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Exportação de música brasileira, uma boa ideia!

O Brasil possui uma série de dificuldades na exportação de sua música para uma audiência internacional, mesmo assim, exportar é preciso

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O Brasil possui uma série de dificuldades na exportação de sua música para uma audiência internacional, mesmo assim, exportar é preciso

Escritórios de exportação de música são algo relativamente novo. A French Export Bureau foi a pioneira da área, criada em 1993, e, atualmente, a maioria dos países europeus, já possuem seus próprios escritórios de exportação, enquanto seus modelos e orçamentos variam. Existem também entidades culturais com presença internacional – como o Institut Français, Goethe Institute e o British Council.

Alguns países possuem Centros de Informação Musical, geralmente focados na música folk local e música clássica, porém também com um foco em exportação. A maioria dos escritórios de exportação oferecem uma gama similar de serviços, frequentemente com uma série de diferentes parceiros locais. Por exemplo, a estrutura de exportação do Reino Unido envolve diferentes fontes de financiamento, de diversas entidades, para realização de uma variedade de serviços e atividades.

Juntamente com os escritórios de exportação europeus, outros países com escritórios de exportação bem-organizados incluem o Canadá, a Austrália e a Coréia do Sul. Orçamentos são geralmente estabelecidos em uma base de 2 anos e podem variar de € 100 mil até valores próximos de € 1 milhão. Considerações orçamentárias são muito importantes, no auxílio a especificar se nosso projeto é puramente cultural (e simbólico) ou comercial (onde estamos competindo com outros escritórios de exportação pelo nosso espaço no mercado internacional).

O Brasil possui uma série de dificuldades na exportação de sua música para uma audiência internacional – sendo as mais comuns o idioma, distância, burocracia, e a escassez de apoio financeiro.

A repercussão internacional de artistas como Anitta e Pablo Vittar ainda é uma incógnita; Seriam eles apenas produtos do maquinário marqueteiro por trás da Sony e Warner, ou talvez estariam abrindo um nicho onde outros artistas e companhias brasileiras podem participar no mercado internacional?

E será que outros artistas brasileiros podem seguir estes passos sem o suporte de gravadoras internacionais e playlists do Spotify? Existe algum público real e numericamente relevante no exterior? Uma base de fãs?

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E quanto a nova geração de cantores de MPB? Conseguem se estabelecer no exterior, assim como Caetano, Gil, Marisa Monte, Céu, e Vanessa da Mata tem feito no passado, agora sob circunstâncias diferentes?

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O papel de um escritório de exportação é criar a fundação de trabalho, estabelecer uma estrutura de networking e oportunidades para que empresas e futuros talentos possam colher os benefícios de seus trabalhos. O foco de qualquer escritório de exportação deve depender de demandas realistas, necessidades e participação ativa do setor. E, assim como o setor se encontra em constante fluxo (novas tecnologias, novas tendências, novos modelos de negócios), o escritório de exportação também deve ser flexível o suficiente para se adaptar a estas mudanças.

A maneira com o qual tratamos nossas indústrias criativas, reflete em como nos consideramos enquanto uma nação. Basta pensar em países que queimaram livros e perseguiram seus artistas para entender a política e visão cultural daqueles no poder – e o impacto resultante que é gerado na economia criativa local e na imagem que o país retrata mundo afora.

A força econômica e visão da Coreia do Sul, por exemplo, é refletida no sucesso que o K-Pop tem tido ao redor do mundo. Artistas como U2, Abba, Daft Punk e Kraftwerk tem gerado soft power para seus respectivos países muito além de suas conquistas puramente musicais – e, frequentemente, mais que os esforços de seus representantes diplomáticos. Você não precisa gostar da música, mas são inegáveis as coberturas de imprensa positivas e oportunidades comerciais de longo termo.

Embora o Brasil tenha tradicionalmente um longo histórico de exportação de compositores, músicos e cantores de sucesso, o país tem sido amaldiçoado no exterior com uma imagem mainstream que retrata o exótico e erótico. Garotas de biquíni na praia com o pano de fundo de adolescentes carregando metralhadoras fugindo das favelas enquanto milícias policiais corruptas disparam contra elas, acompanhadas por uma trilha sonora de batucada e batidas de funk. Enquanto a maioria das sociedades ocidentais possuem seus próprios problemas sociais equivalentes, no Brasil estas características são constantemente retratadas como definidoras da sociedade, e pouco ou quase nada é feito para apresentar uma outra imagem e diferentes realidades do país.

