O mercado da música tem sido altamente afetado pela pandemia. Adaptação virou palavra-chave para varejistas, fabricantes, distribuidoras e profissionais da música. Qual é o futuro do mercado?
O ano de 2020 começou com muitos projetos e objetivos a serem alcançados pelas empresas. Nesse meio-tempo, uma notícia começa a tomar relevância: na China, um novo vírus, nomeado de Sars-CoV-2, começa a se alastrar, causando a epidemia da Covid-19.
Os primeiros impactos no Brasil
As autoridades chinesas entram em alerta e prolongam o feriado do ano-novo chinês e as férias escolares. As fábricas de instrumentos musicais e áudio começam a atrasar suas produções e entregas das programações de compra.
O setor de entretenimento, festas populares como o Carnaval e o turismo estavam funcionando normalmente, até que em março o primeiro caso de Covid-19 foi detectado no Brasil. A partir de então, o mercado mudou.
Em março, a primeira medida das prefeituras e governos estaduais foi a proibição e o cancelamento de shows e atividades relacionadas ao mercado de entretenimento, bem como o funcionamento de igrejas. As vendas e o setor de serviço desse segmento começam a sofrer as consequências. De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae, em junho, a pandemia do coronavírus afetou 98% do setor de eventos.
De acordo com estudo da Música & Mercado junto aos fornecedores, a previsão de fechamento do comércio no setor pode chegar a 25%. Paralelamente a isso, novos entrantes no varejo estão iniciando operações digitais.
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Adaptação no mercado da música
LOJAS E VENDA ON-LINE
O isolamento social acelerou o processo de mudança para o ambiente digital que já estava em andamento. As lojas que possuíam estrutura de venda on-line mantiveram suas atividades sem interrupção e passaram atender a demanda reprimida pelo fechamento temporário de muitos comércios. Outros comerciantes optaram por trabalhar com meia porta aberta, atendimento via WhatsApp e Instagram.
Depois, algumas cidades e estados passaram a permitir a reabertura do comércio com determinadas regras para o atendimento ao público.
Márcio Parente, da rede de lojas Songs, no Tocantins, contou: “O faturamento chegou a cair 60% no primeiro mês da pandemia, no segundo, 50%. Tivemos que tomar algumas decisões para continuar, como redução de 50% dos funcionários e afastamento de outros, colocando-os de férias e recebendo ajuda do governo”.
Por outro lado, a atividade no ambiente digital cresceu. “Além disso, aumentamos a mídia social, onde começamos a ver melhor resultado no final do segundo mês. No terceiro mês começou a melhorar, chegando a 70% do faturamento. O mercado deu uma boa reagida com a volta do atendimento presencial, mas o que mais dificultou na nossa região foi o fechamento das igrejas e bares, que geram 80% do nosso faturamento. O que vem agora? Minha expectativa é que com a alta do dólar e o retorno lento dos eventos, possamos voltar a 100% do nosso faturamento em dois meses. Nosso foco continua no on-line, embora seja muito difícil, pois a concorrência é muito forte. Mas temos a vantagem de ter uma entrega bem rápida em nossa região, sem falar na assistência técnica”, explicou Márcio.
Wallace Vieira, sócio-proprietário da rede de lojas Music Store, no Espírito Santo, conta que antes da pandemia já tinha fechado uma loja e agora “estamos nos reinventando, mudando o foco. Continuamos com três lojas físicas, mas a grande novidade é que criamos um app para que nossos clientes possam comprar on-line”, enfatizou. O aplicativo tem como intuito facilitar a compra de produtos por parte do consumidor final, disponibilizando o catálogo completo da empresa e a descrição de cada produto.
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A venda on-line também passou a ser um recurso usado para venda direta pelos fabricantes brasileiros. Exemplo disso é a Cajon Percussion, que abriu essa possibilidade para seus clientes, como canal de vendas alternativo, por causa da queda nas vendas para as lojas tradicionais.
Rafael Gomes, CEO da Cajon Percussion, explica: “Existe uma tendência mundial de as marcas terem suas próprias lojas on-line, e há muito tempo eu queria fazer a nossa, mas não tinha feito ainda em respeito ao meu modelo de negócio, que é B2B. Mas a situação ficou difícil, como todos sabemos, e foi preciso criar um segundo canal de vendas, ou seja, o canal de venda direta ao consumidor final”.
Na nova loja virtual estão sendo praticados preços equivalentes ou até mais altos do que os praticados nas lojas com as que a empresa trabalha. “Acho que é uma tendência que veio para ficar. Continuo vendendo para as lojas, mas acho que isso não vai atrapalhar o negócio com essas lojas, para as quais a gente dá uma margem excelente. Acho que uma coisa até fortalece a outra. A vantagem para o consumidor final é que na nossa própria loja virtual tem todo o catálogo disponível para pronta entrega”, destacou Rafael.
Segundo pesquisa da E-Commerce Brasil, as compras on-line devem gerar faturamento de R$ 90,7 bilhões em 2020, crescimento de 21% em relação ao ano passado.
Mauro Bernardes, proprietário da Importadora Dreamer, no Rio Grande do Sul, deu um conselho para os lojistas: “Continuem acreditando na sua capacidade de fazer as coisas acontecerem. Ser lojista em nosso país é para poucos e nunca nada foi fácil, nem será agora. Mas todos já nos acostumamos com isso, somos empreendedores brasileiros, com todo esse emaranhado tributário, e mesmo assim sempre seguimos em frente. Acredite em você. Quem abaixa a cabeça é atropelado pelos que vêm de cabeça erguida. Seja um dos que conseguem ver oportunidades nisso tudo. Elas existem, pode apostar”.
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FABRICANTES & DISTRIBUIDORAS
De forma semelhante às lojas, as fábricas e distribuidoras também tiveram que fechar durante os primeiros meses para evitar possível contágio do coronavírus.
