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Conheça a história do luthier Rodrigo Gomes, da RGomes Brazilian Archto

Rodrigo Gomes é luthier e proprietário da RGomes Brazilian Archtop. Como o nome da empresa já diz, o profissional é especializado na construção de guitarras modelo archtop, muito comuns no universo do jazz e da bossa nova. 

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Todavia, sua produção abrange outros modelos de guitarras, incluindo também contrabaixos, violões, cavaquinhos e ukuleles além de restaurações em instrumentos antigos.

Gomes começou a dar os primeiros passos na profissão ainda jovem. Movido pela curiosidade, assim como muitos que se enveredam por esse caminho, começou realizando pequenos ajustes em seus próprios instrumentos e observando o que outros profissionais faziam. Entretanto, para aperfeiçoar seus conhecimentos, o obstinado Gomes ingressou na renomada escola B&H Luthieria, localizada na cidade de São Paulo, e depois, partiu rumo aos Estados Unidos para estudar com prestigiados nomes da luthieria internacional.

Ainda no país da América do Norte, conheceu, conviveu e aprendeu com lenda Dan Erlewine, luthier e proprietário da loja StewMac, pioneira na comercialização de ferramentas e insumos para luthieria.

Ao longo da entrevista Gomes falou sobre os motivos que o levaram a se tornar luthier, a experiência ao lado de Erlewine, como é o cotidiano profissional de um luthier nos Estados Unidos, as características necessárias para se fazer um boa archtop, dentre outros assuntos.

Rodrigo Gomes e Dan Erlewine com uma Tele RGomes

Quais motivos te levaram a trilhar o caminho da luthieria?

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Rodrigo Gomes: Comecei fuçando no meu próprio violão, coloquei um cotonete depois do nut, pois as cordas estavam trastejando soltas. Foi meu primeiro “conserto” (gambiarra).

Ainda movido pela curiosidade, resolvi mexer na minha guitarra também. Entretanto, depois de desmontá-la, precisei levá-la a um luthier, pois não conseguia montá-la novamente. Observei mais ou menos como ele ajustou a guitarra e tentei fazer da mesma maneira.

Outra história curiosa que me lembro, foi uma vez que fui procurei um luthier famoso que atendia na Teodoro Sampaio. Depois que ele fez a regulagem, mencionei que a guitarra continuava trastejando, então ele pegou uma lixa, um toco e começou a lixar o final dos trastes levantando as cordas sem o menor cuidado com o instrumento.

Após passar por essas situações, fiquei curioso para saber se tinha alguma forma de arrumar o instrumento sem “detoná-lo”, pois meus instrumentos sempre retornavam com algum tipo de desgaste ou marca que não existia. 

Como já lia revistas sobre luthieria e procurava nos sebos do Centro materiais que poderiam ser úteis no meu aprendizado, em 2002 decidi levar o assunto mais a sério e resolvi me matricular na escola B&H Luthieria. Fiquei lá até 2006, trabalhando e estudando. Depois disso, trabalhei um pouco com o saudoso Manuel Andrade e aprendi muitas coisas com o luthier Regis Bonilha. Mais tarde, tive a oportunidade de aprender com os mestres Dan Erlewine, Dale Unger, Eric Coleman, Elliot John Corey, Don MacRostie, Toddy Sams, Dan Brooks e Ren Furgesen,

Como foi a experiência de trabalhar com o luthier o experiente e renomado luthier Dan Erlewine (StewMac)?

Isso é engraçado até de contar, pois mandei um e-mail pra ele falando sobre um curso que iria fazer na Pensilvânia, em meados de 2010. Mencionei que gostaria de passar por lá para conhecê-lo e conhecer a loja Stewmac, pois ela era pra mim algo como a Disneylândia para uma criança de sete anos. Ele riu e me pediu para aguardar um pouco, pois iria pensar sobre o assunto. Pensei que ele iria pensar apenas me receber lá para a rápida visita, mas não, ele foi arrumar um lugar pra eu ficar. Fiquei na casa dele por uns quatro dias e acabamos trabalhando em alguns projetos, sem contar que ele me ensinou várias formas de retificar trastes, dar polimento em instrumentos musicais etc.

