Do ponto de vista artístico, começo a enxergar mais modelos. Você poderá ver shows de dentro do carro, em espaços reservados ou em casa, por meio da sua smartv ou celular
O último show que o SKANK fez antes da pandemia foi em um transatlântico. Embarcamos na cidade de Santos, fizemos o show durante a noite, no deck do navio, completamente lotado, e desembarcamos no dia seguinte em Búzios.
Este show aconteceu uma semana antes do fechamento das cidades brasileiras. O navio era de bandeira italiana, com tripulação de vários países do mundo e um número infinito de dúvidas sobre como era o processo de disseminação do vírus. Pairava no ar a questão. Caso aparecesse alguém com sintomas da doença, teríamos que ficar em quarentena embarcados. No final, deu tudo certo e voltamos para casa felizes da vida.
Desde o inicio da pandemia, o SKANK fez algumas Lives. Esta é uma experiência nova, pois você está, ao vivo, tocando para milhares de pessoas e por meio da Internet. No entanto, paradoxalmente, em ambientes frios e extremamente controlados. A live no Mineirão foi o maior exemplo. Acabamos de completar 10 anos do nosso DVD, gravado no estádio, com a presença de 54 mil pessoas.
Em maio deste ano, fizemos um novo show com o estádio completamente vazio, sendo que do outro lado das câmeras haviam 350 mil pontos nos assistindo, simultaneamente, e mais de 3 milhões de visualizações. É um outro mundo.
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Na semana passada toquei em um DRIVE-IN com o meu projeto eletrônico chamado NIE MYER. Foi sensacional, um modelo completamente diferente do que já fiz na minha vida. Um novo passo em direção à normalidade: você toca para um número menor de pessoas, que escutam o show por meio de uma sintonia FM, dentro de seus carros, buzinando e piscando o farol nos momentos mais empolgados. O Metallica, por exemplo, organizou um show para um número absurdo de drive-ins nos EUA.
A retomada será lenta e gradual. Adquirimos um medo que será dissipado aos poucos. A palavra mais afetada pela covid19 foi ‘cotidiano’. Por outro lado, uma que precisa ser lembrada a todo momento é a ‘paciência’.
Não gosto do nome ‘novo normal’, é simplificar esta transformação que estamos passando. Aprendemos novas lições, novas tecnologias e adquirimos novos costumes. É praticamente um princípio da dialética. Nunca seremos as mesmas pessoas depois desta experiência, pois ao passarmos pelos mesmos lugares não seremos as mesmas pessoas e os lugares não serão os mesmos.
Dentre todas as experiências que estamos passando no meio artístico, eu começo a enxergar um novo modelo. Nele, você poderá ver os shows de dentro do seu carro, em espaços reservados, com poucas pessoas ou, se quiser ficar em casa, poderá ver através da sua smartv ou celular.
Isto já está acontecendo na Cidade das Artes no Rio de Janeiro. Múltiplas opções para o mesmo show. Não existe apenas um formato, o que existe é um formato que fica mais apropriado para você. Afinal de contas, o cliente sempre tem razão.
Conteúdo originalmente postado no site do jornal Estado De Minas, publicado aqui com autorização do autor.