Monetização das lives, contribuições solidárias e o futuro das performances musicais.
Até outro dia, o banquinho e violão (ou qualquer outro instrumento) era um formato para iniciantes ou nos moldes dos acústicos MTV.
Com a abrupta chegada da pandemia do Coronavírus, ocorreu um fato social impactou imensamente a indústria musical.
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Por um único motivo: em todos os episódios semelhantes na história, o artista era artista e apenas delegava as outras funções a terceiros. De repente, o artista viu-se sozinho, enclausurado (com o seu instrumento ou não) e o processo de criação ou mesmo as suas experiências musicais antes da obra ficar na sua versão definitiva passou não somente a ser algo público, como de certo modo, até com a interferência do público (ex. seleção de repertório para a apresentação). Se a tecnologia propiciou ao artista interagir com o seu público, a fatura chegou agora.
Do nada, o artista foi encurralado por sua audiência no interior da sua própria casa, demandando lives de alta performance sem recursos (som, luz, cenários, etc.) e muito menos com equipe para executar a filmagem até os outros detalhes que se fizessem necessários.
Resultado? Nunca pensei que iria viver para assistir David Gilmour (Pink Floyd) ou Annie Lennox (Eurythmics) no conforto da minha humilde residência, diretamente da nada humilde residência deles. Sem interferência de nada nem ninguém. Ritchie Blackmore (o temeroso “the man in black” do Deep Purple) há anos reclusos, fez sua live diretamente do seu medieval estúdio (Ministrel Hall) com as ironias e o mau-humor que sempre lhe foi peculiar.
Vou conseguir sobreviver da minha música nestes tempos de Pandemia? Depois como vai ser?
Ninguém tem bola de cristal para prever o futuro, no entanto, anos de experiência e estudos nos mostram que o medo do desconhecido se configura natural em situações como a que vivemos. Entretanto, todos reconhecem que a ‘indústria das lives‘ foi a primeira resposta do setor para combater a imediata suspensão das apresentações presenciais como shows, etc.
Lives com marca ou sem marca? Com contribuição ou sem?
Com a popularização das lives nascem outras questões a serem debatidas. Sem entrar no mérito das questões sanitárias eventualmente levantadas com relação as lives individuais ou coletivas, vamos refletir sobre um dos temas mais polêmicos.
O patrocínio dessas apresentações tem sido objeto de grande discussão por inúmeros motivos. O primeiro deles seria o questionamento com relação aos custos de se fazer uma live. Ora, quanto a isso não há dúvidas de que os artistas estão tendo que se readaptar as suas novas realidades. Equipamentos melhores, velocidade da internet e o próprio aumento do consumo de energia, são imediatamente trazidos a baila nesta argumentação.
Sendo assim, sobre o aspecto econômico se justificaria o apoio/patrocínio de marcas que como contrapartida teriam a associação de um artista a seu produto ou serviço.
A questão se relaciona diretamente com o amplo conteúdo gratuito que esta disponível em contraponto a necessidade de remunerar o artista que de repente se viu privado de inúmeras receitas que anteriormente lhe sustentavam. Exatamente por questões de associação de imagens de personalidades públicas com as marcas que vem patrocinando as lives, ressurgiu um movimento muito comum nos anos 80 e seguintes.
As contribuições solidarias trazem um caráter de voluntariado bem como as lives com propostas humanitárias e/ou beneficentes. Curiosamente, até o momento as arrecadações tanto das contribuições solidarias quanto das doações beneficentes são ínfimas. Por quê? Neste momento de grandes restrições econômicas, as pessoas tendem a preferir os conteúdos gratuitos, entendendo que, principalmente os artistas majors, teriam a obrigação de fazê-lo. Prova disso foi a polemica envolvendo a dupla AnaVitoria, ainda que explicado por elas que o valor se destinava a equipe.