Teve uma boa ideia? Pensou em melhorar um produto? A falta de recursos não pode atrapalhar!
Lembro-me de no ano de 2001 ou 2002 estar numa fila, onde não teve como não ouvir o “especialista” palestrante de cursos de empreendedorismo que dizia atuar no Sebrae (nem tinha a modinha dos “coaches & mentorings”, mas já há tempos o mesmo comportamento se repete) contando uma história.
Dizia ele que apareceu um cara com um projeto de engenharia que criava uma espécie de capota adaptável para motos, com protótipo e tudo, e que ele ”teve de ensinar” o inventor que quem anda de moto quer vento no rosto, liberdade, e que o produto dele era inútil. E que ele, como especialista, vivia tendo de “salvar” as pessoas de seus investimentos, e que nos cursos dele, as pessoas aprendiam a empreender corretamente.
Em 2014 vi o projeto conceitual da BMW, já existente hoje, que é uma moto totalmente fechada, com um giroscópio que a mantém de pé automaticamente, sem o motorista ou o passageiro colocarem os pés no solo. Inevitavelmente me lembrei do inventor “brasuca” que teve seu sonho tolhido por um conselho medíocre.
Quatro tipos
No mundo existem quatro tipos de empreendedores: os imaginativos e geniais, os comuns e medianos, os teóricos irreais e os invejosos medíocres. O que torna cada um desses passível de êxito são oportunidades e recursos.
Os gênios imaginativos pensam antes em algo e, em geral, com meios financeiros, mudam o mundo com suas ideias.
Os comuns e medianos são exitosos fazendo o que todos fazem, sem perdas, mas sem grandes ganhos.
Os teóricos irreais são aqueles que estudam, que acham que sabem tudo, nas como só ditam sem experiência, em geral nunca empreendem, só “aconselham”; e, quando empreendem, fracassam por motivos bobos, como esquecer de fazer um banheiro numa lanchonete, ou construir um hotel numa praia sem saber se o mar não avança até a garagem, porque se perdem com regras e se esquecem dos detalhes.
Já os invejosos não prosperam porque são gananciosos demais, mas também não querem que os outros prosperem.
E onde tudo isso se encaixa?
No fundo, todos nós somos potencialmente um dos quatro tipos. Mas por que não ficar e acreditar na genialidade própria?
E “quem nunca”, ao observar uma situação ou produto, já não concebeu alguma melhoria, alguma facilitação ou até um novo produto, mas, em geral, não levou a ideia à frente por falta de oportunidade, capital ou pesquisa, ou porque pediu conselhos a um tolhedor de sonhos?
Empreender requer, sim, conhecimento mercadológico, mas ter ideias que funcionam depende da compreensão de necessidades humanas naquele nicho de mercado, e que, por vezes, o “especialista” não tem, e também não tem a humildade de informar-se.
Se a avaliação fosse rasa e não se colocassem em prática ideias e ideais, a patente da Floyd Rose nem teria chegado ao papel, ou mesmo o cajon, enquanto produto, ou ainda o transmissor sem fio.
Aplicar ideias à melhoria do treinamento de venda em lojas, à comunhão entre comércio virtual e presencial, e mesmo no relacionamento comunitário, atua para a manutenção de mercado futuro. Nem sempre a genialidade significa criar a roda, mas reinventar suas funções.
Onde há a roda, pode haver uma engrenagem, ou uma roldana para correia, ou seja, às vezes ter uma ideia sobre algo simples recolocado é tão genial como a própria invenção.
Quando sua ideia for boa e lhe faltarem recursos para a aplicação, ela em si é o produto, portanto “venda-a”, passe-a à frente, mas não a leve para o túmulo.
A realização e o sucesso não estão apenas no projeto, mas na ideia em si.
Existem pessoas prolíficas em ideias, e pessoas que não. Isso me faz lembrar de um professor que num coquetel quis “crescer” num diálogo com Einstein, e disse: “Eu carrego comigo sempre um caderno e anoto minhas ideias, para não as perder”, e Einstein respondeu: “Eu não preciso, porque de fato só tive uma boa ideia” — ele se referia de forma irônica à teoria da relatividade, criada por ele.
Mas, avaliando, seja um caderno cheio de boas ideias, seja uma só ideia genial, a diferença será nula se nenhuma se concretizar.
Não tema o fracasso ao realizar uma ideia, porque de joelhos calejados de orar, cedo ou tarde, meritocraticamente o milagre acontece. Mas tem de haver ação!