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Luteria: como sobreviver numa época em que muitos se intitulam luthier?

Durante estes tempos incertos, percebi a antiga discussão de “quem é que pode receber o título de luthier” aflorar novamente.

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Desta vez, o assunto veio à tona fomentado pela quantidade de pessoas que começaram a atuar como “luthier”, possivelmente devido ao alto índice de desemprego e a dificuldade de muitos músicos e profissionais do show business perderem o seu campo de atuação e, com isso, a sua renda. Sem políticas que possam proteger toda uma classe profissional, como o indivíduo poderá sobreviver?

Telegram bannervInevitavelmente sempre teremos momentos de crise, bem como momentos de crescimento. No entanto, são nos momentos de crise que muitas pessoas se sentem mais encorajadas a empreender tendo como principal motivador a própria subsistência.

No cenário musical, não é diferente. Muitos são convidados a fazer com o limão que recebem, uma limonada. Outros preferem a opção de jogar em direção do canalha que ousa entrar em seu setor. Ação nada inteligente.

A luteria (ou, como muitos artesãos “práticos” denominam, luthieria) é, de fato, uma das atividades econômicas do setor que mais exigem conhecimentos multidisciplinares e, ainda assim, muitos aspirantes e profissionais “de longa data” insistem em incluir dogmas e “conhecimentos secretos” com o intuito de afastar outros potenciais concorrentes.

Fato é que, apesar de exigir conhecimentos multidisciplinares, a área de atuação de um luthier é bastante abrangente, partindo daqueles que atuam com reparos e consertos em geral; passando pelos restauradores, que possuem conhecimento teórico e habilidades em artes plásticas para restaurar instrumentos históricos e antigos rigorosamente de acordo com suas características originais; bem como construtores, que podem atuar nas fábricas de instrumentos musicais ou possuir ateliê próprio, coordenando uma equipe de auxiliares (workshops) ou produzindo de forma solitária (instrumentos de autor).

Estas informações podem não ser novidade para alguns, podem ser completamente desconhecidas para outros, mas nos ajudam a compreender que a atividade de luthier, em especial no setor de reparos e consertos em geral, mesmo que seja uma atividade técnica, serve como alternativa para um roadie ou músico de palco que enfrenta problemas em tempos de crise. E existe algum impedimento legal para que este profissional “aventureiro” – como alguns reparadores “profissionais” denominam – não atue na área? Evidentemente, não! 

Do mesmo modo que um sapateiro, ou até mesmo um marceneiro, pode atuar sem um curso específico, um luthier pode atuar profissionalmente sem a necessidade de uma formação específica. Pode atuar formalmente, emitindo nota fiscal pelos serviços, como também informalmente – e, de acordo com o SEBRAE, esta é uma das grandes dificuldades para que tenhamos um mapeamento real do tamanho do segmento.

E se não há impedimento na atuação, como diferenciar os bons profissionais dos ruins? Inevitavelmente será a habilidade para desempenhar a função, o portfólio e a qualidade do serviço prestado pelo artesão.

Os preços cobrados também serão muito diferentes e, geralmente, justificados pelo custo operacional, qualidade do serviço e reconhecimento do mercado, como ocorre em outros setores de prestação de servi ç os.

Mas, se nada impede pessoas que antes não atuavam na luteria oferecerem seus serviços, como o luthier que atua profissionalmente muito antes desta crise pode se defender? Como o músico pode proteger o seu instrumento de um profissional que pode estragá-lo em vez de repará-lo?

luteria violino

Se você é músico

1. Pesquise

Como em todo mercado, é fundamental pesquisar sobre a reputação e o portfólio de serviços prestados pelo profissional. Questione conhecidos que são clientes sobre a qualidade dos serviços, visite sites de defesa ao consumidor, bem como redes sociais para verificar a experiência de outros consumidores com o serviço prestado pelo luthier.

2. Preço X Qualidade

Nem sempre preço baixo e boa qualidade no serviço prestado são possíveis de serem encontrados no mundo real. Se você realizou a primeira etapa e encontrou muitos clientes elogiando o serviço do luthier, parabéns! Você acabou de encontrar um unicórnio! Caso o luthier cobre um preço muito baixo, seja desconhecido e não tenha nenhuma informação sobre ele ou qualquer portfólio de serviços, é melhor não arriscar, ainda mais se a prestação for informal. Afinal,  a dificuldade de comprovar a prestação do serviço, caso o serviço fique ruim, dificultará exigir qualquer tipo de reparação e as chances do serviço ficar ainda mais caro em outro luthier será maior. Por essa razão, sempre que possível exija a nota fiscal do serviço prestado.

