Ao longo de algumas décadas estudando, tocando e ensinando dos elementos básicos ao uso da guitarra como instrumento de composição, passei – como muitos colegas – pela procura dos chamados “métodos” para aprender, a princípio impressos em uma só negra cor, depois arco-irizados, acrescidos de áudios analógicos em fitas cassete, e finalmente áudio digital em CDs e DVDs espertamente encartados em embalagens contagiantes.
A dados momentos do aprendizado, nos deparamos com dificuldades envolvendo o que queremos fazer com o instrumento, e o que o autor do trabalho didático quis nos oferecer. Na maioria das vezes assimilamos o oferecido, aumentando nosso conhecimento. Mas também o oferecido pode nos confundir, se fundindo com explicações de maior ou menor complexidade para explicar a mesma coisa, sob abordagens mais ou menos complicadas.
Por isso resolvi iniciar na Música & Mercado uma nova seção, baseada em trabalhos didáticos nacionais e internacionais, voltados para o ensino de guitarra. Não sem antes lembrar o maior best seller nacional da cifragem musical; a revistinha da Imprima Comunicação Editorial que recebia o carinhoso apelido de VIGU (Violão & Guitarra). Este título dava a impressão de que a guitarra acústica e a guitarra “elétrica” eram instrumentos de diferente afinação.
Essa nova seção vai abordar o ensino da guitarra, mas também pode ser aproveitada por quem se dedica ao estudo de qualquer instrumento melódico ou harmônico, e além de abordar assuntos das propriedades do som quanto à Altura – uma das 4 propriedades do som – vai ainda abordar as outras 3: Duração (Rítmica), Intensidade e Timbre, esta última fortemente simplificada pela evolução tecnológica oferecida pelas atuais eletrônica e informática.
Logo, uma seção educacional atualizada, sem os terríveis vícios básicos, como os da tradicional definição de Timbre: “a origem do som”… para espanto geral, do analógico ao digital. Sem os preconceitos de gênero; do batuque ao trance, de raça; do afro ao asiático, de tratamento; do groove ao loop, e finalmente de alvo; tendo como objetivo levar a iniciantes, intermediários e avançados o mesmo resultado: o aproveitamento parcial ou total do conteúdo.
Para batizar a seção o título óbvio: ARTE INVISÍVEL
Cujas iniciais não por acaso podem remeter a AI – Artificial Intelligence – aludindo a algo talvez nada criativo, ou mesmo Ato Institucional, lembrando algo certamente nada artístico. Mas arte também é diversidade de opiniões e conceitos, assim como ensino é algo que se alimenta de muitos cardápios, e independente de sabores, sacia a fome. Não queremos só comida, mas também diversão na arte.
Para começar informo que o autor/obra que vai inaugurar a seção AI no que se refere aos aspectos melódicos e principalmente harmônicos é Julio Herrlein e sua obra de mais de 300 páginas, Harmonia Combinatorial. A primeira edição (esgotada) é de 2011, do próprio Júlio, ou Chumbinho, como é conhecido em Porto Alegre, em inglês e português. Uma nova edição está sendo providenciada, assim como uma entrevista inédita na Música & Mercado.
Harmonia Combinatorial tem apresentação de Nelson Faria, pioneiro nesse ramo de publicação no país e referência como guitarrista; com capa e projeto gráfico de Guilherme Dable; produção executiva de Luciana Etchegaray (Casulo Assessoria em Arte); apoio cultural das guitarras Strandberg e Financiamento Coletivo pelo Apoia.se. Aqui a apresentação da esplêndida obra por Nelson Faria:
“Julio Herrlein sempre foi carinhosamente chamado de “Chumbinho”. Este apelido me parece, na verdade, fruto de uma modéstia exacerbada do autor (aliás, característica daqueles que conhecem profundamente o que fazem). O que vemos nesse livro é artilharia pesada! Informação precisa, profundamente detalhada e exemplificada de forma a trazer tanto ao estudante quanto ao músico experiente a oportunidade de vivenciar a harmonia e todas as suas relações combinatórias de forma lógica e eficaz.
Uma árvore boa é aquela que produz bons frutos e os exemplos musicais sugeridos por Julio Herrlein neste livro são prova disso. Exercícios de tremendo bom gosto mostram a genialidade deste guitarrista virtuose que vem agora, generosamente, compartilhar conosco seu conhecimento. Tenho apenas uma sugestão a dar: a mudança deste apelido. Para mim Julio Herrlein é “Chumbo Grosso”.
Além de endossar Nelson Faria, gostaria de compartilhar com os leitores como se deu meu encontro presencial – já que tive inúmeros encontros “ obratoriais” nas leituras textuais e musicais no livro – com o autor. Estava com minha namorada comprando artigos para pets em uma loja do bairro Bonfim, em Porto Alegre, depois de alguns drinks no conhecido Café Cantante (sintomático…), onde já o tinha avistado sem reconhecer em uma mesa.
Eis que o desconhecido adentra o pet shop, me chama pelo meu nome, e se apresenta. Nem me lembro se foi pelo apelido ou nome, cadência de engano ou enarmonia. Fato foi que entabulamos uma cifragem que ali começou a ser rascunhada com lápis. Cuja melodia deve ser continuada com caneta Bic preta de ponta fina em cadernos Deltapy, depois harmonizada em algum Sibelius , e timbrada com livrarias da Spitfire, Hans Zimmer, sem filme, só áudio…