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O Brasil nunca teve nenhum projeto de exportação a longo termo com apoio contínuo, tanto da indústria quanto de políticas governamentais. Essa fragmentação e falta de continuidade é frustrante tanto para a indústria local, assim como para parceiros internacionais que ficam receosos de investir em projetos que necessitam um aporte financeiro inicial proveniente do lado brasileiro.

O Brasil, geralmente através dos Ministérios da Cultura e Turismo, tem, tradicionalmente, investido grandes quantias de dinheiro em diversos eventos musicais internacionais esporádicos, que vem a gerar um retorno financeiro para aqueles diretamente envolvidos com a produção do evento, mas que causam poucos resultados de longo prazo, especialmente no que diz respeito a estabelecer um público internacional para consumir nossa música. Caipirinhas gratuitas e uma noite de gringos dançantes não criam um mercado.

Isso não quer dizer que a música e artistas brasileiros não tenham carreiras internacionais. Muitos tem, através de uma mistura de trabalho duro, talento, sorte e uma rede de parceiros internacionais com mentes afins. Mas empresas individuais não podem competir com o poder financeiro e profissionalismo de escritórios de exportação internacionais.

Sem dados, sem números

Uma grande dificuldade é a carência de informação do quanto a musica brasileira realmente gera no mercado internacional. Sem números, se torna difícil fazer lobby para conseguir apoio governamental. As principais fontes de renda são:

  • royalties de execução pública
  • vendas de música gravada (CDs, LPs, streaming, downloads)
  • sync
  • branding/marketing
  • caches/merchandising

Somos um país notoriamente carente de transparência sobre quanto nosso setor musical realmente vale – tanto no Brasil quanto no exterior.

É mais do que óbvio que o setor musical brasileiro requer um escritório de exportação, organizado pela indústria musical local e financiado por uma colaboração mista do governo e um coletivo de associações como a Abramus e UBC. É importante que o próprio setor musical esteja envolvido no financiamento de atividades de exportação, aproximando players do mercado mainstream e independente. O sucesso massivo no Brasil de, por exemplo, música sertaneja, indica que o país tem profissionais altamente competentes com uma riqueza de experiência e know-how.

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Assim como os incentivos de ICMS no passado (Disco É Cultura) ajudaram a estimular o crescimento da produção de música local, nós precisamos de uma “taxa sobre o sucesso” para estimular novos entrantes no mercado. Mas é como se nós tivéssemos medo de exigir que a maioria que mais se beneficia, devesse dar algo de volta ao setor de onde eles emergiram. O tamanho do mercado local ilustra como poucos afortunados – e a indústria que os apoia – podem prosperar em um glorioso isolamento, às custas da maioria.

Apesar da grande variedade de sons e gêneros dentro da música brasileira, internacionalmente ela é categorizada dentro do gênero “world music”. Com a música brasileira, nós flutuamos entre mundos. Os grandes artistas vendem bem o suficiente no mercado interno a ponto de não precisarem se preocupar com o mercado internacional (ou não podem tomar o risco de investir tempo e dinheiro no exterior). O mercado latino não dialoga muito com o brasileiro (e vice-versa). O próprio setor de world music não considera a música brasileira com world music! E o setor de indie/rock ainda nos percebe com referências, já antigas, dos anos 60, com Tropicália e Tom Zé! E para o nosso mais notório gênero musical, o samba, são pouquíssimos os fãs internacionais da música que saberiam dizer o nome de qualquer artista do gênero.

O Brasil tem um histórico de sucessos internacionais esporádicos, da bossa nova até atos como Carrapicho, Sepultura, Cansei de Ser Sexy, Michel Telo, e recentemente Anitta e Pablo Vittar. O país também tem um forte impacto em mercados de nicho como metal e jazz – mas normalmente sucessos pontuais, sem continuidade de outros artistas, e raramente sem um impacto mainstream.

Continuamos a sermos relegados pelo exótico, com sucesso dependendo mais do interesse de companhias internacionais (selos, agencias, fãs etc) do que de trabalho focado gerado aqui no Brasil.

Isso, para ser franco, é um desastre. A música brasileira contemporânea merece uma audiência internacional. Infelizmente, a audiência internacional não está ciente da nossa existência. Até mesmo os grandes nomes das décadas de 60 à 90 estão lentamente se tornando desconhecidos à medida que o público internacional (inclusive jornalistas e DJs de rádio) tem envelhecido e não é substituído por uma nova geração. O legado – em termos de imagem e financeiro – está sendo abandonado.

