Max Rosa é luthier especializado na construção de violões com cordas de aço e responsável pela marca que leva seu nome – a Max Rosa Guitars, empresa sediada na cidade de Nova Lima, Minas Gerais.
Todos os instrumentos são fabricados à mão com muito esmero e requinte, a partir do emprego de técnicas específicas aprendidas com alguns dos maiores experts na construção de violões com cordas de aço, além da utilização de madeiras nobres criteriosamente selecionadas para cada projeto, o que confere exclusividade e sonoridade rica.
Sua lista de clientes inclui artistas como Flávio Venturini (14 Bis, O Terço), Affonsinho (Hanói Hanói), Kadu Vianna, Aggeu Marques, Gustavo Fofão (Cifra Club TV) e outros.
Ao longo da entrevista, ele falou um pouco sobre os primórdios na profissão, as características de um bom violão, madeiras que gosta de utilizar e muito mais.
Conte-nos um pouco sobre sua relação inicial com a luteria e como foi o surgimento da Max Rosa Guitars?
Max Rosa: Bom, tudo começou em 2009 quando tive a oportunidade de conhecer Wayne Henderson, consagrado luthier norte americano, que esteve por alguns dias no Brasil em busca de madeiras para seus violões. Henderson é uma pessoa muito simples e extremamente gentil. Depois de algumas semanas, surgiu a oportunidade de conhecer seu atelier na Virginia/EUA, e por lá ficar durante uma semana para que construíssemos um violão sob sua supervisão. O violão foi feito em cinco dias, em turnos de 12 a 14 horas de trabalho diário. Isto porque além de estar fazendo meu primeiro violão, passei bastante tempo registrando tudo o que podia sobre as novas informações que estava recebendo. Voltei para o Brasil com meu primeiro violão aço, uma mala cheia de ferramentas, moldes e jigs, e um caderno recheado de valiosas informações.
Você se tornou referência nacional quando o assunto é violão, vários artistas consagrados utilizam seus instrumentos. Quais são as principais virtudes que levaram a esse reconhecimento?
Max Rosa: No início, cada novo instrumento construído foi um degrau de aprendizado importantíssimo. Acho que aproveitei muito bem este período de maturação das informações ainda recentes que vinha recebendo dos luthiers Wayne Henderson e Don Wilson, que acabaram se tornando amigos muito próximos. Nos primeiros dois anos como luthier, eu fazia 04 ou 05 instrumentos ao ano. Gastava 02 a 03 meses construindo cada violão. Como eu ainda não tinha fluidez no trabalho, lembro-me de fazer cada etapa lentamente, consultando minhas anotações, tentando relembrar cada momento da construção daquele primeiro violão para tentar errar o mínimo possível. Além do mais, tinha que me adaptar aos suprimentos disponíveis no Brasil, principalmente vernizes. Nesta fase de consolidar o aprendizado, não havia pretensão alguma de lucro, o tempo gasto por violão construído versus valor de venda era ridiculamente desproporcional.
Mas olhando para trás, tenho muito orgulho de vários dos instrumentos que construí nos primeiros anos, e este tempo extra de cuidado na construção garantiu que o resultado fosse muito honesto para um luthier em início de carreira. Como consequência desta fase inicial de muita doação para com o trabalho, a partir de 2013 começaram a aparecer nomes importantes do violão aço e da música em geral se interessando pelos meus instrumentos, artistas que se identificaram como o que eu estava fazendo, e que me ajudaram na divulgação do meu trabalho. Nos anos seguintes as construções seguiram em plena evolução, em amadurecimento constante… Fico feliz em chegar a uma fase que me sinto muito seguro, acho que esta palavra é a que define melhor o momento.
Quais são as principais características de um bom violão?
Max Rosa: Acredito que um violão muito bom começa na escolha das madeiras conforme suas densidades e capacidades tonais. Talvez boa parte do sucesso do instrumento aconteça antes mesmo de qualquer colagem na construção da caixa acústica. A fase inicial de deixar o tampo e o fundo nas espessuras corretas antes de receberem as travessas é de suma importância.
