2023 foi um ano de reestruturação para o setor cultural, pois foi um período no qual shows, exposições, museus e teatros voltaram para o formato presencial, posteriormente a um hiato de proibição de aglomerações.
Foi possível ver grandes atrações nacionais e internacionais neste ano, lotando espaços e esgotando ingressos em segundos.
Sendo assim, para 2024, será necessário inovar e transcender obstáculos para manter esse pico e crescimento, sendo de extrema importância promover eventos com artistas e atrações que movimentem o público em massa. Dessa forma, será possível continuar contribuindo para a cultura em si, mas também na economia do Brasil.
Nesse sentido, grandes parcerias serão imprescindíveis para fomentar ainda mais o setor. Já a sustentabilidade precisa estar mais presente na cultura no país, seja por meio de redução de papel ou até mesmo na compensação do carbono emitido na montagem de shows e outros grandes eventos.
A cultura é um setor gigante, capaz de realizar sonhos, como ver a exposição do artista preferido, reviver um momento do passado por meio de obras de arte ou até mesmo estar perto do cantor favorito.
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Para se ter uma ideia do quanto a cultura pode impactar no dia a dia da população, segundo um levantamento divulgado recentemente pela Fundação Itaú e Datafolha, 54% dos brasileiros afirmam que a cultura é uma fonte de bem-estar. Também na pesquisa, para 61% dos entrevistados, atividades culturais ajudam na redução do estresse, tristeza e solidão.
Considerando a importância da cultura na rotina do cidadão, bem como na formação do ser humano, estar atento às tendências do setor é essencial para entender como ele tem funcionado atualmente e o que podemos esperar. Com isso, listei três desafios para 2024:
Manter o crescimento do mercado
O setor de eventos em 2023 registrou um crescimento de 46% de acordo com pesquisa da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE), e foi um dos principais geradores de empregos no país.
No ano, tivemos importantes nomes promovendo shows no Brasil, retornos de grupos musicais, exposições de grandes artistas, entre outros. Além disso, eventos menores, como os locais, também apresentaram grande público, que estava sedento por atrações em suas cidades e regiões.
Por isso, em 2024 o principal desafio será manter e atrair para o país atrações que lotem estádios e espaços culturais, mas mais do que isso, eventos que tragam o público para diferentes nichos da cultura, movimentando todo o mercado.
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No setor de shows, por exemplo, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico do Rio de Janeiro projetou que apenas um show de uma grande artista internacional injetaria R$ 158 milhões só na economia do estado carioca. Ou seja, os números falam por si só quando o assunto é entender o quanto eventos como estes podem impactar.
Por isso, inovar será a palavra-chave para os próximos anos para atrair o público e manter o crescimento do setor. Além da criatividade para chamar a atenção, utilizar-se de recursos tecnológicos pode ser uma boa solução, assim como se inspirar na experiência e organização de outros países.
Parcerias e fusões
Para 2024, o setor cultural terá que fazer grandes parcerias, assim como vimos em 2023. Por conta das atrações internacionais, o ano que passou fez fusões de relevância para a categoria. Estádios paulistas fecharam contratos multimilionários com produtoras dos Estados Unidos e estimam arrecadar R$ 60 milhões só nos próximos cinco anos, por exemplo.
Esse tipo de parceria nos deixa esperançosos, pois podemos esperar novidades e eventos de impacto avassalador no meio. Além disso, essas fusões também são oportunidades para democratizar ainda mais o acesso da população a eventos culturais.
Sustentabilidade
De acordo com dados de uma pesquisa da Teads em parceria com o Kantar, nove em cada dez brasileiros afirmam que a sustentabilidade possui um papel central em suas vidas. A busca por uma rotina mais sustentável também se reflete nas tendências culturais. A conscientização ambiental está modificando a maneira como consumimos, produzimos e apreciamos a cultura. A título de exemplo, hoje, grande parte das ticketeiras são on-line, o que reduz a impressão de ingressos, contribuindo para a preservação da natureza.
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Dessa forma, a utilização de produtos recicláveis para montagem de palcos e artes precisam fazer ainda mais parte da cultura. Teatros disponibilizam playbooks por meio de QRCode, o que também auxilia na redução de papel.
Além disso, nos próximos anos será ainda mais difícil nos depararmos com faixas pelas ruas para promover alguma atração, pois as redes sociais e aplicativos já são, de fato, os maiores meios para chamar atenção do público.