Claro, quando comentamos sobre um público internacional, nós ainda estamos pensando em termos tradicionais – EUA, Europa, talvez Japão. Regiões como o continente africano, boa parte da Ásia, China e Índia ainda são desconhecidas para nós – e nós para eles – mas há um potencial massivo para explorar nosso catálogo de 100 anos de música. A medida que conglomerados internacionais continuam comprando catálogos musicais – com a intenção de gere retorno ao investimento – o que podemos fazer para impulsionar nosso “back catalogue” para frente? Se uma geração de japoneses (ou DJs do Reino Unido e hipsters dos EUA) acolheram nossa música dos anos 60 e 70, seria possível acharmos um novo público de ouvintes em outros territórios onde a sonoridade dos Beatles é tão nova quanto a de Os Mutantes?

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Houveram diversos incentivos para promover a música brasileira no exterior. Um dos primeiros foi em 1945, quando o Ministério de Relações Exteriores anunciou:

O crescente interesse pela música brasileira exterior e uma excelente oportunidade de defender o Estado das Relações Exteriores de maneira efetiva, a Secretaria de Estado das Relações Exteriores está usando uma escolha mencionada de uma discoteca mínima da música, em seu aspecto erudito e popular, para ser remetida a importantes Missões diplomáticas e Consulados de carreiras do Brasil, bem como, por suas coleções intermediárias, às emissoras mais acreditadas e, eventualmente, representantes culturais a que possam fazer parte do interesse, o recebimento de uma dessas coleções . AHI (Rio de Janeiro) DCI/540.36/Circular 171.

Em 2001 a BM&A foi criada com financiamento do APEX-Brasil (de R$ 1 a 4 milhões por projeto), focada principalmente em organizar a participação brasileira em feiras internacionais de câmbio como a Midem, Womex, etc. O Ministério da Cultura e escritórios regionais de cultura também investiram recursos em atividades promocionais e atividades, assim como no auxílio nos custos de viagens internacionais.

Embora os gastos, a logística e a visão envolvidos na participação em feiras internacionais tenham impedido a maioria das empresas de participar, o recente crescimento das feiras virtuais – muitas vezes gratuitas – não trouxe um aumento significativo da participação brasileira. Isso é algo para refletir! Por que os artistas e suas respectivas empresas não estão participando?

A participação da música brasileira nas playlists das rádios internacionais e na imprensa especializada continua caindo a cada ano. Uma reclamação do setor internacional é que eles não têm mais acesso às novas gravações brasileiras e têm poucas informações sobre os desdobramentos aqui. Links enviados por e-mail para o Spotify não são suficientes!

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Além dos profissionais da música brasileira que já têm uma rede internacional (criada por meio de turnês, participação em feiras, ou acordos de licenciamento, ou por meio de pesquisas!), muitas empresas nacionais carecem do básico para contatar possíveis clientes internacionais.

As bases

As bases para a exportação de música já foram criadas e testadas por escritórios internacionais de exportação que continuam inovando e reagindo às mudanças na indústria – seja devido ao recente episódio do corona vírus ou às mudanças tecnológicas em andamento na indústria. Sua existência e crescimento contínuos apenas reforçam nossa necessidade de tratar o setor musical brasileiro com o suporte profissional e financeiro que merece.

Uma configuração básica seria a seguinte:

1.   Criar um Conselho de Exportação da Música Brasileira com representantes de todos os setores relevantes para coordenar com o governo nacional e local, indústria mainstream e independente, com um número de consultores dos diferentes setores, contratados por sua área de especialização, em uma base de projeto por projeto.

2.   Estabelecer uma série de estratégias de exportação de 2 anos, identificando e focando em áreas que já geram resultados e em outras que devem ser desenvolvidas. Isso pode variar desde o apoio ao setor de MPB/world music já existente, até os novos setores de funk e hip hop, mas também incluindo serviços como estúdios, produção de vídeo e TI. É fundamental que o principal financiamento venha do próprio setor. Na Europa, 75% dos escritórios de exportação recebem financiamento das sociedades de gestão locais, geralmente cerca de 25% do seu orçamento total. No caso do Reino Unido, Hungria, Portugal e Itália, as sociedades são responsáveis por pelo menos 75% do orçamento total. No caso do French Music Export Office, 57,7% vem do financiamento do governo (soft power!), enquanto o restante vem das sociedades de cobrança e dos membros que pagam uma taxa anual.

