Responsável pela obtenção de um bom som, o segmento dos componentes vai mudando. Quer saber mais sobre isso? Gustavo Bohn, da B&C Speakers, conta sobre esse interessante setor.
O mundo do áudio sempre está em evolução e uma parte importante, que fica às vezes oculta mas é fundamental para obter um ótimo som, são os falantes e drivers dentro das caixas. Materiais, combinações, o modo de usá-los… Gustavo Pigatto Bohn, gerente de vendas para a América do Sul da B&C Speakers, explica um pouco sobre tudo isso e muito mais nesta entrevista.
M&M: Sendo fabricante de componentes, o que você acha do mercado de fabricação de caixas e line arrays no Brasil?
GB: O nosso mercado de fabricação de caixas vem evoluindo com o passar dos anos. Em um passado um pouco mais distante, tínhamos várias empresas que construíam cópias mais simples de modelos estrangeiros. Porém, em um período mais próspero da nossa economia, muitas marcas de renome internacional chegaram até o nosso mercado, fazendo com que a exigência em termos de qualidade e performance subisse muito. Nesse momento houve a necessidade de que as empresas se adaptassem e evoluíssem. Nessa evolução, a internet foi imprescindível na disseminação do conhecimento, permitindo que surgissem projetos inovadores mais sintonizados com a musicalidade brasileira.
Atualmente podemos constatar que muitas marcas nacionais não deixam nada a desejar em relação aos importados, e já temos alguns casos de marcas nacionais que começam a ter preferência sobre as importadas. Observamos que o mercado brasileiro para sistemas do tipo line array é muito grande e por muito tempo vai precisar de produtos com altíssima qualidade para fazer frente às necessidades do mercado do entretenimento de grande porte.
M&M: A B&C talvez seja uma das maiores empresas de componentes. Que tendências são perceptíveis no mercado de falantes/drivers?
GB: Pelo fato de a B&C possuir um dos catálogos mais completos em termos de opções para os projetistas e desenvolvedores de sistemas, observamos que hoje possuímos um perfil amplo de necessidades e clientes, desde os modelos clássicos conhecidos pela robustez e performance bem-aceita no mercado até os projetos que contemplam a mais alta performance em termos de linearidade e tempos residuais, tanto em falantes quanto em drivers. Ultimamente temos investido muito tempo e recursos para desenvolver novos materiais e formas de montá-los, para que os novos modelos obtenham sempre um resultado melhor que os nossos modelos anteriores. Hoje, em nossa linha de produtos, contamos com falantes que possuem materiais que muitos usuários nem imaginam estar dentro de um alto-falante, por exemplo, cones que têm fibra de carbono e kevlar adicionados à celulose para obter diferentes modos de vibração e aumentar a durabilidade do falante; bobinas que utilizam o Split Coil, que proporciona uma redução significativa da distorção na curva de força eletromagnética; e dentro dos nossos drivers implementamos recentemente um novo diafragma com material policristalino, novas geometrias de plugues de fase e uma nova bobina com borda dobrada. Todas essas melhorias permitem uma redução significativa em termos de distorção e ruídos espúrios que os drivers tradicionais muitas vezes apresentam. E todas essas inovações não são gratuitas. Contamos com um corpo técnico muito focado para o desenvolvimento de novas tecnologias e novos produtos, que vão contribuir diretamente para obter sistemas de melhor qualidade técnica e de custo, mas sempre o principal beneficiado é o cliente.
Então, os componentes continuam a evoluir, mesmo que na aparência não se perceba muito, mas a performance no decorrer do tempo vai justificar essa evolução. Observamos que a indústria de componentes hoje está mais ligada aos fabricantes de sistemas do que ao usuário final. E isso se justifica na necessidade de o empresário da área de eventos ter de focar mais o evento como um todo do que os componentes que fazem parte do sistema, como falantes, cabos, amplificadores e outros. Ele precisa dar atenção ao produtor, aos artistas e ao público, e o sistema passa a ser uma peça de um grande evento, como luzes e estrutura, mas sempre uma peça importante.