Mais tarde, em 2015, fui lá só para matar a saudade mesmo, mas aí ele acabou me colocando para trabalhar e me propôs ficar lá com ele por pelo menos dois meses. Aceitei na hora. Depois disso voltei em 2016 e fiquei mais quatro meses. Voltei novamente em 2017 para uma estada de cinco meses. Durante todo esse período, ele me ensinou muitas coisas, fizemos vários vídeos para a seção “How TO” que a Stewmac mantém no YouTube, saímos em revistas, gravamos vídeos cantando juntos… Foi tudo bom e acima de qualquer perspectiva e desejo de qualquer luthier que sai de seu país para estudar e acaba trabalhando com o maior luthier/educador de luthieria do mundo.

Hoje eu conheço toda a comunidade de Athens, Ohio, onde ele mora, assim como toda a equipe da Stewmac, tenho muitos amigos lá, e a relação que eu e o Dan temos é praticamente de pai para filho, não tem como descrever isso de outra forma. Quando vou lá, fico em um quarto que ele acabou fazendo para eu ficar, uso o carro dele, saímos para comer fora com a família dele. É algo realmente muito especial.

A profissão de luthier é mais valorizada nos EUA do que no Brasil? Os desafios enfrentados são os mesmos?

Bem, isso realmente é muito discrepante, pois aqui nós ainda temos muitas pessoas, que por causa da falta de informação, não compreendem o valor de um instrumento ou um serviço realizado por um luthier. Acham que tudo é muito caro, e que é um absurdo passar dos quatro dígitos para arrumar um instrumento (dependendo da complexidade do serviço) ou passar dos cinco dígitos para encomendar um novo. Acho que isso está diretamente ligado a nossa cultura de um modo geral e nossa cultura musical.

Nos EUA, aprendi que arrumar um instrumento demanda tempo, informação, conhecimento sobre o que está sendo consertado (a origem do instrumento, os detalhes de fábrica e a originalidade de cada um). Logo, é necessário um tempo de estudo como de qualquer outro profissional que se aprimora em sua ocupação/profissão, e sendo um trabalho, você tem custos e despesas para atender aquela pessoa, por isso que aqui isso ainda está em desenvolvimento. Lá é diferente, você pega um instrumento para arrumar, tem sua hora trabalhada (que já é o comum de qualquer trabalho por lá), seu conhecimento envolvido, material e mão-de-obra. Isso é muito bem cobrado por eles e valorizado pelos clientes.

Com relação aos desafios, eles são os mesmos. Porém, eles têm a tecnologia e ferramental adequado em qualquer lugar que você for, pois o trabalho em madeira é algo muito comum, já que as casas deles são feitas de madeira. O que você mais acha são ferramentas para uso em carpintaria e trabalhos em madeira no geral, algumas são as mesmas que o luthier usa, mas também existem fábricas de ferramentas especializadas em luthieria, como a própria StewMacLuthiers Mercantile International e outras tantas que estão surgindo com milhares de dólares em ferramentas maravilhosas. A concorrência é bem desleal nesse sentido.

Por fim, lá um luthier é muito bem posicionado profissionalmente na sociedade, as pessoas conhecem sobre o assunto. Na verdade, é bem difícil achar alguém que não sabe o que é um luthier. Infelizmente, aqui no Brasil ainda é preciso explicar a profissão para a maioria das pessoas que me perguntam o que eu faço. Mas estamos no caminho certo!

Não são muitos os profissionais especialistas na construção de guitarras archtop no mercado brasileiro. O que te levou a se especializar nesse modelo?

