Review do Leitor

Colabore com a comunidade musical.

Pesquisar

Socorro Lira anuncia saída do Spotify e se junta a movimento global de boicote

A cantora e compositora Socorro Lira, referência na música brasileira independente, anunciou que pediu oficialmente a retirada de todo o seu catálogo do Spotify.

Em postagens recentes no Instagram, a artista revelou que entrou em contato com sua distribuidora, a Tratore, para excluir tanto seus álbuns pessoais quanto o conteúdo do Prêmio Grão de Música, projeto cultural que também gerencia.

O motivo, segundo ela, é ético. Lira declarou que não quer que seu trabalho “tenha vínculo com a indústria da guerra”. A crítica faz referência ao investimento pessoal do CEO do Spotify, Daniel Ek, em uma empresa de inteligência artificial aplicada ao setor bélico. “Saí desse aplicativo porque seu dono investe bilhões em indústria armamentista”, afirmou. Em outro post, completou: “Ainda aguardo a retirada definitiva dos álbuns e a exclusão do meu perfil. Já vai mais de mês que fiz a solicitação”.

Um protesto que ecoa pelo mundo

O posicionamento de Socorro Lira não acontece isoladamente. Nos últimos meses, artistas de diferentes países vêm abandonando a plataforma pelo mesmo motivo. Entre eles estão a banda norte-americana Deerhoof, que declarou não querer que sua música financie tecnologia de guerra, e o grupo Xiu Xiu, que classificou o Spotify como um “portal armagedon violento”. O grupo australiano King Gizzard & the Lizard Wizard também retirou quase todo o catálogo da plataforma, em protesto contra a ligação do serviço com a indústria de armas.

As críticas se concentram no fato de que Ek, através de sua empresa de investimentos Prima Materia, aportou milhões na startup Helsing, sediada na Alemanha. A companhia desenvolve softwares de inteligência artificial para drones e sistemas de defesa autônomos, usados em contextos militares. Para os artistas, essa relação é incompatível com a missão cultural e humanista da música.

Impacto no Brasil

No Brasil, o caso de Socorro Lira desponta como pioneiro. Até o momento, não há registros de outros artistas brasileiros que tenham aderido ao boicote por essa razão. Seu gesto, no entanto, coloca em pauta um debate ainda pouco discutido por aqui: o papel ético das plataformas digitais e até onde o artista deve ou pode intervir sobre o destino dos recursos que seu trabalho ajuda a gerar.

Vale lembrar que o Spotify já enfrenta críticas recorrentes em diferentes países, especialmente por causa dos valores considerados baixos pagos em royalties a músicos independentes. A nova polêmica adiciona uma camada mais sensível: a associação entre cultura e indústria armamentista.

Mais que uma decisão comercial

Sparflex

Para Lira, a saída do Spotify tem um peso mais simbólico do que financeiro. Plataformas como o Bandcamp, além de vendas diretas e shows, seguem sendo alternativas mais justas em termos de retorno e compatíveis com sua visão de mundo. “Não quero vínculo entre meu trabalho e a indústria da guerra”, reforçou em seu comunicado.

Seu ato insere o Brasil no debate global que questiona o modelo de negócios do streaming musical. A decisão também provoca a cena independente a refletir: até que ponto é possível continuar usando plataformas que, ao mesmo tempo em que ampliam o alcance da música, também estão conectadas a indústrias que muitos artistas rejeitam em seus valores mais fundamentais?

Teremos o maior prazer em ouvir seus pensamentos

Deixe um Comentário

Música & Mercado
Logo
Shopping cart