Observamos que a tendência de mercado começa a ser a procura por sistemas menores, leves, eficientes e de uso simplificado, com desempenho igual ou superior aos antigos.
M&M: Se pudesse dar algumas dicas, como tanto o lojista quanto o fabricante podem lucrar mais com a venda/uso de falantes?
GB: Independentemente do produto em questão, o vendedor possui um papel importante em uma loja ou fábrica, pois ele passa a ser o consultor do cliente, e ao mesmo tempo o gerador de recursos para lojas e fábricas. Quanto melhores forem o conhecimento sobre o produto e o entendimento da necessidade do cliente, maior será a satisfação do cliente com a compra, pois como o nosso mercado se profissionalizou, a compra de um equipamento deixa de ser vista como um gasto para ser um investimento, então ele deve dar uma ideia clara ao cliente em termos de durabilidade, qualidade a ser esperada, limitações de uso e capacidade técnica do equipamento. Dessa forma, o cliente terá uma ideia clara sobre a limitação do sistema, assim como se ele poderá contar com esse equipamento por dois, cinco ou por mais anos, e isso faz muita diferença. Tenho certeza de que muitos clientes preferem fazer um investimento inicial maior, mas garantir que não terão de fazer reparações a cada dois meses e gastos que não terão como prever. Neste momento é que um vendedor pode fazer um cliente lucrar comprando o produto certo ou fazê-lo falir com custos altos de manutenção que ele não contabilizava em seus contratos de eventos. E quando um cliente tem sucesso, ele retorna e gera novas vendas para a loja ou fabricante, fazendo este prosperar, crescer e gerar mais lucros. Nesse sentido, a capacitação de vendedores é muito importante para transformá-los em consultores de vendas a fim de que saibam apresentar os diferenciais dos produtos e evitar que determinado cliente compre errado e crie prejuízos em vez de lucro.
M&M: Sobre materiais, o neodímio continua no topo? Há algum material ou tecnologia mais novo?
GB: O neodímio, em conjunto com o ferro e o boro, continua sendo o mais importante material para a produção de ímãs. Porém, as pesquisas não pararam e o ímã de neodímio evoluiu em algumas características, como temperatura de trabalho, resistência à corrosão, algumas novas formas geométricas possíveis e pequenas melhorias magnéticas, mas não o salto que foi do ferrite para o neodímio. Podemos ressaltar que o ímã de ferrite continua em alta também, pois alguns clientes observaram um timbre mais agradável em modelos que utilizam ferrite comparado à sua versão em neodímio.
M&M: Mudou alguma coisa na tecnologia da B&C desde a aquisição da Eighteen Sound?
GB: Não houve mudanças, até porque as duas empresas já possuíam muitas afinidades e as tecnologias eram bem conhecidas, então elas continuarão trabalhando separadamente. Após a aquisição, entendemos que a Eighteen Sound possui produtos com características próprias e que não poderíamos alterá-los sob o risco de a marca perder o seu perfil. Descobrimos que assim como dentro da B&C, existem clientes que apreciam características especiais de certos modelos. Não é diferente com os produtos da Eighteen Sound. Por esse motivo, o desenvolvimento das tecnologias seguirá em separado, de forma que o mercado possa contar com mais opções de produtos com timbres e performances diferentes. Seguiremos respeitando muito os desejos dos clientes e promovendo o crescimento de ambas as marcas.
M&M: O mercado brasileiro está se profissionalizando mais se comparado com alguns anos atrás. Quais as necessidades ou demandas dos clientes atualmente?
