Scott Denno é violonista clássico, reconhecido pelos maiores professores do mundo. Em visita ao Brasil e a Argentina, Scott conta detalhes sobre sua carreira e gostos
Americano, nascido em Saint Paul (Minnesota), Scott Denno é o caçula de sete irmãos, tendo grandes influências musicais dentro de casa.
Na adolescência foi amante do rock, mas foi na música clássica que encontrou seu maior amigo: o violão. Com a convicção de que seria um violonista clássico, Scott começou a se dedicar mais e a ter aulas particulares.
Em 2000, já como músico profissional e com seu trabalho reconhecido em muitos lugares, viajou em uma pequena tour para a Irlanda, onde conheceu alguns músicos alemães que o convidaram a apresentar-se e conhecer o país. Em poucos dias na Alemanha, Scott e seus amigos músicos decidiram criar o grupo Magic Guitars, que teve grande sucesso e realizou apresentações na Alemanha, Itália, Áustria, Hungria, México e outros países. Em 2002, com o fim da turnê, Scott decidiu voltar para a Alemanha, desta vez para morar, e escolheu a cidade de Luebeck como novo lar. Nesse país, obteve vários diplomas em música (incluindo pedagogia e musicologia) e começou a ensinar pelo mundo.
Quando você percebeu que o violão era o seu instrumento?
Percebi quando tinha 11 ou 12 anos. Quando era adolescente passei muito tempo praticando e tocando guitarra, mas voltei para o violão aos 17. Escolhi o violão clássico porque é o estilo que me comoveu mais. Sempre gostei do estilo brasileiro e pensava nele, e nos tangos da Argentina, como uma extensão do violão clássico. Para mim, o violão clássico incluía todos os estilos que realmente me atraíam.
De onde obtém inspiração para a sua música?
Minha inspiração para escrever música vem na maior parte de viajar. Às vezes, quando estou caminhando por algum lugar que não é familiar, vêm à minha mente novas ideias musicais. É como resumir uma história sobre onde estou através da música.
Qual é o seu violão favorito?
Uau, que pergunta extraordinária! Adoro os violões antigos do século XX como os Bouchet, Ramirez, Santos Hernandez, Simplicio, Fleta, Hauser etc. Sobre os violões modernos, certamente os de Sergio Abreu são incríveis. Samuel Carvalho é maravilhoso também. Gosto ainda dos violões de Tony Mueller, Antonio Tessarin, João Scremin, Mario Bezerra, Lucio Jacob, Paulo Marcos, José Valderama, entre outros. Atualmente, tenho um violão de Mario Bezerra e toco no palco com um modelo do grande luthier australiano Greg Smallman.
E sobre cordas?
Gosto das Savarez Cantiga blue label, das Hannabach Goldin hard tension e das Labella medium hard tension.
Como você vê o mundo atual dos violões?
Extremamente diversificado. Adoro o fato de ter amigos que tocam tantos estilos diferentes. Aliás, é muito divertido aprender uns com os outros. Vejo muitos estilos diferentes de violão sendo usados para tipos específicos de música, tal como a música clássica. Vejo como usam a guitarra como um instrumento clássico para fazer ‘solo’, inclusive como solista em uma orquestra. Alguns exemplos incluem “Ten Years Past”, de Michael Nicolella ou “Songs Drones and Refrains of Death”, de George Crumb.
E qual é o seu olhar sobre a evolução da indústria da música e de instrumentos?
Quando comecei, era normal vender CDs e, com frequência, era muito caro produzir um! Em termos de guitarras e equipamentos, lembro de uma diferença muito maior entre as guitarras e os amplificadores há mais de 20 anos. Por exemplo, se hoje você olha várias das novas guitarras Les Paul, na sua maioria são produzidas por computador, o que acho ótimo. Os temas de qualidade parecem ser controlados de melhor forma, por isso muitos luthiers estão usando a tecnologia para sua vantagem e para poder produzir instrumentos maravilhosos.
Sente saudades de alguma coisa dos velhos tempos?
Percebo uma grande diferença na ressonância entre os novos violões e aqueles de antes dos anos 70. Para mim, isso poderia ter a ver com certas colas naturais que se usavam no passado e que são mais complicadas de usar agora, mas acusticamente mais ressonantes que a cola para madeira moderna. Acho que quanto mais velho um instrumento, pode soar mais interessante. Por exemplo, tenho um violão Gibson de 1964 que costumava ser um modelo muito barato quando foi produzido, mas tem um som mais bonito do que alguns dos violões mais finos que já tive. Do seu lado, sobre os pickups nas guitarras, por exemplo, os históricos PAF que eram bobinados individualmente parecem ter causado um grande impacto no mercado de colecionadores das guitarras Les Paul de antes dos anos 60, porque todas eram um pouquinho diferentes e, portanto, individuais. Respeito os amplificadores, sempre gostei dos históricos amplis valvulados da Marshall.
Você viajou pela América Latina. O que acha dos nossos músicos?
Estive no Brasil e na Argentina. O nível de talento musical que tenho visto nessa parte do mundo é impressionante, então decidi ficar um tempo no Brasil para estar entre esses maravilhosos músicos. Sinto que aqui a música é desfrutada em um nível mais alto. Amo a energia que as pessoas botam na sua música.
O que você acha da educação musical em nível geral?
Acho maravilhosa, porque creio que a música ajuda as pessoas a serem mais criativas e positivas. A música é um presente de beleza e indulgência sobre o qual a pessoa que a apresenta pode se sentir bem. Diria para os professores do mundo inteiro que aproveitem a companhia dos seus estudantes e, por meio de uma criatividade construtiva, os ajudem a entender o valor de aprender bem como fazer música.
*A editorial agradece a ajuda de Leonardo Almeida para realizar esta entrevista