André Teixeira, gestor de marketing e P&D da fabricante de áudio Frahm, reconheceu que “assim que a quarentena iniciou, rapidamente entendemos que seria um processo longo. Criamos alguns cenários para tomada de decisão. De todos eles, optamos por trabalhar com o cenário que chamamos de pessimista. Dessa forma, refizemos todo o nosso planejamento do ano de 2020 considerando essa realidade. Também se fez necessária uma reestruturação interna para enfrentar a pandemia, bem como o uso de férias, redução de jornada e suspensão de contrato de trabalho. Nossas vendas e faturamento ficaram bem comprometidos nos meses de março e abril, mas, por outro lado, estávamos bem abastecidos dos produtos produzidos em nossas plantas externas, o que nos deu um fôlego e fez com que não tivéssemos ruptura na disponibilidade de produtos”.
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“A pandemia antecipou um processo de mudança que já estava em curso. O que iria acontecer daqui a uns três anos foi antecipado para 2020. Agora não separamos mais o on-line do off-line, tratamos tudo como algo unificado. A pandemia está mudando nossos hábitos e comportamentos, e acreditamos que essas mudanças serão nossa nova forma de condução dos negócios, não retornando ao que acontecia antes da pandemia”, concluiu.
Na fábrica da Luen também se viveram momentos de incerteza. Tiago Rausini, gerente de marketing e comercial da fabricante de percussão, explica: “Não tínhamos uma visão clara do impacto que isso causaria, pois não existia um tempo estabelecido para a normalização. Então foi um momento de planejamento profundo, em que criamos dezenas de estratégias para todos e possíveis cenários que pudessem acontecer. Para nós, o primeiro quadrimestre costuma ter uma demanda menor, portanto conseguimos manter um excelente resultado dentro do que poderia acontecer nesse momento de recessão de maneira menos prejudicial, conseguindo fechar o semestre de maneira positiva em vista da realidade do mercado”.
O que acontecerá nos próximos meses? Tiago disse que “o mercado terá que se remodelar. Ficou claro que a atual forma de gestão de grande parte das empresas não condiz com a necessidade e realidade desse e de outros mercados. Novas práticas, políticas e modelos de negócio surgirão naturalmente de maneira antecipada, coisa que já era realidade em outros países”.
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A situação foi similar na distribuidora ProShows, que conseguiu se adaptar graças a um detalhado planejamento estratégico de longo prazo, que cobria sistematicamente possíveis ameaças, riscos e oportunidades. “Obviamente não tínhamos como prever esta pandemia e suas consequências. No entanto, sempre nos mantivemos enxutos, bem capitalizados e com um plano básico de contingência em caso de abruptas oscilações de mercado. Dessa forma, conseguimos nos mobilizar com muita rapidez e absorver os impactos com um pouco menos de severidade”, conta Vladimir de Souza, presidente da empresa. “Implementamos um plano de emergência que incluiu a receita básica aplicada por quase todos: redução de custos, renegociação de contratos, criação de formas alternativas de negócios e assim por diante.”
“Nos primeiros dias, a redução na venda foi muito expressiva em razão do caos que se instalou no setor. À medida que os dias foram passando, no entanto, os negócios foram sendo retomados e, na metade de abril, encontramos formas alternativas que nos permitiram ampliar bastante as vendas. É claro que as vendas nas lojas físicas continuarão, mas o caminho omnichannel parece ser cada vez mais inquestionável. Por fim, vale destacar o provérbio popular que diz: “Enquanto uns choram, outros vendem lenços”, finalizou.
Outra distribuidora que projetou diferentes cenários, do mais pessimista ao mais otimista, foi a C.Borges Import. “Depois dessa análise, arregaçando as mangas e contando sempre com o apoio de todos os nossos colaboradores, colocamos os estudos em prática e conseguimos colher bons frutos”, detalha Elton Borges, diretor da empresa.
Nos primeiros meses, a C.Borges teve certa retração nas vendas, mas vários fatores colaboraram para que essa queda não tenha sido muito significativa. Elton explica: “Para citar algumas: nosso grande mix de produtos, que abrange itens afetados e não afetados pela pandemia e engloba as linhas de instrumentos musicais, áudio profissional, navegação (GPS, sonares etc.) e comunicação (rádios comerciais, amadores e marítimos), novas marcas incorporadas ao nosso portfólio, tais como a PreSonus, o aumento significativo na procura por instrumentos musicais e equipamentos para gravação e transmissão ao vivo”.
Atualmente a empresa nota uma retomada, ainda que tímida, do mercado de áudio profissional, que foi o mais afetado com a pandemia, enquanto o mercado de instrumentos musicais continua forte e com tendência a crescer, junto com os equipamentos para home studio, arrastados por uma nova realidade: a produção de conteúdo de “dentro de casa”.
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Exatamente sobre isso, Gus Lozada, da PreSonus, confirmou à Música & Mercado: “No geral, empresas como a PreSonus, que vendem equipamento para estúdio, estão tendo vendas recorde nos EUA e na Europa. Todo mundo está louco por comprar interfaces e monitores pequenos, o que foi muito bom como empresa, mas tem que esclarecer que a Europa e os EUA estão prontos para o e-commerce. A América Latina perdeu totalmente a oportunidade de ouro de fazer dinheiro nesses meses por ter medo de investir”.
Júnior ‘Maligno’ Parollo, diretor geral da Pro3000 Multimeios, rede colaborativa de profissionais que presta consultoria em áreas ligadas à comunicação, cultura e empreendedorismo, comentou: “Somos prestadores de serviços, promovemos atividades artísticas e somos professores. Nos serviços prestados a bares ou aulas de música, a queda foi praticamente a zero. Nas consultorias, cerca de 50%, mas conseguimos melhorar processos e criar oportunidades com a crise, pois a única opção foi desenvolver novas capacidades e promover novos serviços que até então não estavam em nossa programação, para o negócio sobreviver. Lançamos novos produtos, serviços e canais com alguns clientes e fortalecemos a presença on-line das marcas envolvidas”.