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3.   Prestar assistência consular internacional aos exportadores de música que necessitem de apoio no terreno (vistos, networking, showcases e espaço físico para reuniões com clientes). Isso também envolveria a identificação das embaixadas em países que têm um circuito de turnês estabelecido para artistas brasileiros, bem como países que sediam conferências de música e feiras. Também seria importante identificar os principais atores que já apoiam a música brasileira no exterior e entender suas necessidades, criando um banco de dados dentro das embaixadas. Playlists atualizadas e boletins informativos sobre o setor musical brasileiro também seriam recomendados para todas as embaixadas.

4.   Publicar anualmente um levantamento de dados de todos os setores da música brasileira, incluindo exportações. Também seria recomendado publicar atualizações regulares sobre atividades na indústria local para publicações como IQ, Billboard, etc.

5.   Apoiar a participação continuada de empresas e artistas brasileiros em eventos e feiras internacionais do mercado musical.

6.   Explorar a utilização do conteúdo musical brasileiro em feiras envolvendo os demais setores de exportação (alimentos, cosméticos, cinema, café, etc), bem como branding e marketing com grandes marcas.

7.   Implementar mentoria e treinamento para aspirantes a empreendedores da área de exportação de música em colaboração com órgãos nacionais como o Sebrae em conjunto com entidades como ABMI, UBC e Abramus.

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8.   Coordenar com festivais e eventos de música brasileira a participação de profissionais da indústria musical internacional (bookers, jornalistas, supervisores de música) para vitrines e atividades de networking.

9.   Investigar estratégias de apoio a programas de empresas envolvidas em projetos de tecnologia musical e start-ups empresariais.


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Behringer corta preços no Brasil: O que lojistas devem fazer para não perder espaço para a China?

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Uma nova estratégia em resposta a um mercado cada vez mais competitivo


No final de 2024, a ProShows, distribuidora da Behringer no Brasil, fez um anúncio significativo: a redução progressiva de até 40% dos preços da marca para revendedores e consumidores. Mais do que uma simples mudança comercial, essa decisão reflete um reposicionamento global da empresa em um setor que passa por acelerada transformação, afetando tanto a própria marca quanto o varejo.

A nova dinâmica do mercado de áudio

Desde sua fundação em 1989, a Behringer revolucionou o mercado de áudio ao oferecer equipamentos acessíveis, democratizando o acesso a tecnologias antes restritas a poucos. Esse modelo de negócio permitiu um crescimento exponencial, culminando na aquisição de marcas icônicas como Midas e TC Electronic. Contudo, o panorama competitivo mudou drasticamente.

A ascensão de fabricantes chinesas em marketplaces globais, como AliExpress, Shopee e Mercado Livre, tem forçado uma reavaliação estratégica. Estudos da revista Música & Mercado indicam que pelo menos 50% dos equipamentos de áudio mais vendidos no AliExpress são enviados diretamente da China para o Brasil, muitos sem marca reconhecida, mas com avaliações positivas dos consumidores. Esse modelo de venda direta impacta diretamente o varejo tradicional, colocando distribuidores e lojas que investem em estoque local e atendimento ao cliente em desvantagem.

Nesse contexto, a decisão da ProShows de repassar a redução de preços dos produtos Behringer deve ser vista como um esforço significativo para manter a competitividade. No entanto, é fundamental que os lojistas também façam sua parte e comuniquem ativamente essa redução de preços ao consumidor final. Sem uma comunicação clara, potenciais clientes da Behringer podem continuar buscando produtos similares nos marketplaces chineses, simplesmente por desconhecerem essa nova estratégia.

Essa mudança não se trata apenas de baixar valores, mas de valorizar a compra em lojas locais, tanto físicas quanto digitais, garantindo que o mercado brasileiro permaneça forte e competitivo diante do avanço das vendas diretas internacionais.

“Enxergamos uma perspectiva inédita de avanço na participação de mercado do Music Tribe no Brasil para 2025.
Apesar de existir um tempo para que as reduções reflitam integralmente no mercado, em apenas 4 meses nossas vendas cresceram mais de 50%.”Gabriel Pinto – Diretor Comercial da Proshows

A reação da Behringer

Uli Behringer, fundador e CEO da empresa, se destaca por sua abordagem centralizadora e obsessão por eficiência. Diferentemente de outros líderes do setor de tecnologia, como Elon Musk ou Tim Cook, que equilibram inovação e estratégias de relacionamento corporativo, Behringer prioriza o controle total sobre as operações, focando em automação industrial e na redução de intermediários. Seu estilo hands-on e sua resistência a concessões podem ser um diferencial, mas também levantam questionamentos sobre a capacidade da empresa de se adaptar a um cenário de consumo cada vez mais digital e colaborativo.

