Norma 60286-16: Avaliação objetiva da inteligibilidade da fala pelo índice de transmissão da fala.
Em agosto de 2018, a Associação Brasileira de Normas Técnicas publicou a norma NBR IEC 60268-16. Com ela o tema da inteligibilidade de sistemas de comunicação ganhou relevância especial para todos aqueles que lidam com sistemas de sonorização com o propósito de comunicação, sejam eles projetistas, operadores ou gestores.
Isso porque NBR IEC 60268-16 é uma adoção da norma internacional publicada pela IEC e tem o propósito de especificar os métodos objetivos para a classificação da qualidade da transmissão da fala em relação à inteligibilidade nos sistemas de sonorização.
A fala é o nosso principal método de comunicação. Portanto, é importante que a fala transmitida seja recebida de forma inteligível pelos ouvintes. Este aspecto é mais importante do que a qualidade sonora por si, já que não há sentido projetar um sistema se ele não for compreendido ou incapaz de “levar a mensagem”.
Um erro comum quando se fala sobre inteligibilidade é confundir audibilidade com clareza. Só porque ouvimos um som não quer dizer que ele é inteligível. A audibilidade é ligada à capacidade do ouvinte de ouvir o som fisicamente, enquanto que a clareza descreve a habilidade de detectar a estrutura do som. No caso da fala, isso significa ouvir as consonantes e vogais corretamente para identificar as estruturas das palavras e frases e assim dar significado inteligível aos sons da fala.
Apesar da qualidade sonora e inteligibilidade da fala serem intrinsecamente ligadas, não são a mesma coisa. É possível ter um sistema de sonorização que seja altamente inteligível mas com pouca qualidade (uma ligação telefônica, por exemplo, cuja banda passante é de 300 a 3kHz) e um sistema de alta qualidade que seja virtualmente incompreensível (um sistema de sonorização ‘estado da arte’ em uma igreja ou sala de concertos sem tratamento acústico e com uma reverberação alta).
Método e medição
O estudo da metodologia de medição da inteligibilidade tem mais de cinquenta anos. Inicialmente a inteligibilidade era medida através da reprodução de um conjunto de palavras pré-estabelecidas para um grupo de ouvintes na sala ou espaço de interesse que, ao ouvir as palavras, as escreviam em um papel. O percentual de número de acertos das palavras indicava a qualidade da inteligibilidade.
Sendo um método trabalhoso, demorado e custoso, pesquisadores desenvolveram um sinal analítico, que contém características espectrais e temporais da fala e que podem ser medidos com instrumentos adequados, substituindo assim os ouvintes, reduzindo consideravelmente o tempo e complexidade necessários para a realização da medição.
Uma vez obtido o método de medição, foi criado um índice de transmissão de fala (STI) que varia de 0 a 1 e criadas bandas de qualificação flexíveis para aplicações diferentes com uma tolerância embutida de medição e/ou predição.
Outro recurso possível com a introdução de métodos analíticos de medição da inteligibilidade é que os projetos também podem fazer uso desta técnica, implementada nos programas de CAD especializados em simulações eletroacústicas. Antes mesmo da construção do local e/ou da instalação de um sistema de amplificação de voz, torna-se possível estimar a inteligibilidade do mesmo no local e orientar alterações e ajustes necessários.
Bastante detalhada na explicação dos diversos aspectos de que consiste o teste, a norma fornece um manual completo para efetuar as medições, com diversos anexos informativos de grande utilidade para aqueles encarregadas de aplica-la.
Inteligibilidade e Sistemas de Alarme
Mensagens transmitidas através de um Sistema de Comunicação de Emergência fornecem informações que ajudam o público a decidir quais ações a tomar para diferentes cenários, tais como incêndios, intempéries ou, mesmo, ataques terroristas. É imperativo, assim, que as pessoas recebam um conteúdo que consigam compreender. Tal compreensão pode ser a diferença entre as pessoas conseguirem chegar a um local seguro e permanecer em um local de perigo iminente.
Um alarme ou uma sirene logram atrair a atenção do público e informam que há uma situação de perigo iminente. Mas é só. Ele não diz nem onde nem qual é este perigo. Muito menos orienta o público sobre o que deve fazer (e existem até situações em que a orientação é não fazer nada, ficar onde estão). Para isso é necessário um sistema de comunicação de voz que seja audível e inteligível.
A Norma de Inteligibilidade é assim uma poderosa ferramenta na aferição da eficácia dos Sistemas de Comunicação e sua adoção como parte das melhores práticas dos projetos e instalações deve ser vista como uma prioridade por gestores e empresas prestadoras de obras e serviços.
Uma norma que ajudará a salvar vidas uma vez que seja incorporada aos códigos de emergência e evacuação.
A norma NBR IEC 60268-16 pode ser adquirida no site da ABNT (https://www.abntcatalogo.com.br/). Em sua Convenção Nacional que será realizada em São Paulo de 2-4/7 a Sociedade de Engenharia de Áudio (AES Brasil) terá palestras sobre inteligibilidade de sistemas de sonorização para quem quiser inteirar-se no assunto.
Autor: Joel Vieira de Brito é Engenheiro, Consultor Eletroacústico com 30 anos de experiência no mercado de áudio profissional. Membro e Diretor no Brasil da Audio Engineering Society, Secretário da C. E. 003 100 001 Áudio, vídeo sistemas de multimídia e equipamentos da ABNT e Coordenador do Grupo de Trabalho sobre a Norma de Avaliação Objetiva da Inteligibilidade.