Para o Grupo Classic (Michael, Vogga e Serenata), a situação foi pior porque a empresa fica em Belo Horizonte/MG, cidade que sofre a maior “quarentena” do País. “O nosso primeiro olhar foi para as pessoas. Rapidamente nos organizamos para entender o cenário e cuidamos de fazer os ajustes necessários, colocando parte da equipe em home office e tomando as medidas de proteção para os colaboradores que permaneceram na empresa. No caso do varejo (Serenata), estamos fechados desde 20 de março — são 140 dias de isolamento (até o dia desta entrevista)”, conta Rogerio Garcia Bousas, CEO. “No mês de abril fizemos uma previsão de faturamento zero, mas conseguimos fazer 25% da receita orçada. Em maio alcançamos cerca de 50% da receita orçada e, em junho, aproximadamente 80%. Para o mês de julho temos boas perspectivas de melhora.”
“É o que sempre dizemos no Grupo Classic: problema a gente não lamenta, a gente resolve! Hoje podemos dizer que estamos melhores do que quando começamos. Já conhecemos melhor o comportamento do vírus, melhoramos nossos protocolos e podemos cuidar com mais segurança das pessoas e também dos negócios. Estamos trabalhando com a expectativa de um segundo semestre melhor, tendo sido os últimos meses de enormes desafios e aprendizados”, adicionou. “Acreditamos fortemente na capacidade de adaptação do ser humano. Empresas mais resilientes vão se adaptar e continuar — em nossa opinião, a maior parte dos negócios seguirá esse caminho. A nossa visão é de que tudo isso vai passar, deixando grandes aprendizados para todos.”
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FABRICANTES MUDANDO O FOCO
Por outro lado, houve fabricantes que, por falta de vendas, decidiram momentaneamente mudar sua produção para itens relacionados com a pandemia. Foi o caso da Art Show, RMV, AVS, IBOX, Izzo e PHX, que nos primeiros meses focaram a criação de máscaras e protetores faciais.
“Vendo a necessidade do mercado, a falta desse equipamento para os profissionais de saúde, decidimos tentar ajudar de alguma forma e também ajudar nossa empresa para não dispensar nossos colaboradores”, destacou Adriano Moretti, diretor da IBOX. “O nosso faturamento caiu muito, em torno de 60%, e os protetores faciais vieram em uma boa hora para ajudar nas despesas e também nos salários dos colaboradores.”
“Logo que se iniciou a paralisação, os funcionários entraram de férias. Em seguida, aderimos à redução da jornada de trabalho, porém, mesmo assim ainda tínhamos um time grande e sem movimento na empresa. Quando todos voltaram, pensamos nas medidas de segurança, para que não houvesse aglomeração nos setores. Intercalamos os horários dos grupos de trabalho, providenciamos máscaras, disponibilizamos álcool em gel e foi aí que surgiu a ideia do face shield, a princípio para uso próprio, mas depois alguns representantes sugeriram agregar ao portfólio”, comenta Luciana Chen, diretora comercial da PHX Instrumentos.
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Certamente o foco da empresa continua sendo os instrumentos musicais, retomando a produção mais recentemente. “Acreditamos que o mercado da música voltará com mais força. Vimos um grande número de pessoas que tirou da gaveta aquele sonho de tocar um instrumento, aquele projeto ou hobby que estava em segundo plano e certamente durante o isolamento social se tornou um passatempo prazeroso para muitos”, adicionou.
EVENTOS
Desde o começo da pandemia foram cancelados todos os tipos de eventos presenciais. Teatros, arenas, salas de todos os tamanhos viram suas atividades totalmente paradas. Certamente foi um dos setores mais atingidos pela pandemia, com faturamento zero, milhares de profissionais e empresas sem trabalho.
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Afortunadamente, desde o começo da pandemia, diversas organizações iniciaram um movimento para que o governo ajudasse esse setor, e finalmente em julho foi sancionada a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Ela estabelece um conjunto de ações para garantir uma renda emergencial para trabalhadores da cultura e a manutenção dos espaços culturais brasileiros durante o período de pandemia. Os trabalhadores da cultura, ou seja, pessoas que participam da cadeia produtiva de segmentos artísticos e culturais, incluindo artistas, produtores, técnicos, curadores, oficineiros e professores de escolas de arte, são o alvo dessa lei, cobrindo também os espaços culturais.
Aleksander Gama, técnico de áudio, vídeo e informática, opinou: “Já é sabido que as lives e transmissões on-line jamais substituirão o volume de trabalho que tínhamos antes. São apenas uma maneira de fazer uma pequena parte da equipe trabalhar (nem que sejam apenas três ou quatro dias no mês), pois não conseguimos ter a mesma quantidade de equipamentos, profissionais envolvidos, tampouco faturamento que realmente justifique os investimentos feitos até o momento no nosso segmento, além de movimentar um percentual muito pequeno do nosso setor (quase zero), mas é o que temos além dos cines drive-in, que estão começando a aparecer”.
“É muito fácil ver pessoas falarem em ‘novo normal’ e se ‘reinventar’ do que realmente fazerem algo para mudar ou ajudar nosso mercado, mas, na verdade, acredito que temos de nos adaptar a esse novo momento, pois, como já falei antes, não estou vendo nada de novo, apenas formas diferentes e adaptadas de fazer as mesmas coisas que já fazíamos antes”, agregou.
Tendo em vista tudo isso, os profissionais do mercado de eventos, designers, técnicos, roadies, fornecedores de equipamentos, locadoras se reuniram no começo de agosto para realizar uma passeata com cases em São Paulo, pedindo um plano emergencial que ajude tanto empregadores quanto empregados. O pleito foi entregue para órgãos municipais, estaduais e federais.
