
Você passa horas, talvez dias, esculpindo cada detalhe da sua mixagem. O bumbo soa pesado, a voz está presente, os reverbs criam a atmosfera perfeita.
Você exporta o arquivo, orgulhoso do seu trabalho, e o envia para a masterização. Dias depois, o resultado volta… e algo está errado. A música perdeu impacto ou soa esmagada, há desequilíbrio tonal entre graves, médios e agudos, low end embolado, proeminência de algum instrumento. Onde foi que o processo desandou?
A resposta, na maioria das vezes, não está na masterização, mas na ponte que a sua mixagem construiu (ou não) para ela. Uma masterização profissional não faz milagres; ela potencializa o que já existe.
Aqui estão os pilares fundamentais para mixar pensando na masterização, seguindo meu processo atual de mixagem ITB:
1 – Criação de grupos:
A criação de grupos facilitará suas correções de desmascaramentos entre grupos (usando o Pro-Q4) de forma não muito agressiva, mas o bastante para diminuir conflitos de frequências, definir os instrumentos e evitar distorções na sua mix, também facilitará nos controles de volumes entre as seções de instrumentos, O resultado é uma mixagem mais transparente, equilibrada e musical, mais preparada para a masterização.
2 – Headroom:
Headroom é, literalmente, o espaço entre o pico mais alto do seu áudio e o teto digital (0 dBFS). Entregar uma mix “quente”, com picos batendo em 0 dBFS e um limiter no canal master, é como entregar a um pintor uma tela já preenchida, pedindo que ele crie uma obra-prima.
O engenheiro de masterização precisa de espaço para aplicar seu processamento – equalização, compressão, saturação – sem causar distorção digital (clipping).
Regra de Ouro: Exporte sua mix final com picos entre -6 dBFS e -3 dBFS.
3 – Dinâmica:
Na ânsia por um som “alto”, muitos comprimem excessivamente a mixagem, resultando em uma “onda quadrada” sem vida. Lembre-se: a masterização é a etapa responsável por otimizar o volume final (loudness). Se a sua mix já chega sem dinâmica, o engenheiro de masterização não tem como adicionar impacto e profundidade, e muitas vezes perdendo muito tempo para, de forma artificial, restaurar alguma dinâmica. Fora isso, ele só poderá torná-la mais alta, o que geralmente resulta em um som cansativo e sem emoção.
Preserve os Transientes: Tenha cuidado para não esmagar a bateria e a percussão. O “punch” e a dinâmica da música vivem nesses picos.
Use Automação: Em vez de comprimir tudo para nivelar, use automação de volume para controlar as partes mais dinâmicas, como vocais e solos. Isso mantém a performance natural e viva.
Caso a música cresça ao final, use o recurso de automação também na compressão paralela da sua mix (caso esteja usando) para atenuar a compressão nesse momento para não achatar a sua mix nesse momento.
4 – limpeza dos instrumentos:

Pro – Q 4 by Fab filter
Faça alguns sweeps (varreduras) principalmente nas peças acústicas de sua mix, o som precisa estar livre de ressonâncias para uma mix mais definida. Uma mix limpa antecipará possíveis problemas na masterização que com certeza serão detectados pelo técnico, cujas correções poderão não ser tão bem-sucedidas quanto às feitas diretamente na mixagem.
5 – Equilíbrio Tonal:

Tonal Balance by izotope
Uma mix bem equilibrada em termos de frequência se traduzirá muito melhor na masterização e a tornará mais fácil.
Graves Definidos, Não Dominantes: O erro mais comum. Excesso de sub-graves (abaixo de 60Hz) consome um headroom imenso e cria um som “embolado”. Use filtros high-pass em instrumentos que não precisam dessa região (vocais, guitarras, pratos) e garanta que o bumbo e o baixo tenham seu próprio espaço, sem se sobreporem de forma destrutiva na sua mix.
Médios Claros, Não Agressivos: A região entre 2kHz e 5kHz é crucial para a clareza, mas também onde o ouvido humano é mais sensível. Excesso aqui pode soar estridente e cansativo após a masterização.
Agudos Suaves: Brilho é ótimo, mas sibilância e pratos excessivamente brilhantes se tornarão ainda mais evidentes e irritantes depois de masterizados. Use um de-esser se necessário ou um eq dinâmico, e controle os agudos para que soem coesos na sua mixagem, não ásperos se sobressaindo.
6 – Imagem Estéreo:

A1 Stereo control by Alex Hilton
Uma imagem estéreo ampla é atraente, mas uma base mono sólida é essencial. Bumbo, caixa, baixo e vocal principal geralmente devem viver no centro do palco. O uso excessivo de “stereo wideners” no canal master pode criar problemas de fase, fazendo com que sua mix soe fraca ou estranha em sistemas monofônicos como caixas de som de celular ou em clubes.
Dica Profissional: Verifique sua mix em mono regularmente durante o processo ( se possível mixe em mono, que é uma técnica avançada de mixagem profissional). Se elementos importantes desaparecem ou perdem muita força, você tem um problema de fase que precisa ser corrigido antes da masterização.
7 – Conferências e referenciamentos finais e Pré-Master:

. Referências e consistência entre faixas
Faça o A/B com referências do mesmo gênero e estética, devidamente level-matched (ganho compensado) para evitar o viés do “mais alto é melhor”. Para EPs/álbuns, decisões imediatas de cor e dinâmicas consistentes entre faixas. Monitore a relação entre os grupos dos instrumentos para repetir “proporções” bem-sucedidas das referências usadas, mas sempre em acordo com a proposta do produtor musical. Use o METRIC AB da Alliance para isso.
. Simulação e preparo processual final para a entrega da mix
Faça a seguinte simulação: Após o alinhamento da compressão paralela em relação ao volume do submix, aplique uma compressão no canal master da mix com redução de no máximo – 2 dbs, raio em 1,5:1, tempo de ataque em 25 ms e release em 300 ms (essas configurações são somente para conferência final, não valendo para uma possível masterização In the box), aplique um limiter após o compressor ( recomendo o Stealth da T-racks ), dê ganho no stealth, e no metric AB na seção LOUDNESS confira já chegou em – 9,6 Lufs de volume integrado, se não, dê mais ganho até chegar (esse é o padrão que uso para masterizações de músicas comerciais, haverá estilos que demandarão mais volume final como rock, punk rock, heavy metal, EDM entre outros estilos mais), aplique um pouco mais de compressão se notar o som meio solto ou agressivo, caso isso não resolva completamente, verifique quais instrumentos ou grupos estão provocando essa distorção na maximização, corrija ( certamente na compressão de grupos), ou atrase mais ainda o release da compressão do canal master da sua mix para melhor encaixe do som nesse volume de – 9,6 Lufs.
Vá à seção de DYNAMICS do Metric AB e confira se a quantidade de compressão da sua master, esse valor deve variar entre – 9 e – 8 de redução, abaixo de – 8 sua master já ficará com muita compressão (lembre-se, estamos aqui somente simulando a compressão de masterização para uma melhor entrega da mix). Encontrada a compressão ideal para a maximização de volume ideal que será de -9,6 Lufs, só então você poderá enviar sua mix para masterização, mas antes desabilite todos os plugins do canal master, inclusive o compressor que você usou, não se preocupe, o profissional de masterização saberá fazer exatamente o mesmo caminho que você fez, mas com equipamentos analógicos e profissionais para somar calor e profundidade a sua mix.
8 – A Entrega Final:

A forma como você prepara e envia seus arquivos demonstra profissionalismo e facilita o trabalho do engenheiro de masterização.
- Formato: Exporte em WAV ou AIFF, na mesma taxa de amostragem (sample rate) e profundidade de bits (bit depth) da sua sessão (ex: 48kHz, 24-bit ou 32-bit float).
- Início e Fim: Deixe um ou dois segundos de silêncio no início e no final da faixa. Não corte o “rabo” do último reverb ou delay caso exista.
- Comunicação é Chave: Envie notas para o engenheiro. Qual é a sua visão para a música? Existe alguma faixa de referência que você admira? Mencione quaisquer preocupações que você tenha com a mix. Essa colaboração é inestimável. Se possível envie uma faixa do Youtube para referenciamento timbral, e outra para referenciamento de estilo.
Dicas finais
Invista em tratamento acústico básico, bons monitores, boa interface de áudio e faça uma correção de monitorização e sala pelo sonarworks para ter um som e uma audição mais plana. Monitore em três níveis de volume: baixo (conversação), médio (trabalho) e alto (checagem de impacto e o low end).
Conclusão:
Pensar na masterização durante a mixagem não é sobre limitar sua criatividade; é sobre tomar decisões conscientes que garantam que sua visão criativa e seu processo técnico, sobrevivam e sejam amplificados na etapa final que é a masterização.
Veja o engenheiro de masterização como seu parceiro. Ao entregar uma mixagem dinâmica, equilibrada e limpa, você não está apenas facilitando o trabalho dele; você está construindo a ponte dourada que levará sua música do “ótimo” para o “excelente”. E lembre-se: Mixagem e masterização não são duas etapas isoladas; são os dois últimos elos de uma mesma corrente criativa e processual.
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*Autor: Marlon Porto, técnico de áudio em Promaster Studios