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Por meio do conglomerado Music Tribe — que controla diversas marcas, incluindo a Behringer — a empresa vem anunciando constantes melhorias em seus processos de produção. Em 2024, prometeu investir mais de US$ 100 milhões em automação industrial, incluindo novas máquinas SMT da Panasonic e um sistema de inspeção óptica com suporte de inteligência artificial. O objetivo é claro: reduzir custos e manter a competitividade em um setor onde os preços estão cada vez mais comprimidos.

Se antes a Behringer ocupava a posição de disruptora ao oferecer qualidade a preços acessíveis, hoje ela precisa se defender de concorrentes menores com estratégias de fixação de preços agressivas. Em um mercado cada vez mais pautado por preços e avaliações online, a empresa enfrenta uma reconfiguração nas decisões de compra do consumidor.

O próprio Uli Behringer enfatizou: “Estamos atualmente construindo a fábrica mais avançada do mundo, a Indústria 5.0, para aumentar a eficiência e a qualidade, permitindo ainda mais reduções de preços no futuro.” Ele também acrescentou: “Focamos especialmente em músicos em regiões emergentes, onde a pobreza muitas vezes limita o acesso a instrumentos. A América Latina é um desses mercados, e você (Música & Mercado) entende suas necessidades únicas.”

O desafio da relevância

Outro ponto crucial é a variação nas estruturas de venda entre diferentes países. Embora a digitalização das compras seja uma tendência crescente, mercados como o brasileiro ainda demandam uma estratégia híbrida. Para manter a liderança, é essencial unir lojas físicas a uma exposição adequada, treinamentos e endorsers, além de garantir uma estratégia de preços coerente entre os canais, equilibrando o ponto de venda com a experiência digital.

Além da pressão de preços, a Behringer enfrenta desafios na comunicação com o mercado. Nos últimos anos, a empresa se distanciou de eventos globais importantes, como NAMM, ProLight & Sound e Music China, reduzindo o impacto de sua presença entre distribuidores e formadores de opinião. Em um setor em que a reputação é fundamental, essa estratégia pode ter sido um equívoco.

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Hoje, principalmente entre consumidores mais jovens, as decisões de compra são fortemente influenciadas por avaliações em marketplaces e por criadores de conteúdo digital. Produtos desconhecidos, mas bem avaliados, podem competir de igual para igual com marcas tradicionais. Ao confiar excessivamente no peso de seu nome, a Behringer abriu espaço para concorrentes menos conhecidos, mas altamente engajados na esfera digital.

Um novo capítulo para a Behringer

Reconhecendo a necessidade de reaproximação com o mercado, a empresa retomou a participação em grandes feiras do setor e busca manter uma presença mais ativa nas redes sociais. Porém, basta uma simples busca por “two channel audio mixer” no YouTube para ver inúmeras opções de marcas chinesas. Recuperar sua base de consumidores é essencial para que a gigante Behringer não seja “engolida pelos pés”.

Entretanto, essa missão não será simples. A redução de preços e os investimentos em automação são passos importantes, mas não bastam por si sós. A disputa atual é pela percepção do consumidor. A Behringer precisa reconstruir sua narrativa e se adaptar à nova dinâmica digital para manter relevância e lucratividade nos próximos anos.

Se há algo que a trajetória da empresa nos mostra, é que a marca sempre encontrou maneiras de se reinventar. Contudo, o cenário atual exige uma adaptação mais ágil e estratégica. Com a crescente concorrência das fabricantes chinesas e a evolução do comportamento do consumidor, a Behringer não só precisa ajustar seus preços, mas também fortalecer sua presença digital, estreitar relações com lojistas e distribuidores e investir em inovação. Se conseguir alinhar essas estratégias às demandas do setor, poderá não apenas recuperar sua posição de destaque, mas estabelecer um novo padrão de competitividade para os próximos anos. Resta saber se, desta vez, ela conseguirá se comunicar rápido o suficiente.