A vida digital e os eventos on-line são uma realidade imposta pela pandemia, não só no mercado de música e shows, mas em todos os setores da nossa sociedade, de escolas e universidades a empresas realizando reuniões e lançamentos de produtos de forma virtual.
Pensando nisso, várias empresas de produção técnica começaram a vislumbrar a possibilidade de se organizar, fazer parcerias e criar novos negócios a fim de oferecer serviços para as agora populares lives.
Na Bahia encontramos a nova Live Solutions, ideia do empresário e lighting designer Junior Luzbel, proprietário da reconhecida empresa Luzbel Tecnologia em Eventos, cuja matriz fica em Salvador (BA), mas trabalha com empresas e artistas de todo o País.
Vendo o estoque de equipamentos parado juntando poeira, além da escassez de dinheiro rondando a empresa, Junior pensou na tendência de fazer tudo virtual e projetou a Live Solutions. “O galpão estava cheio de equipamentos de ótimo nível. Sabemos que não é bom ter equipamento parado porque estraga e acabamos perdendo o nosso investimento. Além disso, precisamos trabalhar”, disse. “Hoje as pessoas estão procurando entretenimento na internet e percebemos que um novo modelo de negócio estava surgindo.”
Para oferecer soluções completas para produções e infraestrutura na internet, a Luzbel fez parceria com a Cenograph, a Hall Vídeo e a ITS. “Conseguimos oferecer tudo para o cliente, seja live, aulas on-line, reuniões virtuais, lançamentos de produtos, e-games, leilões e outros, seguindo estritas normas de segurança e salubridade. Estamos tendo um bom resultado, com consultas de diferentes artistas, escolas e empresas de todos os segmentos”, finalizou Junior.
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Em São Paulo, as empresas Crialed Produções Visuais e Eventos, Loudness Ltda., LPL Professional Lighting e Alliance BR uniram seus recursos também para fornecer produção técnica a eventos virtuais.
Com atenção especial aos protocolos recomendados para manter a saúde e a segurança de todos os envolvidos contra a Covid, a React Brasil oferece toda a estrutura necessária para live streaming: montagem de palco em um estúdio com tecnologia audiovisual completa e solução digital para transmissão ao vivo de eventos virtuais, sejam corporativos, publicitários ou artísticos.
A ideia da React é cobrar preço de custo para poder pagar cachês e salários, mas em contrapartida o cliente se compromete a gastar 20% da verba dele do projeto em cestas básicas.
Outro exemplo de adequação em São Paulo é o Backstage Studio Hall, um estúdio de gravação que adaptou suas tecnologias para poder fazer transmissão dos shows ao vivo.
O local conta com toda a infraestrutura necessária para fazer todo tipo de eventos: palco, som, iluminação, painel de LEDs, backline, camarins. “Temos um técnico em saúde exclusivamente para acompanhar a higienização de pessoas e equipamentos, de acordo com as recomendações da OMS, sempre respeitando uma distância mínima e utilizando máscaras e álcool gel em todas as etapas da montagem e apresentação. Nos camarins, o ambiente tem acesso controlado e tudo é devidamente higienizado para que cada artista fique em ambiente seguro e separado”, conta Ricardo Nolf, um dos idealizadores do Backstage Studio Hall.
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DRIVE-IN
O sistema drive-in não é novidade, pois existe há muito tempo, mas foi a pandemia que fez o formato ressurgir e se apresentar como a melhor chance para a indústria do entretenimento voltar a trabalhar… e cada vez estamos vendo mais.
O Allianz Parque, em São Paulo, se adaptou para oferecer o espaço apropriado para realizar shows ao vivo e projeção de filmes para aproximadamente 250 carros, com um máximo de quatro pessoas cada. Nesse formato, uma das primeiras a se apresentar foi a banda Jota Quest, com bastante sucesso. Fora do estádio, funcionários checavam os ingressos e a temperatura das pessoas que estavam dentro dos carros. Dentro do estádio, as vagas estavam demarcadas por grade e, ao lado da janela de cada carro, foram instaladas caixas de som. O palco, por sua vez, não tinha teto para não atrapalhar a visão, que era boa mesmo para quem estacionou na última fileira, além de uma tela de LED que ajudava a ver a ação no palco.
O Memorial da América Latina, também em São Paulo, inaugurou em junho o Belas Artes Drive-in, espaço criado para projeção de filmes que o público assistirá também dentro de seu próprio carro, respeitando o isolamento social.
Todos os espaços seguem rigorosamente os protocolos de segurança e saúde determinados para combater o coronavírus, com regras de distanciamento social, higiene, limpeza de ambientes, comunicação e monitoramento. Entre os cuidados obrigatórios estão a distância mínima de 1,5 metro entre pessoas e carros em todos os ambientes, máximo de quatro ocupantes no carro, pagamento via aplicativo, exigência do uso de máscaras e aferição de temperatura de funcionários e clientes.
Outra opção, também em São Paulo, é o Arena Estaiada Drive-In, projeto criado pelos sócios Bob Dannerberg, Fernando Ximenes e Thiago Armentano que foi inaugurado em junho. O local possui uma área de 5.000 m², onde podem ser estacionados até cem carros por sessão. As vagas são por ordem de chegada, e os automóveis maiores são direcionados para a parte do fundo, para facilitar a visão geral.
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Em julho foi inaugurado em São Paulo o Super Cine Espaço das Américas, que apresenta uma app com uma fila virtual até para utilizar o banheiro. Mais opções em São Paulo são o Senhor Boteco Drive-in, em São Caetano do Sul, e a Arca, onde foi realizada uma mostra de arte drive-in.
Em Santa Catarina estão sendo realizados shows ao vivo seguindo o mesmo formato no Arena Petry. Em Porto Alegre foi inaugurado o Poa Drive-In Show.
No Rio do Janeiro, encontramos a Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, que está se preparando para apresentar não só filmes, mas também shows drive-in.
