Marcelo Pellegrini, crooner do Eletrobaile, conta sobre a criação de um espetáculo de 4 horas de duração, onde teve limitações com diversas dificuldades técnicas, para as quais recentemente foram anunciadas algumas soluções pela implementação do protocolo MIDI 2.0.
Esta seria a “problemática” a ser solucionada pela “solucionática” com a chegada do MIDI 2.0, que abordaremos em seguida em uma série de artigos teóricos e práticos.
1 – Como nasceu a ideia do Eletrobaile?
A ideia do Eletrobaile surgiu para ocupar uma lacuna que eu estava enxergando no mercado, que é a questão da agilidade que a música eletrônica tem em dar cadência a um evento. Não é um show, o propósito é animar um momento importante na vida das pessoas, como a formatura, casamento, aniversário. A gente trabalha com músicas diversas, ritmos diversos, de forma muito parecida com o que um DJ open format faz. A banda também é de formato aberto.
Mas qual é a diferença entre o DJ e a banda? É justamente a fusão das músicas, o tempo de execução. Um DJ consegue fazer menos pausas, e banda, por natureza e por se tratar de um grupo, precisa que todos os seus integrantes estejam sincronizados. A ideia do Eletrobaile vem disso; fazer um mesclado entre a parte sequenciada, e a parte tocada, para dar uma cadência melhor ao evento. E aí entra o MIDI. Eu uso uma DAW para fazer os disparos de acompanhamentos que a banda não executa ao vivo, e para tornar tudo mais ágil uso a sincronização MIDI, que evita o uso constante de teclado e mouse.
2 – Qual era o setup de áudio e luz no início das apresentações do Eletrobaile?
Eu venho de outros projetos e bandas, e o Eletrobaile já começou com esse formato, com setup de áudio e de luz nesse formato. Antes, eram setups de áudio mais simples, e os de luz foram se aperfeiçoando em diversas evoluções, logo, o Eletrobaile manteve um padrão desde seu início. Além dos músicos, ao vivo, eu completo tudo com outras tracks em um total de 8, e uma nona que é a guia e o click.
3 – Quanto à formação dos músicos, sempre foi a mesma, mesmos instrumentistas, ou foram feitas mudanças ao longo do trabalho?
Mantivemos sempre a mesma formação: bateria, baixo, guitarra, violão, teclados, um cantor e duas cantoras.
4 – Atualmente qual é a formação instrumental, backing vocals, etc.?
O setup da banda é composto por 32 inputs. A bateria usa 10 canais, mais contrabaixo, violão, guitarra, teclados em estéreo, um backing vocal no teclado, mais 3 vozes principais – dois masculinos e um feminino. E entram as tracks extras, 2 tracks de percusssão em estéreo, 2 tracks de cordas em estéreo, metais em uma track, acordeon, mais uma track de retorno e outra de click.
5 – Conta um pouco sobre o setup atual, quantos computadores, tablets, sistema de luz, e o que achar importante.
Usamos uma mesa com 32 inputs e 14 outputs entre todos os retornos e o LR que vai para o público. Usamos vários computadores para fazer a sincronia do áudio pré-gravado e a banda, resultando na fusão final. Eu uso uma interface Focusrite Scarlet 18i20 – com 9 tracks in/out – em um iMac rodando o Logic nos bastidores com um nobreak. Quase não tocamos nele, pois é acionado por um iPad rodando o app Lemur, via MIDI. O Lemur tem todos os atalhos, markers, e alguns controles de volume acionados pelo tecladista. Ele é o responsável em dar o play para a toda banda, guias, cortes e tudo o mais.
Além disso é usado mais um iMac, em paralelo, de backup, com um setup pronto para entrar em ação caso aconteça alguma falha no sistema principal, o que nunca aconteceu até hoje. Temos ainda mais 2 iPads para fazer a comunicação visual entre os músicos, para não precisarmos falar todo o tempo pelo ponto. Eles conseguem visualizar por um espelhamento de tela no iPad, o espelho na borda do palco indicando a próxima música, qual o seu tom, e as observações, em um monitor de 24 polegadas. Mais 2 tablets fazem as gestões dos monitores e da mesa de frente, com 2 técnicos controlando o áudio para o público e para os instrumentistas.