Lojas são cruciais neste processo

A Proshows, distribuidora da Behringer no Brasil, tem reforçado seus vínculos e parcerias com lojistas. “Enxergamos uma perspectiva inédita de avanço na participação de mercado do Music Tribe no Brasil para 2025. Apesar de existir um tempo para que as reduções reflitam integralmente no mercado, em apenas 4 meses nossas vendas cresceram mais de 50%.”, explica Gabriel Pinto, Diretor Comercial da Proshows.

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Mas ainda assim muito varejista ainda não entendeu a necessidade de repassar a comunicação assertiva desta redução  de até 40% de preço da Behringer para os consumidores. 

Lojas internacionais como Amazon, Thomann e Sweetwater já começaram a promover ativamente os produtos da Behringer, destacando sua relação custo-benefício e investindo em campanhas direcionadas a consumidores que buscam equipamentos acessíveis. Esse movimento reflete o crescimento da demanda global e a necessidade de estratégias mais agressivas para reter e atrair clientes.

Para que os lojistas brasileiros não percam espaço, é essencial adotar estratégias de retenção de clientes e diferenciação no mercado. Aqui está um checklist de ações recomendadas:

  • Monitore preços de concorrentes chineses: Acompanhe os valores praticados por vendedores internacionais para ajustar suas ofertas de forma competitiva.
  • Use redes sociais para destacar a garantia local: Enfatize nas plataformas sociais que a compra em lojas nacionais oferece suporte e garantia locais, proporcionando maior segurança ao consumidor.
  • Ofereça atendimento rápido e personalizado: Disponibilize canais de comunicação direta, como WhatsApp e chat online, para esclarecer dúvidas e auxiliar os clientes durante o processo de compra.
  • Promova produtos exclusivos ou personalizados: Ofereça itens que não estão disponíveis em marketplaces chineses, valorizando parcerias com marcas locais e destacando a exclusividade.
  • Invista em logística eficiente: Garanta entregas rápidas e confiáveis, superando a expectativa dos clientes em relação aos prazos de marketplaces internacionais.
  • Realize campanhas de conscientização: Eduque os consumidores sobre os benefícios de comprar em lojas nacionais, como suporte imediato, facilidade nas devoluções e contribuição para a economia local.
  • Crie programas de fidelidade: Ofereça benefícios, descontos e vantagens para clientes recorrentes, incentivando a recompra e a lealdade à marca.
  • Invista em conteúdo digital: Produza vídeos e artigos comparativos destacando as vantagens dos produtos Behringer frente às opções chinesas.

Implementando essas e outras estratégias, os lojistas podem fortalecer sua posição no mercado brasileiro e oferecer uma proposta de valor que supera a concorrência internacional. A Behringer deu o primeiro passo. Agora, cabe aos lojistas aproveitar essa oportunidade para reconquistar clientes e consolidar um mercado mais competitivo e sustentável.

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IA: A derrocada da música pela ausência de talento

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A música iniciou imitando sons da natureza. Hoje, é a inteligência artificial que tenta imitar o trabalho dos humanos. Até onde chegará tudo isso?