Outro ponto a ser citado no que tange à sustentabilidade no meio cultural é a compensação de carbono, que desempenha um papel crucial, diminuindo as emissões de gases de efeito estufa associadas a atividades culturais. Ao investir em projetos que reduzem ou neutralizam essas emissões ou mesmo fazendo a compensação, estamos não só minimizando o impacto ambiental dos eventos, mas também estabelecendo exemplos para outros setores. Integrar a sustentabilidade no meio cultural enriquece a expressão artística e contribui para a preservação do nosso planeta para as futuras gerações.
Entidade, atividades de arrecadação e multas no setor musical brasileiro.
O ECAD — Escritório Central de Arrecadação e Distribuição — é uma entidade privada, sem fins lucrativos, encarregada da arrecadação e distribuição dos direitos autorais de execução pública musical no Brasil.
Ele é administrado por sete associações de gestão coletiva: ABRAMUS, AMAR, ASSIM, SBACEM, SICAM, SOCINPRO e UBC.
O ECAD opera com base nas leis 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais) e 12.853/13, que regulamentam os direitos autorais no país.
O que o ECAD faz
As principais funções do ECAD são:
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Cobrar direitos autorais sempre que houver execução pública de músicas — em rádio, TV, eventos, shows, ambientes comerciais, plataformas digitais, etc.
Receber os valores pagos por esses usos, identificar as músicas executadas, apurar os titulares dos direitos e distribuir os valores às associações que representam esses titulares.
Manter em funcionamento o sistema de gestão coletiva: os titulares se filiam a uma das associações, cadastram suas obras musicais e fonogramas, e passam a ter direito de remuneração pelas execuções públicas.
Como funciona o sistema de arrecadação
a) Quem paga e quando
Qualquer utilização pública de música configura obrigação de pagamento, como bares, restaurantes, academias, shows, eventos, streaming e outros.
O valor é calculado com base em critérios que constam no Regulamento de Arrecadação, definido pelas associações que administram o ECAD. Fatores como o tipo de utilização (ao vivo ou mecânica), o ramo de atividade, a área sonorizada e a região socioeconômica podem influenciar o valor.
A cobrança pode ocorrer mediante boleto bancário e pode ser mensal (como para rádios, TVs, plataformas) ou eventual (como para shows ou eventos específicos).
b) Processo de identificação e distribuição
Os usuários de música fornecem informações como roteiro musical (setlist) ou relatórios de execução. Em alguns casos, o ECAD faz visitas em estabelecimentos para registrar execuções ao vivo ou com som ambiente.
Após identificação das músicas tocadas, o ECAD faz a distribuição dos valores arrecadados. Dos valores arrecadados, 85% são repassados para os titulares (compositores, intérpretes, músicos, produtores fonográficos). Outros 6% são para as associações e 9% ficam com o ECAD para sua administração.
Multas e sanções
A utilização pública de música sem pagamento ou licenciamento constitui violação da Lei 9.610/98. O ECAD alerta que, no caso de falta de pagamento, o infrator pode responder judicialmente por uso não autorizado de obras musicais e fonogramas.
No entanto, é importante destacar que o ECAD não pode multar diretamente o usuário no local; eventuais sanções costumam resultar em processo judicial.
Algumas empresas ou setores que não regularizam o licenciamento podem ser alvo de fiscalização e autuação. Por exemplo, bares ou lojas que toquem música ambiente sem pagar direitos autorais podem ter risco de cobrança retroativa.
Críticas e transparência
O ECAD já foi alvo de críticas quanto à transparência na arrecadação e distribuição, à forma de cobrança e aos critérios utilizados. Em comissão da Câmara dos Deputados houve questionamentos públicos.
Mas é importante dizer que todos os balanços e relatórios anuais são publicados anualmente no site da ECAD, dando transparência aos números, resultados e atuação. Além disso, a própria Lei 9.610/98 estabelece que o ECAD é o único órgão no Brasil habilitado a atuar na arrecadação e distribuição dos direitos autorais de execução pública de músicas. Já que não pode existir outro órgão com a mesma função, o Ecad é sim um monopólio, mas um monopólio previsto em lei.
Por que isso importa para músicos, produtores e empreendimentos
Para músicos, compositores e produtores: estar filiado a uma associação e manter suas obras cadastradas significa ter direito à remuneração sempre que essas obras forem executadas publicamente.
Para empreendimentos que utilizam música (bares, academias, eventos, shows, plataformas digitais): é necessário verificar se há licenciamento adequado junto ao ECAD. O não pagamento coloca o estabelecimento em situação de risco legal.
Para o mercado em geral: o sistema de arrecadação e distribuição garante que a música, como expressão artística e negócio cultural, seja remunerada e sustentável.