Meu desejo de fabricar guitarras de jazz – archtops – surgiu porque eu sempre gostei de jazz. Ainda quando trabalhava na B&H Luthieria, sempre comentava com o Henry Ho e com o Márcio Benedetti sobre disponibilizar um curso a respeito, fazer uma guitarra de molde e tal, mas isso nunca foi pra frente. Em 2010 fiz um empréstimo, juntei com mais alguma merreca que eu tinha guardado e fui para o EUA atrás dessa informação que me faltava para construir uma guitarra desse tipo. Fiz uma guitarra no curso com o Dale Unger (que trabalhou por 10 anos com o Bob Benedetto) no Nazareth Guitar Institute. Depois, fiquei duas semanas trabalhando com o professor, pois minha grana não dava pra voltar para Nova Iorque e ficar na cidade.

O mercado de archtop no Brasil ainda está caminhando. Tem um pessoal fazendo, dá para ver nos detalhes que a ideia é boa, mas falta uns toques especiais para ser “A Archtop“. Quem se destaca hoje é o João Cassias, que faz guitarra lindas, o Josino Saraiva e mais alguns outros que ainda não tive a oportunidade de ver o instrumento presencialmente. Como só ouvi falar, acho melhor não comentar muita coisa. Mas no geral, pelo que vejo no Instagram e no Facebook, percebo que algumas melhorias precisam ser feitas, inclusive para compreender melhor o que uma archtop, pois guitarra escavada de um bloco de madeira, não é archtop, modelos com o tampo escavado e corpo maciço ou escavado também não são archtopsArchtop é uma guitarra com laterais dobradas como um violão, tampo e fundo esculpidos separadamente, colados a essas laterais e um braço colado ou aparafusado. O restante são outros modelos, como hollowbodysemihollowcarvedchamberedthinline, etc.

Quais são as características de uma boa archtop?

As características principais para uma boa guitarra encontram-se no equilíbrio do tampo com o fundo, conhecer o tipo de madeira que irá extrair vibrações positivas e algo que eleve o som que um instrumento nessas dimensões precisa. Saber ouvir o que o “tap tunning” está pedindo (remover madeira ou não), conhecer as espessuras e dimensões adequadas de cada modelo, pois cada detalhe importa e afeta o resultado final, inclusive a angulação do braço e do cordal (tailpiece).

Quais são as madeiras que você mais gosta de utilizar em seus projetos?  Por quê?

Para a construção do top, em geral, as madeiras devem ser mais flexíveis, como abeto, spruce, sitka, cedro. Para as laterais e para o fundo, é possível abusar de madeiras diferentes, como mogno, maple, imbuia etc.

Eu sou praticamente um fanático por madeiras brasileiras, adoro as configurações mais escuras que nossa variedade de exemplares possui. Eu faço a maioria das minhas guitarras com madeiras nacionais, e já fiz o teste: elas não perdem em nada para uma madeira americana ou europeia, pois nossas madeiras soam maravilhosamente em archtops. Não vejo motivos para não usar uma madeira nacional, mas cada uma possui uma vantagem independentemente da nacionalidade, o maple, por exemplo, tem uma coloração clara que permite combinações com cores vivas como amarelo, vermelho, verde, azul e outras. Entretanto, temos excelentes opções como a grumixava e o tauari, que quando secas de forma adequada, possuem esse “poder” de coloração. Já uma guitarra feita em imbuia não há muito o que se fazer, a não ser deixar o acabamento ao natural, ou com outra pigmentação escura.

O que você diria para o luthier que está iniciando na profissão?

Sempre costumo dizer o seguinte: siga quem está fazendo algo relevante, interessante, com um diferencial, capricho e detalhes ousados. Busque sempre conhecimento sobre o que você está focado em fazer, não saia por aí pegando tudo da internet de graça, pague por um bom curso que te ofereça experiências diferentes e se atualize junto ao mercado. Quando for possível, invista no melhor que você puder adquirir, seja em termos de curso, material ou ferramental, pois vai te ajudar muito no desenvolvimento da profissão e dos trabalhos. O restante fica a cargo da persistência e vontade de cada um.

Maiores informações no Facebook e Instagram da RGomes Brazilian Archtop.

*Autor: Álvaro Silva é apaixonado por música, guitarra e luteria. Graduando em Marketing pela PUC Minas. Criador do blog Guitarras Made In BraSil e do site Rotasongs.

 

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