Arte não é algo que seja isento de ideologia, porque o pensamento e o sentimento são suas bases enquanto materia-prima.
Filosofia é alimento ao pensador, portanto opinião é ferramenta do artista. Música como expressão de opinião é agente transformador e, com isso, o músico como opinante expresso e agente propagador de ideias consequencial acaba sendo o tal do “formador de opinião”.
A propagação de ideias na arte deve servir como material de construção, e não o oposto, ou a propaganda ideológica toma a frente da arte e esta fica sendo pretexto de uma pregação, e não a finalidade, tornando dispensável o único item que deveria ser indispensável, que é a estética qualitativa. Sem valorizar o conteúdo, muitos se atêm à função da semiótica e da doutrinação, até mesmo em nulidade de talento.
O que qualquer um pode fazer pode ser expressão de opinião, mas arte é outra coisa, e se diferencia da mediocridade.
Música, em específico, é arte sensorial, que evoca sentimentos e estimula o pensamento. Mas música também é produto, em um mercado no qual a existência dessa arte cria praticantes, ouvintes, mas também uma infinidade de serviços e equipamentos, que existem ao redor e em função da música.
Quem fabrica um instrumento, acessório ou oferece um serviço qualquer no mercado da música não pode se ater a questões de ordem de militância de pensamento, pois no mundo dos negócios não habita a vida privada. Mas, e na vertente do “tocar”, seria saudável um excesso de doutrinação pela submissão ideológica?
Isso tem se mostrado algo duvidoso, e embora o marketing de um artista e marca possa crescer na controvérsia, muitos assuntos acabam datados, então a análise que balanceia o tripé espontaneidade – negócios – bom senso deve se manter em equilíbrio.
Ninguém precisa ser politicamente correto o tempo todo, muito menos ser antagônico, via de regra. E em um momento de muito blá-blá-blá de críticas, e pouco lá-lá-lá de notas, há a necessidade de ações ecoando harmônicas.
Qual deve ser a certeza do profissional da música?
Que o ensino da música e a segurança na carreira de quem se profissionaliza garantem o mercado futuro, que garante consumidores de produtos e serviços de forma natural e em crescimento exponencial, o que gera lucro.
Não adianta fugir da regra de que o artista pode fazer um show pirotécnico grandiloquente tendendo à política ideológica de esquerda, mas o preço da entrada é alto. Isso é viver no êxito do capitalismo, que movimenta a economia mundial.
A praticidade de compreender a realidade esbofeteou muitos no advento dessa crise pandêmica que vivemos atualmente.
A ausência de aglomeração em grandes eventos mexeu no bolso de muitos “ideólogos da arte”, que não estão contentes em vislumbrar menos hedonismo em sua vida.
Vivemos do nosso trabalho, do valor que ele tem, em função de oferta e procura e de oportunidade, então há certas utopias desnecessárias, sim!
O mundo é feito de oportunidades que duram o momento de perceber que elas existem, e agora é hora de união, não de cisão social, muito menos de posicionamentos que afastem empresas da realidade. E no mercado da música, é fácil perder o foco.
Mesmo quando uma empresa usa sua marca numa campanha de teor social, as consequências devem ser vislumbradas.
Militância puramente emocional, sem visão de longevidade das ações e seus benefícios, é um ato de deslumbre de jovens inexperientes, não de praticantes de negócios sérios.
A diferença entre o êxito e o erro é a prática do bom senso.
Sim, existem causas que são nobres o suficiente para necessitarem de mobilização, pois interferem no futuro geral da humanidade. Mas nunca as vi como bandeira ideológica de vida de ninguém, nem nas redes sociais, nem na vida cotidiana.
O mundo pós-pandemia precisará de menos hipócritas e mais trabalho.
Esse é o fato de maior relevância, e que ninguém nota, porque todos querem mudança, mas poucos querem mudar.