O ECAD opera como um elo central entre os criadores de música e os espaços que utilizam essas obras. Por meio da arrecadação e distribuição dos direitos autorais de execução pública, ele cumpre papel essencial na cadeia produtiva da música no Brasil. Entender seu funcionamento — quem paga, como se calcula, como se distribui e quais os riscos de não regularização — é fundamental para músicos, editoras, produtores e usuários de música.
Direitos dos artistas, inovação tecnológica e o desafio da autenticidade no setor musical.
A tecnologia de clonagem de vozes e de geração de vocais por inteligência artificial está cada vez mais presente no universo musical. Softwares permitem imitar timbres, inflexões e estilos vocais de cantores, ou criar vozes totalmente novas a partir de poucos minutos de áudio.
Esse avanço abre possibilidades criativas, mas também levanta questões éticas e jurídicas significativas — especialmente quando a voz de um artista é utilizada sem consentimento ou quando o uso gera confusão sobre autoria. Neste artigo, analisamos o tema sob três perspectivas cruciais: o consentimento e os direitos do intérprete; a autenticidade e valor artístico; e os desdobramentos legais e regulatórios no Brasil e internacionalmente.
Consentimento e direitos dos artistas
Um dos pilares éticos do uso de vozes clonadas na música é o consentimento informado. A voz humana é uma característica profundamente individual — um traço identitário que conecta o artista ao público. Portanto, quando uma voz é clonada ou alterada sem a autorização do titular, emergem riscos éticos e legais. Por exemplo:
O direito de publicidade (“right of publicity”) protege a utilização comercial da voz, imagem ou nome de uma pessoa reconhecida.
A tecnologia de clonagem vocal já foi utilizada em cenários fraudulentos: foi documentado que vozes falsas criadas por IA enganaram sistemas de segurança bancária.
Há registro de que as leis de direitos autorais nem sempre acompanham o avanço da IA — por exemplo, o relatório da United States Copyright Office aponta lacunas quanto à proteção de vozes clonadas no setor musical.
Caso real
O single “Heart on My Sleeve” (2023) utilizou vozes produzidas por IA no estilo dos artistas Drake e The Weeknd. O uso culminou em ação pela gravadora Universal Music Group por suposta violação de direitos autorais.
Para respeitar os artistas e evitar exploração indevida, é fundamental que haja contratos específicos quando se utiliza voz clonada ou gerada por IA — com cláusulas que estabeleçam quem autoriza, em que contexto, e de que forma os ganhos e responsabilidades serão divididos.
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Autenticidade, valor artístico e impacto no público
Além dos direitos legais, há um debate ético maior: qual o valor da voz humana quando ela pode ser “clonada”? Será que o público percebe ou aceita essa substituição? E o que isso significa para o vínculo emocional entre cantor e ouvinte? Algumas considerações importantes:
A autenticidade vocal influencia a percepção de “artista real” e “performance genuína”. Ferramentas de IA tendem a replicar estilos, mas podem falhar em capturar nuances emocionais ou contextuais que o intérprete humano traz.
Há risco de diluição do valor artístico se vozes imitadas se tornarem comuns: obras produzidas em massa com vozes clonadas podem reduzir a distinção de “quem canta” e “quem foi ouvido”.
Por outro lado, a tecnologia oferece oportunidades para experimentação — por exemplo, revive-se timbres de cantores falecidos (com autorização), ou criam-se colaborações “póstumas”. O problema ético aparece quando não há transparência sobre o uso de IA.
Caso real
O debate sobre “song covers” com vozes geradas por IA inclui a reflexão de comunidades online: “Não há como fazer cumprir qualquer lei que exija que o consentimento da pessoa imitada seja obtido antes que uma representação digital dela seja criada por inteligência artificial.”
Do ponto de vista jornalístico e de mercado, é importante que metais de credibilidade (por exemplo, selos, plataformas de streaming) indiquem quando uma voz foi gerada ou clonada por IA. A transparência preserva a relação de confiança com o ouvinte e evita erosão da arte vocal como diferencial competitivo.
Panorama jurídico e regulatório
No âmbito do direito, o uso de vozes clonadas ou deepfakes na música atravessa múltiplas frentes: direitos autorais, direito de imagem/voz, contratos, licenciamento de IA. Alguns marcos relevantes:
Um estudo apontou que o uso de tecnologias de clonagem vocal pode violar os direitos autorais tanto na fase de treinamento de IA (input) quanto na de produção de conteúdo (output).
A lei americana do estado do Tennessee, chamada ELVIS Act (Ensuring Likeness, Image and Voice Security), é um dos primeiros marcos para proteger vozes clonadas sem autorização.