Entre 35 a 15 mil anos Antes de Cristo, há registros da utilização do arco musical, porém instrumentos percussivos e também o canto, assovio, e apitos rudimentares, vêm de tempos imemoriais.
A música se iniciou como forma de expressão, inteligência, e inclusive de culto religioso e celebrativo humano, muito antes do próprio estudo normativo da mesma e da própria teoria.
A própria matemática é a expressão do mundo manifestado, sendo o matemático um observador que explica apenas o que se percebe, e suas possibilidades, o mais precisamente possível em forma e funcionalidade.
A natureza já exibia claramente desde sempre, a Sequência de Fibonacci, e o mesmo apenas a percebeu e a descreveu.
Outrossim, o ser humano primitivo, muito antes da matemática e compreensão de música, já fazia música quando mimetizava, muitas vezes, o canto do pássaro, a força do trovão, e o gotejar ritmado da chuva.
A definição que estudiosos usam sobre teoria musical que mais se adequa é a de explicar o que o músico culturalmente já iniciou em aplicação instintivamente, para teorizar o “porque” e o “como” e, a partir daí, normatizar.
Como pessoas que produziam estes sons, passavam essa informação a diante de forma oral e eles mesmos foram os elaboradores dos primeiros instrumentos. Houve com certo tempo decortido, um status social que foi sendo atribuído aos que melhor realizavam suas tarefas dentro dessa disciplina de encantamento sonoro.
Embora a música que desenvolveu-se na cultura ocidental em verdade se firme nos estudos de Pitágoras e seus discípulos, há narrativas muito antigas de harpas e similares, e a dúvida é se o trabalho de Pitágoras e seus discípulos não teria sido observação e o regrar do que já ocorria instintivamente, em explicação técnica e teórica, matematicamente precisa (assim como fez Fibonacci matematicamente na explicação de ocorrências naturais observáveis), ou ainda, talvez, era extensão dos conhecimentos aprendidos com Hermes Trismegisto (aí a história vai longe, podendo chegar no mito de Atlântida), porém houve povos que exploraram a questão sonora de outra forma, paralela a “matriz grega de pensamento”, e se reflete claramente até hoje essa percepção, por exemplo, no microtonalismo de escalas e instrumentos de diferentes culturas.
Tudo, absolutamente tudo que a música ocidental normatizou como teoria, inicia-se em Guido D’Arezzo, que era um monge italiano estudioso, com acesso à conhecimentos da Grécia e povos antigos, suprimidos pela igreja da época (intimamente, de forma quase fantasiosa, eu o visualizo como o personagem de Sean Connery no filme o Nome da Rosa), e quando Guido inicia seu postulado e ações na música, a igreja, propositadamente, lhe atribuiu a “invenção da música”, e embora Guido tenha mantido os nomenclaturas Gregas e suas explicações de centros tonais, era importante para igreja da época esse “marketing”, porém nos povos fora deste círculo cultural, alheios a isto, toda teoria se desenvolveu de forma diferente, como no hinduísmo por exemplo, mas como músicos com o passar do tempo, mesmo antes de Pitágoras, tinham atuações grupais, sempre havia “diálogos” de afinação e harmonia em comum…
Guido ao criar (esse foi seu grande legado) a notação musical, suas regras e “alfabética”, trás toda uma era de comunicação de ideias entre músicos, e a possibilidade de passar conhecimento de música à diante, sem necessidade da oralidade somente, elevando a linguagem sonora da música a um patamar de comunicação que pode ser estudada e reproduzida, e depois disso, com muita história ainda, pois isso é um resumo, vem todo o resto.

Mas porque eu pontuei tudo isto?

Porque de fato, se avaliarmos a função social do músico historicamente, seu sustento na antiguidade sempre dependeu dos líderes (reis, nobreza, sacerdotes) que os “sustentassem”, tanto em trabalho, como custear-lhes estudo, e em contra partida, esses privilégios só eram mantidos pelos que realmente eram os melhores em sua época, e não era uma questão tão simples o estudo da música economicamente.
Quanto mais as ciências e tecnologia democratizaram a “entrada” no mercado musical, e a música como negócio cresceu, seja no ensino, luthieria e entretenimento, mais foi se gerando a possibilidade das pessoas aprenderem música em toda a sociedade, mas ainda assim, havia a necessidade de estudar, e esse era o limiar meritocrático, onde para haver êxito era imprescindível o esforço.

