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Al Di Meola: Tecnologia com sotaque flamenco

O guitarrista Al Di Meola apresentou seu show em Porto Alegre. Quer saber um pouco sobre o equipamento utilizado? Veja mais a seguir.

MusicaeMercado

O show faz parte da turnê de lançamento do seu novo trabalho – Opus – em plataformas digitais, CD e vinil. As gravações aconteceram pelo selo earMusic em Hamburgo, Alemanha, e Meola escolheu para a turnê um trio que chamou a atenção dos cerca de 2 mil espectadores no auditório Araújo Vianna, curiosamente administrado por parceria entre a prefeitura de Porto Alegre e a homônima (do álbum) Opus Produções.

As atrações no Araújo Vianna são compartilhadas entre a prefeitura da capital gaúcha (25%) e as produções da Opus (75%), e quem conheceu o auditório e sua trajetória desde quando ainda nem cobertura tinha, se espanta com a qualidade técnica alcançada. A Opus vem fazendo excelente trabalho na condução da parceria, e a Música&Mercado foi simpaticamente recebida por Letícia Rech, e Cátia Tedesco da Agência Cigana.

A MESA DIGITAL DIGICO SD9

sdA estrela técnica do auditório foi a mesa digital inglesa DiGiCo SD9, tradicionalmente conhecida por aliar a familiaridade do manuseio analógico aos recursos do digital. A linha SD é indicada a trabalhos de turnê – on the road – como para sonorização fixada em casas de espetáculo. A SD9 é imediatamente reconhecida pelo display HD de 15 polegadas no centro, com seus 24 faders motorizados, acionando 96 canais a 48kHZ/96kHz.

No console há 8 entradas de microfones, 8 saídas, 4 AES/EBU, uma porta MADI e duas portas para D-Racks. O D-Rack é um dispositivo I/O remoto com 32 inputs e 8 outputs que acompanha a SD9, com opção de estender o número de outputs para 16, e/ou acoplar um segundo D-Rack conseguindo um total de 72 entradas de microfones. Um DiGiCo SoundGrid PC server provê acesso a mais 32 Multi Racks estéreo.

A conexão MADI DiGiCo permite transmissão via USB 2.0 com 4 segundos de plugagem, e o PC ou Mac não precisa ser reinicializado, nem mesmo com a perda de conexão em uma gravação ou playback, tudo isso com um cabo USB de até 100 metros. Conecta 48 canais a 24 bits a HDs ou SSDs. Sem input a UB MADI faz uso de seu clock interno de alta estabilidade, mas detecta e aceita clocks MADI, AES3 ou World Clock.

O módulo em rack Waves SoundGrid usa a tecnologia FPGA (Field Programmable Gate Array) com latência de 1mS dá acesso a plug-ins da Waves, como os Mercury, SSL4000 Collection, GTR3, JJP Analog Legends, Studio Classics Collection, API Collection e Gold, permitindo o controle, via snapshots e outros procedimentos para armazenar cenas de mixagem configuradas para cada evento.

INSTRUMENTOS DE MEOLA

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violaoO violão encordoado com nylon – e algumas vezes tocado com palheta no show – é um Felipe Conde feito sob encomenda, lógico, disponível até pouco tempo atrás para quem dispor de um pouco mais de 11 mil Euros. Confeccionado com rosewood de Madagascar e spruce alemão, é um mix de violão erudito e flamenco, que chama atenção pelo seu cutaway em forma de meia-lua e 2 casas a mais.

A escala é de ébano, com braço em cedro, com escala de 664 mm (até pouco tempo disponível no luthier com 650 mm com 2 casas a menos), e a captação é com um RMC Acoustic Gold Poly Drive II. Um microfone condensador Schoepps C-530 completa a tomada de som. Meola é adepto dos sintetizadores de guitarra da linha VG da Roland desde o GR30 controlado pelo VG8, passando pelo VG88 até o VG99.

