Reflexões sobre possíveis mudanças do setor de instrumentos musicais e áudio profissional em um cenário pós crise
O objetivo desta análise é sair um pouco do presente e lançar um olhar no futuro e identificar novos padrões de consumo e comportamento social, encaixando neste contexto as empresas e tendo assim uma perspectiva do mercado de instrumentos musicais para os próximos anos.
Tempo para restabilização do mercado de instrumentos e áudio
O que enfrentamos é uma crise na economia de alta escala e inédita, não é um cenário de incerteza e sim de desinformação. A incerteza está diretamente associada a dúvida e se há dúvidas é porque existe no mínimo mais de uma opção de escolha. A desinformação está associada ao novo, ao desconhecido. Não se pode ter no histórico de nenhuma empresa do planeta, medidas tomadas quando tal cenário se formou em outros tempos. Não tenham dúvidas, a desinformação é bem pior do que a incerteza.
Estima-se que a produção de uma vacina demore entre 12 a 18 meses, entretanto independente das soluções os problemas estão criados. Haverá uma heterogeneidade nos prazos para estabilização entre os mercados e o impacto pode ser de anos. Alguns setores se beneficiarão, outros terão impactos severos e alguns nunca se recuperarão.
[blockquote style=”3″]”Inovações implementadas durante a crise, terão potencial para virar a nova norma.”[/blockquote]
Com a recessão do mercado, gastos supérfluos serão os mais afetados e projeta-se uma diminuição de consumo global entre 40% e 50%. Há neste momento um novo comportamento de consumo sendo criado e há também uma demanda reprimida que atingirá o seu ápice tão logo a economia retome suas atividades, entretanto os novos hábitos adquiridos não permitirão para a maioria dos mercados, volumes de negócios na mesma proporção do período pré-crise. Economias que já estavam abaladas antes da crise demorarão mais para se estabilizar (Venezuela, Nigéria, Brasil).
Nosso mercado da música
O mercado de áudio e instrumentos musicais se consolidará, com grande número de empresas não sobrevivendo a crise. É possível que empresas mais fortes invistam em aquisição de concorrentes ou empresas ao longo da cadeia de produção.
Outras oportunidades estão em aquisição de talentos. Empresas precisarão inovar drasticamente seus modelos de negócio para sobreviver e inovações implementadas durante a crise, terão potencial para virar a nova norma.
É fato que os mercados se acostumarão mais rápido com novas tecnologias, acelerando seu desenvolvimento e adoção.
Um foco em inovação será na criação de flexibilidade ao longo da cadeia de produção, para trazer produtos ao mercado de forma mais rápida.
Modalidades de venda como Dropshipping e estruturas Omnichannel se consolidarão como formas de distribuição contemporâneas e mais baratas.
[blockquote style=”3″]”Empresas que entenderem as alternativas digitais como complemento às práticas e modelos já estabelecidos, serão as de maior sucesso”[/blockquote]
Menos atividade econômica e mercado com menos poder de compra, podem proporcionar modelos de negócios alternativos com foco em produtos usados.
Mudanças no comportamento do consumidor de áudio e instrumentos
A pandemia trará temas como sustentabilidade á tona, intensificando discussões sobre materialismo, consumo excessivo e práticas irresponsáveis. O foco na sustentabilidade será especialmente importante dentre as gerações dos Millenials e Z. Empresas precisarão reorientar suas praticas para apelar para essa população.
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Com a atual necessidade de mudar repentinamente para mídias digitais, consumidores começarão a se familizar melhor com estes canais e empresas precisarão acompanhar esse novo crescimento digital. Estas transformações digitais afetarão também a gestão e o processo decisório das empresas no geral.
Mas quem ficará vivo no pós pandemia?
Sendo bem realista, em primeiro lugar o mais importante é ter caixa. O isolamento social impôs ao fluxo de caixa de todas as empresas do mundo, um teste de resistência sem precedentes. As receitas desapareceram e as depesas não somem na mesma proporção.
Mas em termos de gestão, o que pode ser feito? Você já ouviu falar no termo VUCA?
VUCA é uma sigla em inglês que traduzindo para o Português significa, volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Foi criado pelo exercito americano no final dos anos 90 para caracterizar ambientes desconhecidos, muito agressivos e desafiadores.
O planejamento militar neste cenário está baseado em reavaliações frequentes e medidas de curtíssimo prazo.
Fazendo uma analogia simples, é como se o general dissesse para a sua tropa: Eu não sei o que vocês encontrarão pela frente mas eu sei o que vocês precisam fazer. Dêem 10 passos, reavaliem a situação e tomem decisões para mais 10 passos.