6 – Como acontece o gerenciamento do video principal, a sincronização com o repertório e a iluminação?
A mesma DAW roda um vídeo sincronizada em timecode. A saída de vídeo do computador é dirigida para um painel de led de fundo com um recorte e mapeamento específico. Os vídeos são todos pré-produzidos, conforme os ataques das músicas, as interações, pedaços de letras de canções, tudo isso interligado à DAW, e observando o que a banda está executando ao vivo.
Quanto à iluminação, ainda não conseguimos finalizar o projeto, mas já temos várias músicas mapeadas, com os timecodes prontos, mas ainda não estamos usando. Para a luz, um sistema da Lumikit, ainda não está implementado 100%, e que é um software DMX. Nós não temos ainda nosso próprio sistema de luz, sempre o terceirizamos com locadores nos locais das apresentações.
7 – Falando sobre o sistema que desenvolvemos nos últimos anos, fale como foi a construção do Lemur, e sua comunicação com o computador principal.
Desde quando tive o assessoramento do Saulo a gente pensou numa maneira de fazer a comunicação via MIDI, tentando encontrar o software mais adequado, mais estável, para dar essa segurança no evento ao vivo onde não pode haver falhas nem pausas. Foi complexo fazer essas adaptações, sincronização com a DAW, problemas com a comunicação de entrada e saída MIDI, não havia muita estabilidade, nos dava bastante trabalho e insegurança.
Por isso temos até hoje um backup à disposição, e foi árduo encontrar um software que assessorasse. Os apps de controle remoto das próprias DAW têm muitas limitações de personalizações. O Lemur nos deu um grande leque de opções, mas parou com suas atualizações, e estávamos esperando uma atualização mais forte de tudo, e do protocolo MIDI em si.
8 – Como foi a sua introdução ao MIDI, como foi aprendendo e desenvolvendo seus conhecimentos sobre o sistema?
A introdução ao MIDI pra mim foi repentina, eu desconhecia completamente, eu não tenho uma bagagem musical que me desse experiência MIDI, sempre fui da parte vocal, trabalhava com programação. Achei teoricamente fácil, mas porque peguei um assessoramento profissional, se não seria bem complicado.
9 – Sobre os problemas, quais foram os maiores, e como foram tratados, solucionados?
Um dos maiores problemas foi realmente não dominar o MIDI,por ser algo muito novo pra mim pelo menos, que não tinha essa parte de trabalho, não achei nada simples. Foi uma construção, um projeto que foi demorando, foi aprimorado dia a dia, até que hoje ganhasse bastante estabilidade.
10 – Planos do Eletrobaile para 2022 e 2023?
Nosso projeto de agora para o futuro é finalizar e deixar 100% sincronizados os sistemas de som de luz e áudio. Lembrando que já existem profissionais que fazem isso, shows nacionais e internacionais que fazem dessa forma, mas a gente demanda algo distinto, a gente tem um evento mais duradouro, não é um show de 1 hora e meia, a gente faz eventos de até incríveis 4 horas de duração.
Então isso limita bastante, em relação a ruído, timecode, encontramos no início problemas para trabalhar dessa forma, como por exemplo alguns softwares de vídeo como o Resolume Arena, que recebe esse sinal, a AMA também. A gente está estudando para implementar 100% agora em 2023, se possível, a sincronia total de todo o repertório – e é um repertório extenso, não só de 1:30 hs – o que seria teoricamente fácil, o teríamos pré-pronto, mas queremos achar um jeito, com uma DAW que converse com mais tempo, que tenha recursos maiores e que não hajam conflitos. Mas isso é muito natural, tem que ser aos poucos, e vamos trabalhando até o objetivo final, que é entregar ao cliente que realize eventos privados a melhor experiência entre música, visual e interação.