Nesta série de “Mitos e verdades” abordaremos tudo sobre os amplificadores valvulados. Não perca a primeira parte!
Poder escrever sobre amplificadores valvulados e eletrônica valvulada em geral é sempre uma oportunidade bacana para compartilhar experiências práticas e teóricas com os guitarristas e também com os amantes desse mundo eletrônico que sintetiza o melhor timbre de guitarra até hoje criado.
A internet abriu um leque enorme de divulgação de todo tipo de informação: a correta, a mais ou menos correta e até a incorreta inclusive e hoje não há quem não busque na internet a resposta para todo tipo de pergunta em qualquer segmento, sem exceção. Esse enorme poder informativo da internet deve sempre ser visto com certa cautela, principalmente quanto à fonte e origem da informação.
Inicialmente a informação técnica na internet vinha invariavelmente de um site ou página respaldada por um profissional da área e com muito conteúdo interessante. Num segundo momento muito dessa informação se dissipou em fóruns e redes sociais saindo da mão do profissional técnico e passando para o freqüentador do fórum ou rede que, por mais bem intencionado que seja, muitas vezes esquece de incluir o “eu acho que…” ou “eu ouvi dizer…” ou até mesmo “não tenho certeza mas…” em seus comentários. Isso pode ser devastador para quem lê e interpreta uma opinião pessoal como sendo uma verdade absoluta.
Essa série de artigos que iniciamos agora terá sempre o cuidado e a intenção de filtrar tudo que circula de informação sobre amplificadores valvulados em geral, ressaltar o que existe de correto tecnicamente, completar a informação incompleta e corrigir o que é essencialmente errado. Para isso vamos dividir o assunto em tópicos que serão abordados separadamente mas que também são inter relacionados.
Maior volume
Talvez o maior comentário que circula sobre valvulados é que eles sempre soam mais alto, com maior volume, quando comparados com um amplificador transistor de mesma potência. Isso será verdade? Por que?
Para responder essa questão é importante compreender o que é um espectro de freqüências. Ele nada mais é que a representação quantitativa de cada freqüência que compõe um sinal elétrico e também define o que conhecemos por timbre. O espectro de frequência também está relacionado com a energia que um sinal contém, quanto mais amplo o espectro mais energia esse sinal contém.
Mas por que existiria diferença de timbre ou de energia se o sinal tem a mesma fonte sonora, que é a guitarra, sendo injetada nos 2 tipos de amplificadores, o transistorizado e o valvulado?
Nenhum sistema de amplificação é 100% isento de distorção. Passar qualquer sinal elétrico por um amplificador é amplificar e ao mesmo tempo distorcer o sinal. A diferença é o tipo e a quantidade de distorção mas todos sem exceção distorcem.
Exatamente a diferença do tipo de distorção é o que responde a toda essa questão do volume. No amplificador valvulado para guitarra a preocupação nunca foi e nunca será criar circuitos com baixos níveis de distorção, pelo contrário, eles são os mais distorcidos com índices altíssimos em torno de 10% mesmo em se falando de timbre limpo enquanto amplificadores transistorizados ou solid state têm distorção harmônica na faixa de milésimos de 1% para citar os mais fiéis. Os de guitarra um pouco mais.
Distorcer é gerar harmônicos. Harmônicos são freqüências múltiplas da freqüência fundamental, a nota que a guitarra emitiu. O amplificador gera freqüências múltiplas da freqüência fundamental dentro do seu circuito, as válvulas geram, os transistores também geram e dessa forma se amplia o espectro de freqüências tornando esse sinal mais potente ou mais energizado se podemos dizer assim.
A maneira como a válvula faz esse tipo de distorção gerando harmônicos de ordem par majoritariamente e em maior quantidade torna o som do amplificador valvulado mais potente porque ele contém um sinal de espectro mais rico, mais abrangente e que consequentemente nos dá a nítida sensação de maior volume.
Vale ressaltar também que qualquer tipo de comparação direta de volume entre valvulado e transistorizado só pode ser levada em consideração se feita nas mesmas condições, ou seja, ligado no mesmo gabinete, mesmo alto-falante, usando a mesma guitarra e de preferência com o mesmo guitarrista. Qualquer coisa fora dessa condição traz o teste para a desigualdade de comparação.
A qualidade do alto-falante
Outra consideração importante é quanto à qualidade do alto-falante utilizado. O amplificador valvulado é o de maior qualidade que existe, a maioria deles destinada a uso profissional e por esse motivo eles costumam ser construídos com os melhores alto-falantes, mais sensíveis e com maior abrangência de frequências (espectro), melhor resposta. Essa diferença de qualidade é crucial também na comparação com amplificadores transistor quando o guitarrista compara o seu transistorizadinho velho de guerra com o valvulado novinho em folha.
Esse texto de forma alguma tem a intenção de encerrar este assunto, pelo contrário, ele mostra uma síntese do que ocorre na prática e eu me mostro sempre aberto a opiniões complementares e discordantes de quem quer que seja. O importante é trazermos as questões para serem discutidas e não tratar qualquer tipo de abrangência de determinado assunto como verdade absoluta.
No próximo texto vamos falar de watts, decibéis, volume e qualidade de timbre do amplificador valvulado. Até a próxima!