Queima de preço, concorrência, lojas estufadas e pouca ação para o consumidor. Estaria o mercado da música praticando suicídio?
Por Rui Machado
O mercado da música está praticando um suicídio. Quando falo de mercado, falo sobretudo de fabricantes, distribuidores e importadores.
Empresas promovem feiras ou reuniões de negócios, o que é absolutamente normal, porém o concorrente, para esvaziar o evento do outro, dias antes chamam os principais clientes para outro encontro, organizado apressadamente. O objetivo é dividir a verba. Nada demais, se não fosse a queima de preços que isso ocasiona.
Além da queima de preços, muitos lojistas acabam sendo induzidos com ofertas que saturam a loja com produtos de baixo giro, diminuindo sua capacidade de investimento em produtos rentáveis e que atraem o consumidor final.
Alguns meses são realizados dois e até três eventos e alguns lojistas participam de todos eles. Considero natural, porque se não participarem acham que ‘perdem as promoções’ para os concorrentes.
Mas o resultado disto é que nesta correria, todos ficam longe da loja e consequentemente do consumidor. A loja fica acéfala durante muito tempo. É então que os picaretas de plantão, seja no Mercado Livre ou noutros mercados fazem a festa com o consumidor. Surgem as marcas que não são marcas e os negócios para lá de suspeitos.
Movimento de curto prazo, comércio estufado
O mercado não se sustenta com esse modelo que estão impondo. Uma guerra que agora não é só de preços.
A proliferação de feiras regionais, que pouco tem de regional, feita com lojistas de todo país, está deixando o comércio a deriva. Na grande maioria destes eventos, estão presentes sempre as mesmas empresas expositoras e sempre as mesmas empresas compradoras.
Da mesma forma, estão presentes sempre os mesmos produtos. Inovação, lançamento de novos produtos é algo raro. Enquanto isso, no ponto de venda ficam apenas os balconistas, que não têm autonomia para tomar algumas decisões, o que invariavelmente leva á perda de negócios.
O mercado não se sustenta assim.
Virou um imenso camelódromo, mesclado de suborno disfarçado, com propinas para todo o lado. É propina para os balconistas, é suborno para os lojistas e nada de inovação. Nenhum lançamento, nada de novo.
Diversas empresas, fabricantes, importadores, atualmente pagam guelta para os balconistas.
A visita as feiras, que deveria ser de total interesse dos lojistas, passou a ser condicionada ao pagamento de passagem e hospedagem. Se assim não for, não participam. Perderam todo o interesse comercial, esta forma, fica difícil vislumbrar o papel do lojista, como sujeito inovador que é, além de porta voz das necessidades do mercado.
Efeito colateral
Não se encontram mais representantes viajando. Ficam em casa, aguardando os próximos eventos e ocasionalmente, telefonando aos clientes.
O resultado? Perde-se totalmente o contato com o lojista, consumidor e com as necessidades do mercado.
Se antes você tinha que filtrar as informações que vinham do representante, agora nem informações para filtrar nós temos. Algumas empresas já pensam em dispensar os representantes, optando por ficar apenas com as feiras regionais de negócios.
O mercado da música precisa voltar a ser apenas um mercado, com oferta, procura, lançamentos, inovação, criatividade e atendimento. Hoje não temos um mercado.
Enfim, se você vai dirigir com os olhos fechados, o resultado pode ser catastrófico.
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