Penso que um bom violão deve ser leve, mas nunca subestruturado. Um violão aço com pouca massa no tampo acaba tendo um timbre muito grave e sem agudos de qualidade, ou seja, se torna um instrumento de sonoridade desequilibrada. Por outro lado, o violão com excesso de madeira, além de pesado, acaba ficando com o som “duro”, com pouca responsividade. Os violões vintage pré-guerra da Martin e Gibson (principalmente os Martin) ensinam muito sobre o potencial do violão aço. A meu ver, eles são o melhor exemplo do conjunto de boas madeiras trabalhando na mais perfeita harmonia.
Falando sobre madeiras, quais são as que você mais gosta de utilizar em seus projetos?
Max Rosa: Por ter tido a oportunidade de aprender com luthiers especialistas em violões vintage, acabei sendo muito influenciado pela luthieria de violão aço tradicional, e esta escola tem como as principais madeiras para braço, faixas e fundo, o mogno e o jacarandá, madeiras nossas, orgulho do Brasil. O tampo eu só uso o Red Spruce (adirondack spruce), que é uma madeira nativa da região montanhosa do meio leste dos EUA e também na região nordeste até divisa com o Canadá. O adirondack é um tampo normalmente mais denso do que a maioria dos outros spruces, e tem um timbre e margem dinâmica especiais, características muito associadas aos violões vintage.
Dentre os modelos que você produz, qual deles tem maior saída?
Max Rosa: O modelo Orchestra (OM) costuma ser o mais popular para os clientes que só tem um instrumento e precisam de versatilidade. Para aqueles que gostam (e podem) explorar mais possibilidades, costumam escolher um violão de caixa grande e outro menor, para ter o melhor dos mundos à mão: sonoridade e conforto.
Você tem algum modelo favorito?
Max Rosa: Atualmente estou muito envolvido com meu mais recente modelo, o Slope Jumbo, que é inspirado nos Gibson vintage, especialmente o J-35, que é um dos acústicos da Gibson mais sonoros e valiosos no meio dos colecionadores. É um instrumento muito especial, de sonoridade mais selvagem com projeção de médios bem diferente dos Martin. A construção interna dele é muito peculiar, e por isso o timbre tem suas características próprias. Eu também gosto muito dos violões 00 (duplo zero) com escala curta e encaixe na 12ª casa. São instrumentos adoráveis, de timbre macio e muito confortáveis de tocar.
A pandemia do coronavírus afetou de alguma forma sua produção? Como você está lidando com esse grave problema?
Max Rosa: Tempos difíceis, de incertezas. Nas primeiras semanas eu parei completamente o trabalho. Fechei totalmente o atendimento presencial aos clientes. Aos poucos fui retomando somente a produção de forma isolada, já que trabalho praticamente sozinho. A pandemia trouxe este aumento absurdo do dólar, que por sua vez desmotivou muitos músicos que estariam interessados na importação de violões que tem faixa de preço e configuração de madeiras de alguma forma similar à que pratico. Por conta disso, notei um aumento expressivo na demanda de meus instrumentos. Tenho notícia também de outros amigos luthiers que relatam que suas demandas aumentaram por conta desta situação. Dificuldades globais que acabaram gerando oportunidades para a luthieria nacional, que, diga-se de passagem, evoluiu demais na última década.
Alguma novidade planejada para o ano de 2020?
Max Rosa: Apesar de 2020 estar sendo um ano atípico, continuo em atividade nas redes sociais, e nas próximas semanas estou colocando no ar o meu novo site, que trará fotos, vídeos atuais e uma nova forma de comunicação com meus clientes, disponibilizando bastantes informações sobre as opções disponíveis para cada modelo que construo. No mais, é um ano de incertezas, mas vamos sair dessa ainda mais fortes. Espero que todos se cuidem. Um abraço!
Mais informações no site, Facebook, Instagram e YouTube da Max Rosa Guitars.
*Autor: Álvaro Silva, apaixonado por música, guitarra e luteria. Criador do blog Guitarras Made In BraSil, espaço dedicado à divulgação dos trabalhos de profissionais brasileiros que produzem guitarras, contrabaixos e violões custom shop.