouco conhecidas do grande público. Com quais delas você mais gosta de trabalhar? Elas são difíceis de serem encontradas?

Sim. Infelizmente aqui no Brasil são pouquíssimas as empresas especializadas em seleção de madeiras nacionais para luthieria, o nosso trabalho acaba virando um garimpo em madeireiras e em empresas que comercializam madeiras de demolição. As madeiras que mais gosto de trabalhar são o cedro-rosa, freijó, marupá, mogno-brasileiro e o nosso jacarandá (brazilian rosewood).

Quais são os cuidados básicos ou essenciais durante o processo de escolha das madeiras que serão utilizadas na fabricação dos instrumentos?

Boa pergunta. Você pode fabricar um instrumento com praticamente quase todo tipo de madeira, mas não quer dizer que todo pedaço de madeira serve para fabricar um instrumento. Você precisa aprender a verificar os sentidos dos veios, escolher a parte mais nobre ou resistente da madeira para evitar empenos e torções, além de verificar se a madeira está devidamente seca (existem aparelhos para medir a humidade da madeira). Uma observação: uma madeira bastante seca não quer dizer que ela não vá empenar, ela pode ter cinquenta anos de corte, mas se o corte for mal feito ela pode empenar do mesmo jeito.

Existe muita polêmica a respeito da influência da madeira no timbre de instrumentos de corpo sólido. O que você pensa a respeito do assunto?

Realmente existe muita polêmica envolvida sobre esse assunto, inclusive, há poucos dias estava batendo um papo com o Paulo May (Blog Louco por Guitarra), a respeito da questão. 

Percebo que o maior problema são as diferenças de densidades ocorridas em uma mesma espécie de madeira, o tempo de corte e a região de onde ela veio. Já percebi diferenças em peças provenientes do mesmo tronco. 

A respeito de alguns outros detalhes que as pessoas mencionam, como a questão do corpo possuir emendas, não vejo diferenças sonoras entre corpo com emenda ou sem emenda. O que percebo é uma questão mais de estética.

Acredito que essa relação do timbre das guitarras com relação às madeiras faz mais diferença quando se usa captadores de baixo ganho. No caso de captadores de alto ganho ou ativos, não faz muita diferença ou nenhuma na minha opinião.

Qual foi o trabalho mais difícil de fazer até hoje?

Não digo mais difíceis, mas alguns modelos demandam mais horas de trabalho. É o caso dos instrumentos acústicos, semiacústicos (335, por exemplo) e alguns modelos de violões com corpos de guitarra que construí apenas como experiência (não pretendo comercializá-los por enquanto).

Alguma novidade programada para este ano?

Por enquanto está muito difícil apresentar novidades por causa das indefinições causadas pela pandemia, mas o meu objetivo é conseguir deixar o maior número de peças em pronta entrega no meu site (http://www.rdcguitars.com.br)

Maiores informações no site, Facebook, Instagram e YouTube da RDC Guitars.

*Autor: Álvaro Silva é apaixonado por música, guitarra e luteria. Graduando em Marketing pela PUC Minas. Criador do blog Guitarras Made In BraSil e do site Rotasongs.

Teremos o maior prazer em ouvir seus pensamentos

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