“O mundo nunca mais será o mesmo” é uma frase que tem se tornado mantra em todos os meios, já que a pandemia aí está, porém, além da questão de saúde, do impacto econômico e social, existem certos “esqueletos” no armário do mercado musical que já existiam, e apenas ficaram à mostra.
A música ao vivo de pequenas e médias apresentações já estava com falta de lugares para sua ocorrência, e já havia um decrescendo, que na crise do vírus, apenas chegou no zero que apontava anteriormente.
A história de “lives” só funcionou para artistas de renome e destaque, que contam com patrocinadores pagantes de seus eventos, e custeiam a coisa toda, e mesmo assim, já está se esgotando enquanto meio, no que se banaliza…
Os pequenos, médios e alternativos que já estavam sem opções, fazem as tais “lives” de graça, cuja remuneração em monetização dos sites é percentualmente ridícula.
Carreiras de décadas nada adiantam diante da geração que vive a “urgência dos segundos”, impacientes em ouvir e ávidos em falar.
Todos nos meios virtuais querem opinar fortemente sobre tudo, seja em fóruns e blogs, e nos Feeds das redes sociais, a busca por atenção comanda o nível da opinião.
Como não se tem uma busca pelo saber, o nivelar da mediocridade é há muito tempo, já antes da Pandemia, fato consumado.
Estamos vivendo o momento da concretização do Caos da impessoalidade, impulsionado pela impossibilidade de abraços e apertos de mão, de beijos no rosto e nas mãos, de pessoas que já passavam mais tempo com o celular nas mãos, e que nem mais praticavam isso.
A doença expõe algumas outras síndromes, que oscilam do mal do egoísmo ao câncer da inveja e maledicências.
Quem está com vendas ocorrendo nos meios virtuais, não percebe que elas ocorrem num primeiro momento , mas a crise financeira que se aproxima como uma Tsunami, inevitavelmente chegará em todos os setores, já tendo “varrido” alguns de sua possibilidade.
Mais do que ficar se “reinventando”, há a necessidade de se compreender em dificuldade, ou em vias da mesma, e ao olhar para o lado, compreender que um nicho de mercado e seus setores, só sobrevivem em conjunto.
Precisamos literalmente “salvar a vida” dos profissionais do entretenimento que “fazem a coisa acontecer” ou não sobrarão roadies, técnicos de iluminação ou engenheiros de som, pois nenhum trabalhador da área se mantem sem sustento.
A parcialidade de raciocinar em torno do próprio umbigo paraliza ações que deveriam ser tomadas como um todo, por todos, e em todas as áreas do negócio da música.
Ninguém sobreviverá mercadologicamente sozinho
Nem comento sobre a situação dos direitos autorais e dos aplicativos de música, pois isso era uma arapuca anunciada desde a invenção do Napster, e hoje propriedade intelectual é desrespeitada à vista de todos.
Em todos meus textos sobre o assunto, acabo tendo que lembrar que o que movimenta o mercado musical é a música, e quem a faz é o músico, e sem músico, não há música, sem música não há vendas de produtos relacionados e apresentações, e nem estrutura de mercado.
Quem acha que softwares de loopings vão manter algum tipo mercado, não está raciocinando com os pés na realidade.
A vulgarização e banalização do talento, do esforço e da qualidade, como se fosse um “faça agora de qualquer maneira”, ao invés de “faça direto e no tempo certo”, obviamente trouxeram o caos onde todos se acham capazes de realizar qualquer coisa antes de aprender.
A geração dos “5 segundos”, que não aprecia um álbum inteiro em sequência.
Se isso não mudar, como estimular alguém a estudar algo que exige esforço de décadas, e cujo resultado não se mede em remuneração, mas em likes e views, muitos deles forjados?
Como vender uma palheta sequer se não houver motivo para usá-la?
Confesso que eu desanimo mais diante da inércia dos músicos, do que com o descaso do público.
Poucas são as pessoas leigas que tem consciência real do que é o mercado da música.
Para a maioria, as notícias musicais abrangem a vida de artistas em tom de fofoca.