Mais recentemente até foi feita uma versão de show drive-in 360° em Piracicaba (SP). O projeto foi realizado para a gravação do novo DVD da dupla Guilherme & Benuto.
PRODUÇÃO MUSICAL – OS ESTÚDIOS
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A situação foi similar para os estúdios de gravação. Parados nos primeiros meses, depois começaram a se adaptar e preparar o ambiente para receber artistas seguindo todas as regras sanitárias.
Alguns estúdios inclusive começaram a fazer processo de produção on-line, como o Medisen Studios de Belo Horizonte (MG). O sócio-fundador Pedro Peixoto, que é produtor musical e engenheiro de mixagem e masterização, conta: “Normalmente recebemos os artistas dentro do estúdio e começamos pela pré-produção. Nesse processo definimos a estrutura da música, assim como o andamento e o melhor tom para o(a) cantor(a). Então seguimos para a música guia, registrando isso dentro de um software de gravação de áudio. O próximo passo é gravar todos os instrumentos separadamente, recebendo os instrumentistas para gravar seus respectivos instrumentos. Depois vêm a edição, a mixagem e a masterização, em que tudo é feito digitalmente”.
“Agora, com o confinamento, foi preciso readaptar todo esse processo, e conseguimos otimizar a produção, por incrível que pareça! A parte da pré-produção é feita remotamente, por meio de uma chamada de vídeo na qual transmitimos o áudio em tempo real e alta definição para nossos clientes poderem acompanhar o processo da estruturação da música. Seguimos então para as gravações individualizadas, também transmitidas remotamente para o cliente. De certa forma, perde-se o encanto de estar dentro de um estúdio e usufruir um espaço criativo colaborando com outras pessoas ao vivo, mas, por outro lado, ganha-se tempo, economiza-se deslocamento e conseguimos aumentar nossa produtividade em alguns casos”, completa.
Também há estúdios que adaptaram sua estrutura para garantir segurança à saúde de quem decidir fazer seu projetos de forma presencial.
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O que podemos esperar?
De acordo com o diretor de emergências da OMS Mike Ryan, o coronavírus fará parte do nosso cotidiano e a humanidade deverá conviver com ele, assim como convive com outros vírus.
Doug Stephens, conhecido como o “Profeta do Varejo”, disse: “Você precisa planejar para o pior cenário possível. Não sabemos quando a vacina aparecerá. Pode ser neste outono. Pode ser nunca. E se este for um normal estendido e não o novo normal?”.
Sem ser pessimistas, nem esquecer os diferentes cenários difíceis que ainda vamos atravessar, devemos, sim, pensar em formas diferentes para nos reinventar, confiar na mistura entre o tradicional e a tecnologia, atuar, reagir e continuar lutando por nosso espaço no mercado.
Como disse George Millard, engenheiro mecânico e CEO da startup de tecnologia Mozaiko: “Tecnologia é fundamental, mas não resolve sozinha se não houver uma estratégia contínua, que mostre o caminho das melhores oportunidades para agregar valor. Não podemos deixar de fora um passo crucial: a execução. Extrair os melhores resultados da tecnologia, com a execução e a implementação de uma estratégia escolhida, é o verdadeiro desafio da maioria das empresas. Assim, a tríade tecnologia, estratégia e execução devem andar juntas. Caso contrário, são apenas sonhos”.
Nesta pandemia, o varejo, distribuidores e consumidores mudaram sua forma de interagir e fazer negócios. A tecnologia não regride, somente avança, portanto, modelos de negócios híbridos e multicanais minimizam o risco e aumentam a possibilidade de atingir novos mercados.
No final de 2024, a ProShows, distribuidora da Behringer no Brasil, fez um anúncio significativo: a redução progressiva de até 40% dos preços da marca para revendedores e consumidores. Mais do que uma simples mudança comercial, essa decisão reflete um reposicionamento global da empresa em um setor que passa por acelerada transformação, afetando tanto a própria marca quanto o varejo.
A nova dinâmica do mercado de áudio
Desde sua fundação em 1989, a Behringer revolucionou o mercado de áudio ao oferecer equipamentos acessíveis, democratizando o acesso a tecnologias antes restritas a poucos. Esse modelo de negócio permitiu um crescimento exponencial, culminando na aquisição de marcas icônicas como Midas e TC Electronic. Contudo, o panorama competitivo mudou drasticamente.
A ascensão de fabricantes chinesas em marketplaces globais, como AliExpress, Shopee e Mercado Livre, tem forçado uma reavaliação estratégica. Estudos da revista Música & Mercado indicam que pelo menos 50% dos equipamentos de áudio mais vendidos no AliExpress são enviados diretamente da China para o Brasil, muitos sem marca reconhecida, mas com avaliações positivas dos consumidores. Esse modelo de venda direta impacta diretamente o varejo tradicional, colocando distribuidores e lojas que investem em estoque local e atendimento ao cliente em desvantagem.
Nesse contexto, a decisão da ProShows de repassar a redução de preços dos produtos Behringer deve ser vista como um esforço significativo para manter a competitividade. No entanto, é fundamental que os lojistas também façam sua parte e comuniquem ativamente essa redução de preços ao consumidor final. Sem uma comunicação clara, potenciais clientes da Behringer podem continuar buscando produtos similares nos marketplaces chineses, simplesmente por desconhecerem essa nova estratégia.
Essa mudança não se trata apenas de baixar valores, mas de valorizar a compra em lojas locais, tanto físicas quanto digitais, garantindo que o mercado brasileiro permaneça forte e competitivo diante do avanço das vendas diretas internacionais.
