Luthier Julian Barro lança Charrua: o mini contrabaixo híbrido
A região da Serra Gaúcha continua com atividades musicais em destaque. A novidade agora vem da cidade de Bento Gonçalves, onde um luthier trabalha com contrabaixos diferenciados, que podem vir a preencher lacunas para os instrumentistas que necessitam de alternativas para atuar, para estudar ou ter uma segunda opção no palco ou em estúdio.
O primeiro contrabaixo a ser testado é o que recebeu o nome de Charrua, em uma homenagem aos índios nômades da região do sul do Brasil. A princípio chamado de “Baixinho”, o instrumento foi testado por profissionais de Farroupilha e Caxias, além deste que vos escreve, nômade como os Charruas, agora se fixando na região.
Julian Barro, o luthier, trabalha desde 2012 com reforma e conserto de instrumentos, e a partir de 2015 começou a desenvolver projetos especiais. Ele conta que “a história do Baixinho começou quando viu uma propaganda de uma ferramenta para o estudo de contrabaixo, que nada mais era do que a mão do instrumento e algumas casas da parte mais grave do braço.”
Segundo Julian, “achei a ideia sem muita graça, pois não emitia som, voltada apenas para o estudo de digitação. Mas a ideia era fantástica – a possibilidade de ter uma ferramenta de estudo fácil de transportar – que pudesse acompanhar viagens, de trabalho ou de lazer. Depois de um tempo, fui descobrindo outros usos além de estudo, como a composição.”
O luthier começou então a pesquisar instrumentos para estudo e que fossem de fácil transporte: “foi então que achei o conceito: basta imaginar um contrabaixo com capotraste na décima segunda casa”. E esta foi a minha primeira impressão testando o ainda chamado de “Baixinho”: um instrumento com tessitura entre uma guitarra e um baixo.
Continua Julian: “Com o conceito na cabeça, foi a hora de desenvolver o modelo de protótipo que deveria atender os seguintes requisitos: ser pequeno para o transporte, ergonômico para poder ser usado sentado, de pé ou em um banco de ônibus, além de, logicamente, emitir som. Depois de vários modelos criado chegamos ao protótipo final.
Foi construído em cabreúva, e finalmente batizado de Charrua. Este instrumento nômade se mostrou um belo amigo dos viajantes, estudantes e criadores de música, sendo uma espécie híbrida entre contrabaixo e guitarra. Pode ser ligado em amplificador tradicional, amp de fone de ouvido, pedais e pedaleiras e até mesmo em smartphones através de dispositivos.”
Testando a Charrua, um instrumento híbrido
Uma sugestão seria quanto ao comprimento das cordas, pois foi usado um encordoamento .40 cortado a cerca de 2/3 de seu comprimento original, o que faz com que a ação ao tocar fique um pouco dura. Entre os encordoamentos disponíveis no mercado, chegamos aos .35, mas não chegamos a testá-lo com cordas deste calibre.
Mas um outro luthier que testou o Charrua sugeriu que fosse criado um jogo de cordas específico para o instrumento, acentuando sua tocabilidade para servir a guitarristas e contrabaixistas. Cheguei a consultar fabricantes de São Paulo sobre a possibilidade, mas até o fechamento deste texto ainda não tive retorno, o que continuaremos a esperar.
No uso em estúdio, ele chegou a fazer parte de uma instrumentação original: ao lado de berimbaus e violões em um projeto da Escolinha de Música São José, de Farroupilha, reunindo alunos de violão e capoeira. Tanto tessitura quanto timbre provaram ser realmente um novo conceito de instrumento, com forte personalidade e, claro, versatilidade.
O instrumento foi testado também com o software Jam Origin MIDI Guitar, que converte áudio em MIDI até mesmo sem o uso de uma interface, disparando timbres diversos. Mostrou se situar na região mais aguda do contrabaixo e mais grave de guitarra, como o conceito, e a tocabilidade mais dura ajudou no disparo de timbres reduzindo o delay significativamente.
Uma outra sugestão seria embutir no corpo do Charrua alguma espécie de amplificador, para fones de ouvido no mínimo, o que aumentaria sua “autonomia” em viagens, sem a necessidade de usar algum dispositivo adicional como um iRig. Em tempos de miniaturização, esse acréscimo contribuiria para ampliar o conceito de transporte e estudo do instrumento.
Participaram dos testes o contrabaixista Bruno Coletti da banda Terceiro Olho, que tem também como participantes o luthier e baterista Gustavo Trubian e o guitarrista Marcos Trubian, o multi-instrumentista Luis Anderson Abreu da Urso Music Produções e outros alunos do meu curso de produção musical e Logic Pro na Gravadora e Produtora Jardim Elétrico.
Julian atualmente está terminando um outro modelo conceitual, um contrabaixo upright, que em breve será também abordado em testes. O Charrua certamente pode fazer com que o diretor da Escola Pública de Farroupilha deixe de apelidar seu veículo como “case de contrabaixo” ao ver o pequeno instrumento caber em uma mochila…