O reconhecido Master Builder de uma inumerável quantidade de guitarras e baixos Fender, John Cruz, conta sobre sua relação com a indústria e alguns dos seus destacados produtos
John visitou a América do Sul nos últimos meses e, durante uma conferência organizada pelo distribuidor argentino da Fender, a Todomúsica S.A., conseguimos entrevistá-lo e conhecer alguns dados interessantes sobre sua carreira e a construção personalizada dos instrumentos que cria.
Cruz começou a trabalhar na Fender em 1987, unindo-se ao Custom Shop em 1993 — a conhecida oficina de criação e construção de guitarras e baixos — e se tornou Master Builder em 2003.
Trabalhou em réplicas de guitarras de importantes artistas como a Stratocaster Number One de Stevie Ray Vaughan, e criou grandes modelos para músicos como Doug Aldrich (Dio, Whitesnake), Dave Amato e Bruce Hall (REO Speedwagon), Mick Mars (Mötley Crüe), Richie Sambora (Bon Jovi), Bono (U2), Duff McKagan (Guns N’ Roses), Ike Turner e Brad Whitford (Aerosmith). Vejamos a seguir como tudo começou.
Conte-nos sobre seu início na indústria.
Sendo guitarrista, tudo me levou a envolver-me com a indústria. Trabalhei em uma loja musical durante um curto período preparando os produtos novos, limpando guitarras e ajudando no que podia. O baixista da minha banda encontrou trabalho na G&L Guitars — empresa americana dedicada à fabricação de guitarras e baixos elétricos fundada por Leo Fender em 1980 —, perto da minha cidade de origem, e disse que talvez pudesse conseguir um emprego para mim lá, então foi para preencher uma solicitação. Disseram que não estavam contratando pessoal naquele momento, mas que haviam ouvido que a Fender estava contratando em Corona. Por curiosidade, decidi tentar e fiz uma visita pelas instalações, observei as pessoas e percebi que a energia que procurava estava definitivamente ali. Sabia que era o lugar para mim.
E foi nesse momento que contrataram você?
Foi, me disseram que tinham uma vaga na oficina de carpintaria para ajudar no que fosse necessário. Aceitei! Basicamente, tive que varrer o chão, classificar madeiras, trabalhar na serraria cortando madeira que eventualmente se tornaria parte das famosas Stratocaster, Telecaster e todos os baixos. Aprendi tudo o que pude sobre fabricação em um curto tempo, trabalhando com alguns dos melhores na indústria. Sentia que finalmente tinha encontrado um lugar que podia chamar de lar. Vinte e oito anos depois, ainda sinto a mesma coisa.
Como você se tornou um Fender Master Builder?
Foi um longo caminho. Aprendi tanto como pude de cada departamento onde trabalhei, dizendo a mim mesmo que tinha de ser o melhor. Todos os supervisores notaram meu desejo de aprender e de ser um líder. Foi por volta do meu terceiro ano na empresa que o gerente e cofundador do Custom Shop, John Page, se aproximou e me perguntou se estava interessado em entrar no Custom Shop. Disse que não tinha certeza de se naquele momento haveria muito trabalho e que poderia haver alguma demissão. Isso não era conveniente, pois precisava de um trabalho de tempo integral que me ajudasse a pagar o carro que acabara de comprar, então recusei a oferta. Depois me arrependi e pensei que nunca iriam me perguntar de novo. Simplesmente continuei aprendendo e fazendo o melhor que podia. Sabia dentro de mim que, algum dia, a oferta apareceria mais uma vez, e isso aconteceu em 1993. Pulei de entusiasmo com a oportunidade e honestamente nunca me arrependi.
Como você se inspira na hora de criar uma guitarra?
Minhas inspirações podem vir de qualquer coisa que me interesse no momento. Desde uma motocicleta Mini Chopper e um set Mini Strat até um rack em up Tele que incluía uma guitarra pintada personalizada para homenagear a indústria da sinuca, que também tinha um grupo de bolas de sinuca e um taco. Minha recente viagem pela América do Sul foi a primeira na minha carreira. As coisas que vi, as pessoas que conheci têm me dado uma profunda inspiração para fazer um instrumento muito especial para elas em breve. Aguardem as novidades!
Qual foi o modelo mais difícil que já fez?
A série de tributos a artistas para mim sempre é a mais difícil de reproduzir, porque muitas pessoas sabem como se vê a guitarra em um nível geral, mas usualmente tenho a melhor visão dela, que me permite recriar a magia especial do instrumento. Aplicar todos os anos e cicatrizes de batalha em uma guitarra nova básica não é uma tarefa fácil, mas sempre estou disposto a enfrentar o desafio.
Das que você tem feito, qual é a sua preferida?
Neste momento estou pensando na SRV Number One. Essa guitarra quase me leva para o cemitério, mas honestamente foi um de meus projetos favoritos. Também fiz a Muddy Waters Tele, a primeira edição da Rory Gallaghers Battered 1961 Strat, a Jeff Beck Esquire Yardbirds Tele, a Yngwie Malmsteen Duck Strat, a John Mayer Number One e muitas outras. Todas me trouxeram muita curtição e prazer pessoal, pois sou fã de todos esses artistas. O tributo mais recente no qual trabalharei será a Holy Grail, pois ele é o meu guitarrista preferido de todos os tempos do mundo inteiro. Será um projeto muito emocionante para mim, pois verei a guitarra pela primeira vez em breve. Desde que o vi em um concerto há muitos anos, seu show me fez pular da poltrona e percebi quem é o verdadeiro guitar hero. Conhecer a família dele e discutir minhas ideias para honrar o meu herói caído, o sr. Gary Moore e sua batalhada Faded Fiesta Red Stratocaster de 1961, será incrível. Mal posso esperar para começar. Esse será, sem dúvida, o destaque da minha carreira na Fender.
Você deve estar em contato constante com usuários e músicos. Que tendências está percebendo?
Sim, estou em constante contato com nossos clientes, artistas e músicos. A única tendência que vejo é que a música está mais forte do que nunca e as pessoas querem as melhores ferramentas para criar sua arte. Fico feliz em saber que, de certo modo, posso ajudar a satisfazer suas necessidades. Podem ter certeza de que há mais ideias tomando forma na minha mente e estarei aqui com vocês quando estiverem prontos para mais.