GB: O mercado nunca teve o conhecimento técnico tão disseminado quanto hoje, porém, nem todo conteúdo apresentado em palestras pelo Brasil possui o devido conhecimento de causa e muitas vezes pode gerar mais dano que benefício. Cabe a cada um avaliar se o que é apresentado é verdadeiro, assim como tudo na internet. Como estamos em uma nova era em que há uma abundância de informação, temos o dever de verificar o que será importante para o nosso uso profissional, pois envolve responsabilidade para o cliente ou contratante. O mercado com certeza está mais profissional — existe pouco espaço para amadores e quem não se aperfeiçoar ficará fora do mercado.
As demandas dos clientes em termos de produto é que ele supere expectativas e não gere custos de manutenção. E, como disse antes, é nossa responsabilidade sugerir o melhor modelo para cada aplicação, seja em termos de performance ou de necessidade de custo, mas devemos ser consultores de nossos clientes para garantir o seu sucesso. O meu sucesso é o sucesso do meu cliente!
M&M: A concorrência no País é grande, pois há várias marcas locais que também produzem componentes. O que a B&C está fazendo para se destacar?
GB: A B&C sempre focou o seu trabalho em qualidade, e infelizmente o custo é uma consequência da alta performance, então podemos afirmar que não temos um preço alto, e sim um custo alto! Mas se formos destacar, podemos dizer que temos três pontos fortes na B&C do Brasil e no mundo, que são: um ótimo relacionamento com clientes, seriedade em todos os negócios acertados e produtos de alta performance com qualidade. Não chegamos a ter concorrência direta com as marcas locais, e temos um profundo respeito por todas, mas possuímos nichos de mercado diferentes. Os nossos clientes exigem desempenho elevado, mesmo tendo um custo mais alto. O benefício acaba compensando muito em médio e longo prazo. No mercado em que as marcas locais atuam, o preço se faz importante, por isso temos dificuldade de penetrar nos canais de vendas varejistas. Contudo, possuímos um relacionamento muito bom com o mercado nacional, devido principalmente ao fato de termos uma estrutura própria no Brasil focada na venda dos produtos B&C, que oferece garantia de atendimento ao cliente (pós-vendas), peças de reposição em pronta entrega (reparos) e auxílio na criação de projetos com a correta indicação dos nossos falantes e drivers aos clientes, refletindo no grande diferencial da marca no mercado brasileiro.
M&M: Quais os benefícios que você destacaria de usar componentes da B&C?
GB: São vários, mas destaco três principais: o primeiro é a alta eficiência, a performance se faz notar de imediato; o segundo é a robustez bastante elevada, fazendo com que níveis de manutenção quase deixem de existir — mesmo possuindo peças de reparação disponíveis no Brasil, hoje temos uma grande quantidade de recones e diafragmas para reposição, até de modelos muito antigos; e o terceiro e talvez mais importante é a assessoria para novos projetos que damos aos clientes — tentamos de todas as formas atender às necessidades deles.
M&M: Que novidades em termos de produto a empresa está trazendo para o País?
GB: Em relação a novidades, podemos destacar três modelos que nos deixam muito otimistas pela performance e aplicação que possibilitam. O primeiro é o 10MBX64, pertencente à linha MBX, que traz uma performance superior aos 10” anteriores para aplicação em line array e caixas bas reflex de alta sensibilidade. Ele se destaca por uma sensibilidade de 100 dB e potência de 350 W Rms, e uma resposta de 65 a 6.000 Hz e com cone à prova d’água.
O segundo modelo é o DE780TN, um driver com diafragma de 3”, saída de 1,4” e 110 W Rms. A grande vantagem dele é que possui um tamanho menor que o nosso driver de 2,5” de diafragma, então conseguimos criar um driver de grande porte em um tamanho compacto, e isso resulta em uma redução de peso e custo sem perda de performance.
O terceiro modelo é o 18DS115, sendo o 18” com a maior força de nossa linha. Possui uma bobina de quatro camadas de 1.700 W Rms que nos proporciona um BL muito elevado, permitindo o uso em sistemas que possuam carga acústica elevada (caixa do tipo corneta, band-pass e híbridas), o que resulta em valores de SPL muito altos.