“Enxergamos uma perspectiva inédita de avanço na participação de mercado do Music Tribe no Brasil para 2025. Apesar de existir um tempo para que as reduções reflitam integralmente no mercado, em apenas 4 meses nossas vendas cresceram mais de 50%.”Gabriel Pinto – Diretor Comercial da Proshows
A reação da Behringer
Uli Behringer, fundador e CEO da empresa, se destaca por sua abordagem centralizadora e obsessão por eficiência. Diferentemente de outros líderes do setor de tecnologia, como Elon Musk ou Tim Cook, que equilibram inovação e estratégias de relacionamento corporativo, Behringer prioriza o controle total sobre as operações, focando em automação industrial e na redução de intermediários. Seu estilo hands-on e sua resistência a concessões podem ser um diferencial, mas também levantam questionamentos sobre a capacidade da empresa de se adaptar a um cenário de consumo cada vez mais digital e colaborativo.
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Por meio do conglomerado Music Tribe — que controla diversas marcas, incluindo a Behringer — a empresa vem anunciando constantes melhorias em seus processos de produção. Em 2024, prometeu investir mais de US$ 100 milhões em automação industrial, incluindo novas máquinas SMT da Panasonic e um sistema de inspeção óptica com suporte de inteligência artificial. O objetivo é claro: reduzir custos e manter a competitividade em um setor onde os preços estão cada vez mais comprimidos.
Se antes a Behringer ocupava a posição de disruptora ao oferecer qualidade a preços acessíveis, hoje ela precisa se defender de concorrentes menores com estratégias de fixação de preços agressivas. Em um mercado cada vez mais pautado por preços e avaliações online, a empresa enfrenta uma reconfiguração nas decisões de compra do consumidor.
O próprio Uli Behringer enfatizou: “Estamos atualmente construindo a fábrica mais avançada do mundo, a Indústria 5.0, para aumentar a eficiência e a qualidade, permitindo ainda mais reduções de preços no futuro.” Ele também acrescentou: “Focamos especialmente em músicos em regiões emergentes, onde a pobreza muitas vezes limita o acesso a instrumentos. A América Latina é um desses mercados, e você (Música & Mercado) entende suas necessidades únicas.”
O desafio da relevância
Outro ponto crucial é a variação nas estruturas de venda entre diferentes países. Embora a digitalização das compras seja uma tendência crescente, mercados como o brasileiro ainda demandam uma estratégia híbrida. Para manter a liderança, é essencial unir lojas físicas a uma exposição adequada, treinamentos e endorsers, além de garantir uma estratégia de preços coerente entre os canais, equilibrando o ponto de venda com a experiência digital.
Além da pressão de preços, a Behringer enfrenta desafios na comunicação com o mercado. Nos últimos anos, a empresa se distanciou de eventos globais importantes, como NAMM, ProLight & Sound e Music China, reduzindo o impacto de sua presença entre distribuidores e formadores de opinião. Em um setor em que a reputação é fundamental, essa estratégia pode ter sido um equívoco.
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Hoje, principalmente entre consumidores mais jovens, as decisões de compra são fortemente influenciadas por avaliações em marketplaces e por criadores de conteúdo digital. Produtos desconhecidos, mas bem avaliados, podem competir de igual para igual com marcas tradicionais. Ao confiar excessivamente no peso de seu nome, a Behringer abriu espaço para concorrentes menos conhecidos, mas altamente engajados na esfera digital.
Um novo capítulo para a Behringer
Reconhecendo a necessidade de reaproximação com o mercado, a empresa retomou a participação em grandes feiras do setor e busca manter uma presença mais ativa nas redes sociais. Porém, basta uma simples busca por “two channel audio mixer” no YouTube para ver inúmeras opções de marcas chinesas. Recuperar sua base de consumidores é essencial para que a gigante Behringer não seja “engolida pelos pés”.
Entretanto, essa missão não será simples. A redução de preços e os investimentos em automação são passos importantes, mas não bastam por si sós. A disputa atual é pela percepção do consumidor. A Behringer precisa reconstruir sua narrativa e se adaptar à nova dinâmica digital para manter relevância e lucratividade nos próximos anos.
Se há algo que a trajetória da empresa nos mostra, é que a marca sempre encontrou maneiras de se reinventar. Contudo, o cenário atual exige uma adaptação mais ágil e estratégica. Com a crescente concorrência das fabricantes chinesas e a evolução do comportamento do consumidor, a Behringer não só precisa ajustar seus preços, mas também fortalecer sua presença digital, estreitar relações com lojistas e distribuidores e investir em inovação. Se conseguir alinhar essas estratégias às demandas do setor, poderá não apenas recuperar sua posição de destaque, mas estabelecer um novo padrão de competitividade para os próximos anos. Resta saber se, desta vez, ela conseguirá se comunicar rápido o suficiente.
Lojas são cruciais neste processo
A Proshows, distribuidora da Behringer no Brasil, tem reforçado seus vínculos e parcerias com lojistas. “Enxergamos uma perspectiva inédita de avanço na participação de mercado do Music Tribe no Brasil para 2025. Apesar de existir um tempo para que as reduções reflitam integralmente no mercado, em apenas 4 meses nossas vendas cresceram mais de 50%.”, explica Gabriel Pinto, Diretor Comercial da Proshows.
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Mas ainda assim muito varejista ainda não entendeu a necessidade de repassar a comunicação assertiva desta redução de até 40% de preço da Behringer para os consumidores.
Lojas internacionais como Amazon, Thomann e Sweetwater já começaram a promover ativamente os produtos da Behringer, destacando sua relação custo-benefício e investindo em campanhas direcionadas a consumidores que buscam equipamentos acessíveis. Esse movimento reflete o crescimento da demanda global e a necessidade de estratégias mais agressivas para reter e atrair clientes.
Para que os lojistas brasileiros não percam espaço, é essencial adotar estratégias de retenção de clientes e diferenciação no mercado. Aqui está um checklist de ações recomendadas:
Monitore preços de concorrentes chineses: Acompanhe os valores praticados por vendedores internacionais para ajustar suas ofertas de forma competitiva.