Plataformas da música apontam que é necessário negociar licenças específicas para uso de vozes geradas por IA ou clonadas — sob pena de remoção ou sanções.
Panorama no Brasil e América Latina
Embora existam princípios gerais de direito autoral, direito de imagem e voz, a regulação específica sobre clonagem de voz por IA em música ainda está em formação. Revistas especializadas sugerem que o setor deve antecipar cláusulas contratuais que tratem de: autorização para IA, licenciamento da voz, divisão de receita, direito moral do artista, e indicação clara ao público.
Para o mercado latino-americano, inclusive o brasileiro, há urgência em:
Adaptar contratos de gravação e edição para contemplar voz gerada por IA.
Educar artistas, produtores e selos sobre riscos e obrigações.
Acompanhar o desenvolvimento regulatório em outros países para aplicar boas práticas.
Diretrizes para o uso ético na música
Com base nas análises acima, segue um conjunto de diretrizes práticas — úteis para profissionais da música, selos, produtores e jornalistas — para navegar de forma ética o uso de vozes clonadas ou deepfakes:
Obter consentimento claro e por escrito do titular da voz, especificando os usos permitidos (álbum, streaming, comercialização) e se será usada IA para modificá-la/cloná-la. Transparência para o público: indicar nos créditos ou metadados quando a voz foi criada ou clonada por IA. Negociar participação nos royalties, caso a voz clonada tenha caráter comercial. Verificar licenciamento da tecnologia de IA: direito de uso, exclusividade, responsabilidades. Preservar o valor artístico: evitar que substituições de intérpretes humanos por vozes clonadas erosionem a identidade do artista. Atualizar contratos e políticas internas dos selos para considerar o cenário IA — inclusive cláusulas de “uso futuro” da voz. Monitorar a jurisprudência e regulação: entender como leis locais e internacionais estão evoluindo. Educar o público e a imprensa sobre o que é “voz clonada” — para evitar confusões e manter a confiança na produção musical.
O avanço das vozes clonadas e dos deepfakes abre uma nova fronteira na produção musical: por um lado, uma promessa de inovação; por outro, um conjunto de desafios éticos, artísticos e legais. Como aponta o site Kits.AI: “Uma das questões éticas mais fundamentais… é o consentimento. A voz é um dos atributos mais verdadeiramente únicos de um indivíduo.”
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Para o setor musical — e para publicações especializadas como a Música & Mercado — torna-se fundamental não apenas acompanhar as inovações técnicas, mas também liderar o debate sobre como mantê-las alinhadas aos direitos dos artistas, à autenticidade da arte e à confiança do público. Em última instância, o sucesso dessas tecnologias dependerá da combinação entre criatividade, ética e clareza jurídica.
A Deezer está reforçando sua estratégia de transparência e exclusão de conteúdo sintético em playlists e recomendações.
A plataforma de streaming Deezer informou que mais de 28% das músicas que recebe diariamente são inteiramente geradas por inteligência artificial (IA). Esse número marca um crescimento acelerado em relação ao início do ano, quando o volume desse tipo de material representava 10% dos envios.
A Deezer implementa uma ferramenta de detecção capaz de identificar produções geradas por IA desde o início de 2025, tornando-se a única plataforma do setor a rotular explicitamente esse tipo de conteúdo.
Política de Exclusão
De acordo com a empresa, músicas produzidas inteiramente por IA não são incluídas em playlists editoriais ou recomendações algorítmicas, a fim de proteger a transparência e a distribuição justa dos royalties.
“Após um aumento significativo ao longo do ano, a música produzida por IA agora representa uma parcela significativa das entregas diárias de streaming, e queremos liderar o caminho para minimizar qualquer impacto negativo para artistas e fãs”, disse Alexis Lanternier, CEO da Deezer.
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O executivo enfatizou que a medida visa prevenir fraudes — consideradas o principal fator por trás da entrega de conteúdo sintético —, ao mesmo tempo em que garante que os usuários tenham uma experiência clara e confiável.
Crescimento Acelerado
Os dados divulgados pela Deezer mostram a rapidez do fenômeno:
Janeiro de 2025: 10% das músicas entregues foram geradas por IA.
Abril de 2025: o número subiu para 18%.
Setembro de 2025: a taxa atingiu o recorde de 28%.
Um desafio para a indústria
O caso destaca um dos debates mais acalorados do setor: como gerenciar o crescente volume de obras musicais criadas com inteligência artificial, equilibrando inovação, direitos autorais e a sustentabilidade econômica de artistas humanos.