A mediocridade não tinha espaço nessas cátedras

Mas aí, nesse ponto, inicia-se a trapaça das “panelinhas” que afogaram a questão meritocrática, pois no limiar entre o gênio e o ordinário (no sentido de comum), a vaidade, a soberba, o “interesseirismo”, e ainda na questão do mercado a aparência do artista como produto, passaram a ser fatores decisivos para alcance de oportunidades, com o talento sendo colocado apenas como um fator a mais, porém não determinante de sucesso.
Quando há pouco tempo, a tecnologia possibilitou a qualquer um fazer música sem músicos, afinando a voz, e fazendo copy/paste de áudios já existentes, já era um sinal vermelho que estaríamos perdendo a música como profissão e como mercado.
Agora com o surgimento de sites de I.A. que não só compõem, mas geram áudios prontos, com todos os instrumentos, vozes e letras, utilizando-se de semelhanças que beiram o plágio, mas pior ainda, pois estão “roubando” vozes e timbres, cada vez menos importará para o destaque de alguém na grande mídia a habilidade e competência e sim aparência, e em breve nem isso, porque na realidade a I.A. já está gerando filmes e atores virtuais e clonando os que existem.
Roteiros são criados por algoritmos, que desenvolvem storyboards, que são base para geração de imagens, renderização 3D, e tudo com criação fora da alçada do raciocínio humano.
A música no mercado audiovisual se tornou apenas um processo, não uma finalidade.
A ânsia da perfeição ao robotizar a afinação e métodos de trabalho musical, aproximou os robôs da imitação perfeita do talento.
Era inevitável que a permissividade da preguiça em interfaces que tudo fazem, esmagasse tudo ao baratear a arte, retirando o custo do fator humano.
A música perderá o valor porque as pessoas serão capazes de serem contentadas em suas necessidades aculturadas, imediatistas, sem se importar se alguém tem habilidade na execução de tarefas que levam ao que lhes é aprazível.
Se da abundância de notas, chegamos a bundas sem talento, em breve nem isso terá relevância.
E do arco musical, citado inicialmente no texto, desembocamos na realidade da música sem arco (nem de início, nem de meio nem de fim).
Esse depender da tecnologia como vício, nos levou a viver em função dela.
Há quanto tempo você não imprime fotos? Há quanto tempo você não capta uma imagem sua sem um filtro de retoque? Se a imagem está perdendo a realidade dos fatos, era óbvio que o áudio perderia sua veracidade.
Tudo se tornou relativo, e poucos são capazes de entender.
Basta uma tempestade solar épica, e grandiosamente destrutiva, para uma era de extinção digital, colocar toda sociedade humana sem ter onde escorar sua preguiça intelectual.
Se tudo se inicia com um assovio imitando a natureza, terminará com a natureza mostrando que não há substitutos para ela, nem mesmo para seus “produtos”, como a evolução da genialidade e talentos humanos, que não são artificiais.
A alma nunca será um algoritmo. A meritocracia nunca deixará de ser regra para inteligência real.

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A Fábula das Lojas Zumbis e os Três Porquinhos

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Em um vale ensolarado, existiam três porquinhos comerciantes de instrumentos musicais e áudio: Soneca, Folia e Prático. Cada um com uma loja própria e uma visão muito distinta sobre negócios.

Soneca vendia muito, muito. Ele se alegrava em ver sua concorrência ligando para os fornecedores pedindo para ele subir o preço. Isso dava a ele uma sensação de poder, além do que, via um giro financeiro imenso em sua conta corrente. Mas o que Soneca não sabia é que fluxo de caixa alto não é lucro; ele vivia em sua caixa de ilusões.

Folia, por sua vez, era o queridinho dos fornecedores. Por vender a preço de custo, ou até mesmo abaixo, os produtos das marcas giravam rapidamente em sua loja. Em reconhecimento, os fornecedores o premiavam com festas, viagens e mimos. Folia sentia-se uma estrela, apesar de, na realidade, ser apenas um instrumento para os fornecedores que viam nele uma oportunidade de girar mais produtos. Ele se tornou uma “loja zumbi”, operando apenas para as marcas, sem construir um negócio sólido para si.

Prático, o terceiro porquinho, tinha uma abordagem diferente. Ele sabia o valor de seu trabalho e dos produtos que vendia. Não era contra promoções, mas sempre as fazia com consciência, garantindo uma margem de lucro que sustentasse o negócio. Ele investia em treinamento, marketing e no relacionamento com seus clientes.

Um dia, um lobo mau chamado Crise apareceu no vale. Com seu sopro poderoso, ele ameaçava todas as lojas da região.

Primeiro, ele foi à loja do Soneca. Com um único sopro, a loja, já fragilizada por sua visão distorcida de negócios, foi ao chão.

Em seguida, o lobo foi até a loja do Folia. Folia pensou que os fornecedores viriam em seu auxílio, mas eles estavam ocupados procurando outros porquinhos para trabalhar. Assim, sua loja, sem sustentação própria, também foi derrubada pelo sopro do lobo.

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Por fim, o lobo chegou à loja do Prático. Ele soprou com toda a sua força, mas a loja permaneceu firme. Prático havia construído uma base sólida, com clientes fiéis, reservas financeiras e uma operação saudável.

Conecta+2025

O Lobo Crise, percebendo que não poderia derrubar a loja do Prático, foi embora, procurando outras vítimas.

Os porquinhos Soneca e Folia, agora sem suas lojas, foram até Prático em busca de conselhos. Prático, sempre solícito, ensinou-lhes sobre a importância de ter uma gestão financeira sólida.

Moral da história

Em negócios, é vital construir sobre alicerces sólidos e cultivar relações benéficas com parceiros. Cada ator no ecossistema, seja fornecedor ou vendedor, tem um papel crucial a desempenhar. Juntos, e com entendimento mútuo, todos podem prosperar e resistir às tempestades.

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