Use redes sociais para destacar a garantia local: Enfatize nas plataformas sociais que a compra em lojas nacionais oferece suporte e garantia locais, proporcionando maior segurança ao consumidor.
Ofereça atendimento rápido e personalizado: Disponibilize canais de comunicação direta, como WhatsApp e chat online, para esclarecer dúvidas e auxiliar os clientes durante o processo de compra.
Promova produtos exclusivos ou personalizados: Ofereça itens que não estão disponíveis em marketplaces chineses, valorizando parcerias com marcas locais e destacando a exclusividade.
Invista em logística eficiente: Garanta entregas rápidas e confiáveis, superando a expectativa dos clientes em relação aos prazos de marketplaces internacionais.
Realize campanhas de conscientização: Eduque os consumidores sobre os benefícios de comprar em lojas nacionais, como suporte imediato, facilidade nas devoluções e contribuição para a economia local.
Crie programas de fidelidade: Ofereça benefícios, descontos e vantagens para clientes recorrentes, incentivando a recompra e a lealdade à marca.
Invista em conteúdo digital: Produza vídeos e artigos comparativos destacando as vantagens dos produtos Behringer frente às opções chinesas.
Implementando essas e outras estratégias, os lojistas podem fortalecer sua posição no mercado brasileiro e oferecer uma proposta de valor que supera a concorrência internacional. A Behringer deu o primeiro passo. Agora, cabe aos lojistas aproveitar essa oportunidade para reconquistar clientes e consolidar um mercado mais competitivo e sustentável.
A música iniciou imitando sons da natureza. Hoje, é a inteligência artificial que tenta imitar o trabalho dos humanos. Até onde chegará tudo isso?
Entre 35 a 15 mil anos Antes de Cristo, há registros da utilização do arco musical, porém instrumentos percussivos e também o canto, assovio, e apitos rudimentares, vêm de tempos imemoriais. A música se iniciou como forma de expressão, inteligência, e inclusive de culto religioso e celebrativo humano, muito antes do próprio estudo normativo da mesma e da própria teoria. A própria matemática é a expressão do mundo manifestado, sendo o matemático um observador que explica apenas o que se percebe, e suas possibilidades, o mais precisamente possível em forma e funcionalidade. A natureza já exibia claramente desde sempre, a Sequência de Fibonacci, e o mesmo apenas a percebeu e a descreveu. Outrossim, o ser humano primitivo, muito antes da matemática e compreensão de música, já fazia música quando mimetizava, muitas vezes, o canto do pássaro, a força do trovão, e o gotejar ritmado da chuva. A definição que estudiosos usam sobre teoria musical que mais se adequa é a de explicar o que o músico culturalmente já iniciou em aplicação instintivamente, para teorizar o “porque” e o “como” e, a partir daí, normatizar. Como pessoas que produziam estes sons, passavam essa informação a diante de forma oral e eles mesmos foram os elaboradores dos primeiros instrumentos. Houve com certo tempo decortido, um status social que foi sendo atribuído aos que melhor realizavam suas tarefas dentro dessa disciplina de encantamento sonoro. Embora a música que desenvolveu-se na cultura ocidental em verdade se firme nos estudos de Pitágoras e seus discípulos, há narrativas muito antigas de harpas e similares, e a dúvida é se o trabalho de Pitágoras e seus discípulos não teria sido observação e o regrar do que já ocorria instintivamente, em explicação técnica e teórica, matematicamente precisa (assim como fez Fibonacci matematicamente na explicação de ocorrências naturais observáveis), ou ainda, talvez, era extensão dos conhecimentos aprendidos com Hermes Trismegisto (aí a história vai longe, podendo chegar no mito de Atlântida), porém houve povos que exploraram a questão sonora de outra forma, paralela a “matriz grega de pensamento”, e se reflete claramente até hoje essa percepção, por exemplo, no microtonalismo de escalas e instrumentos de diferentes culturas. Tudo, absolutamente tudo que a música ocidental normatizou como teoria, inicia-se em Guido D’Arezzo, que era um monge italiano estudioso, com acesso à conhecimentos da Grécia e povos antigos, suprimidos pela igreja da época (intimamente, de forma quase fantasiosa, eu o visualizo como o personagem de Sean Connery no filme o Nome da Rosa), e quando Guido inicia seu postulado e ações na música, a igreja, propositadamente, lhe atribuiu a “invenção da música”, e embora Guido tenha mantido os nomenclaturas Gregas e suas explicações de centros tonais, era importante para igreja da época esse “marketing”, porém nos povos fora deste círculo cultural, alheios a isto, toda teoria se desenvolveu de forma diferente, como no hinduísmo por exemplo, mas como músicos com o passar do tempo, mesmo antes de Pitágoras, tinham atuações grupais, sempre havia “diálogos” de afinação e harmonia em comum… Guido ao criar (esse foi seu grande legado) a notação musical, suas regras e “alfabética”, trás toda uma era de comunicação de ideias entre músicos, e a possibilidade de passar conhecimento de música à diante, sem necessidade da oralidade somente, elevando a linguagem sonora da música a um patamar de comunicação que pode ser estudada e reproduzida, e depois disso, com muita história ainda, pois isso é um resumo, vem todo o resto.
Mas porque eu pontuei tudo isto?
Porque de fato, se avaliarmos a função social do músico historicamente, seu sustento na antiguidade sempre dependeu dos líderes (reis, nobreza, sacerdotes) que os “sustentassem”, tanto em trabalho, como custear-lhes estudo, e em contra partida, esses privilégios só eram mantidos pelos que realmente eram os melhores em sua época, e não era uma questão tão simples o estudo da música economicamente. Quanto mais as ciências e tecnologia democratizaram a “entrada” no mercado musical, e a música como negócio cresceu, seja no ensino, luthieria e entretenimento, mais foi se gerando a possibilidade das pessoas aprenderem música em toda a sociedade, mas ainda assim, havia a necessidade de estudar, e esse era o limiar meritocrático, onde para haver êxito era imprescindível o esforço.