Penso que neste momento este seja o melhor método de planejamento para os negócios, decisões tomadas a curto prazo baseado nos indicadores de momento, tendo como objetivos cortar gastos, ajustar oferta de produtos e o mais importante, buscar novas oportunidades pois se não há previsibilidade precisa ter ação.
Na medida em que se tenha mais conhecimento sobre a situação e a atividade econômica comece a dar sinais de reação, altera-se gradativamente o periodicidade das reavaliações para 15 dias, 30 dias, 45 dias e assim por diante.
Além disto, flexibilização e adequação, serão as palavras de ordem para os próximos anos. As empresas que entenderem as alternativas digitais como complemento às práticas e modelos já estabelecidos, serão as de maior sucesso e a transformação digital que já era uma realidade é acelerada com o COVID-19.
Repensar investimentos em profissionais de qualidade e estimular a produção de capital intelectual será outro ponto importante, assim como manter um nível de governança adequado ao seu nível será fundamental.
Veja, capital intelectual não está associado somente ao ambiente acadêmico, um colaborador criativo, proativo e engajado aos objetivos da empresa, certamente terá consigo um bom capital intelectual, assim como governança não quer dizer que sua empresa precisa ter um conselho gestor profissional, estou me referindo a processos bem definidos, métricas de avaliação bem construídas e acompanhamento frequente.
Destaco ainda a importância de zelar pela manutenção das parcerias, cliente, fornecedor. Momentos de perturbação requer atenção nas relações com toda a cadeia.
Nova distribuição de mercado
A combinação de baixos markups e gestão pouco qualificada, trará severos danos ao mercado e isto afetará todos os níveis, passando por lojas de varejo, fabricantes, importadores e suas relações com as marcas distribuidas no Brasil. Muitos deixarão de existir e a tendência é de que este número seja superior à 30%.
“Enxugar” o mix e focar em produtos de maior conhecimento, será uma realidade, este movimento criará um cenário ideal para empresas consolidadas investirem em novas marcas, ampliar instalações ou fazer novas aquisições. Talentos estarão disponíveis.
Resiliência e sustentabilidade
A pandemia intensificará na sociedade princípios de ecosustentabilidade. As discussões acerca dos benefícios que o isolamento trouxe ao meio ambiente, por conta da redução de CO² ganharão força e consequentemente, mais pessoas engajadas em questões ambientais. Surgirão mais espaços para produtos desta natureza.
O isolamento social proporcionará à sociedade brasileira, uma oportunidade única de amadurecimento e reposicionamento de valores. Sob o aspecto social, algo parecido com o que aconteceu em sociedades como a americana em 1929, japonesa e alemã no pós Segunda guerra.
[blockquote style=”3″]”É tempo de cuidar das relações, unir forças e seguir rumo a inovação e isto não está associado exclusivamente a tecnologia.”[/blockquote]
A valorização da família e sua concepção de núcleo essencial para o desenvolvimento e ordem social será um ponto importante. Neste sentido, terão sucesso produtos e serviços que promovam o bem estar, socialização e desenvolvimento individual.
Vaidade e demanda reprimida
Há neste momento uma massa de consumidores que se moveram para a compra digital entretanto, existe um universo bem maior de pessoas sem acesso a estes canais ou sem histórico de compras na internet.
Ainda que todos se movessem para o digital, não haveria oferta de lojas, produtos e serviços capazes de atender toda a demanda.
Desta forma a retomada das atividades trará oportunidades para as empresas que estiverem preparadas para atender a demanda reprimida ocasionada pelo isolamento.
Os mercados de cosméticos e moda, acreditam que experimentarão ainda uma demanda ocasionada pela vaidade reprimida, algo diretamente ligado à necessidade humana de boa aparência e bem estar, uma forma de compensação por tempos tão duros.
De certa forma, instrumentos musicais e alguns produtos de áudio estão ligados à sensação de bem estar e por este motivo, o mercado da música se beneficiará deste movimento.
Na China, a francesa Hermès bateu todos os recordes de faturamento no dia da reabertura pós isolamento.
Enfim…
Se diante da imprevisibilidade é preciso ter ação, então é hora de agir. O momento de discutir a viabilidade da internet e o comportamento do consumidor neste contexto já passou, já não é mais uma tendência e sim uma realidade.
É tempo de cuidar das relações, unir forças e seguir rumo a inovação e isto não está associado exclusivamente a tecnologia.
A inovação em gestão é um passo fundamental e o primeiro grande desafio consiste em readequar seu negócio tanto em estrutura quanto em operação, antes mesmo de qualquer investimento em tecnologia, a inovação começa por aí.