Além do violão especialmente feito pelo luthier Felipe Conde, Meola usa um modelo Ovation de 2004, o 1769-ADII, de fibra de carbono e spruce, captado por um Op-Pro Series, com escala em ébano e braço de 14 trastes em mahogany. Um Ovation deste modelo pode ser encontrado por cerca de 10 mil reais em sites de usados, mas você vai precisar de algumas décadas de estudo para fazer bom uso dele…

Meola, depois de sua fase fusion no Return to Forever com Chick Corea nos anos 70, foi amigo de Astor Piazzolla na última fase da vida do bandoneonista argentino, o que pode ser atestado no seu CD de 1996, Meola Plays Piazzolla, no qual fez o arranjo de 8 obras de Astor com uma banda de 7 músicos, com o destaque para o bandoneon de Dino Saluzzi. Mas já em 1977 no álbum Elegant Gypsy a influência hispânica vinha nascendo.

A turnê começou com uma apresentação acústica no Infinity Hall em Hartford, Connecticut, quando tocaram faixas de Opus e peças de Piazzolla como Double Concerto e Cafe 1930, e seguiu em maio de 2018, depois de outra turnê, comemorando os 40 anos de Elegant Gypsy, cuja versão acústica está no mercado. Para quem tem intimidade com a obra de Al Di Meola, é perceptível sua virada da fusion para a world music.

ARRANJOS COM ACORDEON MIDI

acordeon midiO guitarrista de Nova Jersey/USA (uma publicação gaúcha o chamou de “violonista italiano”…) foi acompanhado ao piano por Kemuel Roig, tendo no acordeon da marca Zero Sette o ótimo Fausto Beccalossi, que usou um modelo da linha Fisarmoniche A Bottoni (cujo teclado da direita é de botões), um Bayan Zenith, com recursos MIDI muito bem usados, que deu aos arranjos uma massa com mixagem de bom gosto e peso certo.

Acordeon MIDI é um instrumento que, além da captação do seu timbre característico produzido pelo fole com microfones, tem um dispositivo interno que transforma cada nota em nota MIDI, e dispara sons de outros timbres. Há alguns modelos MIDI da Roland, mas a Zero Sette oferece produtos diferenciados, como este, que usa o sistema de botões em vez do teclado com a inovação tecnológica da conversão para MIDI.

Um trio com esta instrumentação cria uma sonoridade que, além de compacta e adequada para ser posta na estrada em turnês, adiciona às características do novo álbum uma opção talvez mais próxima de seu objetivo do que o da gravação em estúdio: anunciar uma nova fase, baseada na World Music com forte tempero hispânico, presentes no compositor Al Di Meola, além do óbvio virtuosismo.

O NOVO ÁLBUM

trio notaO álbum marca o reencontro de Meola com a alegria de viver, depois de um divórcio difícil e demorado, durante o qual gravou o CD anterior, Elysium. Opus gira em torno do vilarejo italiano Cerreto Sannita, onde viveu o avô do violonista. Sua esposa atual, Stephanie, armou uma visita ao local, onde foi recebido por uma multidão de Meolas, pois só o seu avô tinha 16 irmãos e irmãs. Metade dos 3 mil habitantes levava seu sobrenome…

Foi organizado um grande festejo em sua homenagem, um jantar com um grupo musical de tributo a Meola, com quem tocou, e ao olhar para aquilo tudo tendo ao lado a esposa e sua filhinha – para quem compôs a faixa Ava’s Dream Sequence Lullaby – se sentiu como numa cena de O Poderoso Chefão. A contracapa do Opus é a foto do brasão da família Di Meola na porta da casa onde viveu seu avô antes de emigrar para os EUA.

Muito feliz com os 5 anos de casado novamente, o novo álbum tem os cuidados da gravadora earMusic, e a esposa Stephanie é sua parceira de trabalho, organizando a turnê, agenda e a divulgação em redes sociais. O tratamento dado pela nova gravadora lembra o da CBS nos anos 70, e o resultado é o melhor trabalho autoral de Meola, fruto de um instrumentista e compositor agora em harmonia combinatorial.

O espetáculo terminou com o bis de Mediterranean Sundance, duo que Meola gravou com Paco de Lucia em Elegant Gypsy. Trata-se de um 4/4 em Mi menor, originalmente começando com um dueto entre ele e Paco. A composição original consistia em uma progressão harmônica relativamente simples, embasada por um ritmo flamenco. Na versão do trio atual, ganha novo e vigoroso arranjo.

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