A mediocridade não tinha espaço nessas cátedras
Mas aí, nesse ponto, inicia-se a trapaça das “panelinhas” que afogaram a questão meritocrática, pois no limiar entre o gênio e o ordinário (no sentido de comum), a vaidade, a soberba, o “interesseirismo”, e ainda na questão do mercado a aparência do artista como produto, passaram a ser fatores decisivos para alcance de oportunidades, com o talento sendo colocado apenas como um fator a mais, porém não determinante de sucesso. Quando há pouco tempo, a tecnologia possibilitou a qualquer um fazer música sem músicos, afinando a voz, e fazendo copy/paste de áudios já existentes, já era um sinal vermelho que estaríamos perdendo a música como profissão e como mercado. Agora com o surgimento de sites de I.A. que não só compõem, mas geram áudios prontos, com todos os instrumentos, vozes e letras, utilizando-se de semelhanças que beiram o plágio, mas pior ainda, pois estão “roubando” vozes e timbres, cada vez menos importará para o destaque de alguém na grande mídia a habilidade e competência e sim aparência, e em breve nem isso, porque na realidade a I.A. já está gerando filmes e atores virtuais e clonando os que existem. Roteiros são criados por algoritmos, que desenvolvem storyboards, que são base para geração de imagens, renderização 3D, e tudo com criação fora da alçada do raciocínio humano. A música no mercado audiovisual se tornou apenas um processo, não uma finalidade. A ânsia da perfeição ao robotizar a afinação e métodos de trabalho musical, aproximou os robôs da imitação perfeita do talento. Era inevitável que a permissividade da preguiça em interfaces que tudo fazem, esmagasse tudo ao baratear a arte, retirando o custo do fator humano. A música perderá o valor porque as pessoas serão capazes de serem contentadas em suas necessidades aculturadas, imediatistas, sem se importar se alguém tem habilidade na execução de tarefas que levam ao que lhes é aprazível. Se da abundância de notas, chegamos a bundas sem talento, em breve nem isso terá relevância. E do arco musical, citado inicialmente no texto, desembocamos na realidade da música sem arco (nem de início, nem de meio nem de fim). Esse depender da tecnologia como vício, nos levou a viver em função dela. Há quanto tempo você não imprime fotos? Há quanto tempo você não capta uma imagem sua sem um filtro de retoque? Se a imagem está perdendo a realidade dos fatos, era óbvio que o áudio perderia sua veracidade. Tudo se tornou relativo, e poucos são capazes de entender. Basta uma tempestade solar épica, e grandiosamente destrutiva, para uma era de extinção digital, colocar toda sociedade humana sem ter onde escorar sua preguiça intelectual. Se tudo se inicia com um assovio imitando a natureza, terminará com a natureza mostrando que não há substitutos para ela, nem mesmo para seus “produtos”, como a evolução da genialidade e talentos humanos, que não são artificiais. A alma nunca será um algoritmo. A meritocracia nunca deixará de ser regra para inteligência real.
Em um vale ensolarado, existiam três porquinhos comerciantes de instrumentos musicais e áudio: Soneca, Folia e Prático. Cada um com uma loja própria e uma visão muito distinta sobre negócios.
Soneca vendia muito, muito. Ele se alegrava em ver sua concorrência ligando para os fornecedores pedindo para ele subir o preço. Isso dava a ele uma sensação de poder, além do que, via um giro financeiro imenso em sua conta corrente. Mas o que Soneca não sabia é que fluxo de caixa alto não é lucro; ele vivia em sua caixa de ilusões.
Folia, por sua vez, era o queridinho dos fornecedores. Por vender a preço de custo, ou até mesmo abaixo, os produtos das marcas giravam rapidamente em sua loja. Em reconhecimento, os fornecedores o premiavam com festas, viagens e mimos. Folia sentia-se uma estrela, apesar de, na realidade, ser apenas um instrumento para os fornecedores que viam nele uma oportunidade de girar mais produtos. Ele se tornou uma “loja zumbi”, operando apenas para as marcas, sem construir um negócio sólido para si.
Já Prático, o terceiro porquinho, tinha uma abordagem diferente. Ele sabia o valor de seu trabalho e dos produtos que vendia. Não era contra promoções, mas sempre as fazia com consciência, garantindo uma margem de lucro que sustentasse o negócio. Ele investia em treinamento, marketing e no relacionamento com seus clientes.
Um dia, um lobo mau chamado Crise apareceu no vale. Com seu sopro poderoso, ele ameaçava todas as lojas da região.
Primeiro, ele foi à loja do Soneca. Com um único sopro, a loja, já fragilizada por sua visão distorcida de negócios, foi ao chão.
Em seguida, o lobo foi até a loja do Folia. Folia pensou que os fornecedores viriam em seu auxílio, mas eles estavam ocupados procurando outros porquinhos para trabalhar. Assim, sua loja, sem sustentação própria, também foi derrubada pelo sopro do lobo.
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Por fim, o lobo chegou à loja do Prático. Ele soprou com toda a sua força, mas a loja permaneceu firme. Prático havia construído uma base sólida, com clientes fiéis, reservas financeiras e uma operação saudável.
O Lobo Crise, percebendo que não poderia derrubar a loja do Prático, foi embora, procurando outras vítimas.
Os porquinhos Soneca e Folia, agora sem suas lojas, foram até Prático em busca de conselhos. Prático, sempre solícito, ensinou-lhes sobre a importância de ter uma gestão financeira sólida.
Moral da história
Em negócios, é vital construir sobre alicerces sólidos e cultivar relações benéficas com parceiros. Cada ator no ecossistema, seja fornecedor ou vendedor, tem um papel crucial a desempenhar. Juntos, e com entendimento mútuo, todos podem prosperar e resistir às tempestades.
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