3. Faça orçamentos, mas respeito o profissional

Não raras vezes ouvimos profissionais do setor reclamando por terem sofrido desrespeito por parte do cliente. Músicos que não possuem limites para brigar por preço, chegando a desmerecer o trabalho alheio.

Segundo os luthiers ouvidos, frequentemente são os mesmos músicos que retornam o contato solicitando cotação para o mesmo serviço – com o agravante de ter havido uma tentativa de conserto mal sucedida.

Sendo constatada a situação agravada, inevitavelmente o serviço ficará mais caro. Caso não concorde com o orçamento, leve a outro profissional para ouvir uma segunda opinião, mas não desmereça os serviços prestados com intuito de tentar um preço menor. Dificilmente irá funcionar e sua imagem ficará manchada com aquele prestador de serviços.

Nutrir empatia é fundamental para se conseguir benefícios num a rela&c cedil;ão de prestação de serviços, ainda mais em um setor que existem muitos aventureiros e poucos bons profissionais.


Se você é lutier

1. Conheça seu cliente

Se você atua no segmento de assistência técnica e reparos há algum tempo, certamente tem ideia do perfil consumidor que você atende.

Se não tem ideia de quem são, onde moram, como chegam a sua oficina e a única informação que possui são dos instrumentos que chegam em sua bancada, vai o alerta: tente responder o quanto antes essas informações antes que algum concorrente o faça!

Parece bobagem, mas saber estes pequenos detalhes de pontos em comum dos clientes que são atendidos pelo seu negócio podem auxiliá-lo a criar benefícios para a fidelização e procura em tempos de isolamento social.

Telegram bannerImplantar um sistema “Leva e Traz” para reparos e manutenção de instrumentos musicais, por exemplo, bem como pacotes de revisão periódica podem garantir praticidade para o dia a dia do cliente e a oportunidade de estreitar ainda mais a relação com o seu público consumidor.

2. Conheça o mercado

Saber apenas atuar bem tecnicamente não é o bastante em tempos de crise, seja qual for o segmento. Busque conhecer a dinâmica do setor que atua e mapeie a entrada de novos concorrentes e a forma como estão atuando. A partir disso, analise as ameaças e as oportunidades que se apresentam no horizonte. Tenha certeza que, sem avaliar o cenário, são grandes as chances de você brigar com moinhos de vento acreditando se tratar de gigantes.

3.   Ofereça mais do que um bom preço

Entregue a promessa que o cliente queria

Nem sempre o cliente está em busca do preço mais em conta. Uma das principais vantagens de se conhecer o cliente é saber o que ele deseja de fato e, a partir disso, oferecer a melhor solução para o problema que ele possui. Não prometa aquilo que você não é capaz de entregar ao cliente. Seja honesto e garanta o melhor serviço que possa oferecer. Entregar a promessa que o cliente queira é mais importante que preço baixo. Lembre-se: Fatos são negociáveis; Percepções, não!

4.   Evolua, mas não caia em armadilhas

Quando atuamos bem em uma área, não raramente acionamos o “piloto automático”, entramos no clima e deixamos nossa mente voar criativamente em devaneios propostos por ela.

Eles podem gerar armadilhas, também conhecidas como “zonas de conforto”, onde acreditamos não necessitar navegar em outros mares, mesmo que estejamos descontentes com o barco atracado. Períodos de crise enaltecem nossos descontentamentos com a situação, mas, com o aumento da concorrência, justificamos no outro as nossas fraquezas.

O problema não está no “outro”. Afinal, ele tem o mesmo direito de desbravar outros mares, mesmo que o outro seja um jovem marinheiro e imaturo.

Se deseja manter-se bom navegador, aceite o desafio de se lançar ao mar, assim como os aspirantes. Com a sua experiência, a tendência é de ser inspiração para os mais jovens e de se sent ir vivo em mais um desafio. Seja o herói, o exemplo encarnado daquilo que acredita!

Não há razão de se preocupar em criar regras para engessar o mercado. Quanto mais pessoas a trabalhar, melhor. Aventureiros sempre existirão. Não cabe a nós julgar quem é ou não aventureiro, mas ao consumidor.

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