
Plataforma francesa adota ferramenta para identificar faixas automatizadas, enquanto mercado debate impacto sobre artistas e receitas.
A presença da inteligência artificial (IA) na produção musical tem crescido de forma vertiginosa. Prova disso é que, segundo a Deezer, quase um quinto das músicas atualmente enviadas à sua plataforma são geradas integralmente por IA. O dado foi divulgado pela própria empresa francesa de streaming, que também revelou outro ponto alarmante: esse número dobrou em apenas três meses.
Em janeiro de 2025, apenas 10% das faixas enviadas à Deezer tinham origem automatizada. Agora, são cerca de 20 mil músicas por dia produzidas exclusivamente por inteligência artificial, sem qualquer intervenção humana direta.
“A IA generativa tem o potencial de influenciar positivamente a criação e o consumo de música, mas precisamos agir com responsabilidade para proteger os direitos e as receitas de artistas e compositores”, declarou Aurelien Herault, CEO da Deezer. A empresa implementou, no início deste ano, uma ferramenta capaz de detectar com precisão músicas geradas por IA, mesmo aquelas criadas por sistemas como Suno e Udio.
IA na música: inovação ou ameaça?
Com o avanço de plataformas como o Jukebox, da OpenAI, qualquer pessoa — mesmo sem habilidades musicais — pode compor e produzir faixas completas em questão de minutos. Essa acessibilidade levou à explosão de conteúdo automatizado em serviços como Deezer, Spotify e, em menor escala, Apple Music.
Enquanto o Spotify permite uploads de músicas geradas por IA desde que os autores detenham os direitos autorais e respeitem as diretrizes da plataforma, a Apple Music estaria adotando uma linha mais restritiva. Segundo relatos, a empresa passou a exigir créditos específicos de produtor e executivo para cada faixa — o que pode dificultar a inserção de músicas puramente geradas por algoritmos.
Embora os números exatos em outras plataformas não sejam divulgados, sabe-se que o Spotify já removeu dezenas de milhares de faixas classificadas como “botspam” ou suspeitas de serem geradas automaticamente.
O crescimento acelerado da música por IA traz uma série de questionamentos para o setor fonográfico. Como equilibrar inovação e proteção legal? Qual o papel dos artistas humanos em um ecossistema onde a máquina cria em escala industrial?
No centro desse debate está a sustentabilidade do mercado e a valorização do trabalho artístico. Em um universo onde 100 mil novas faixas são lançadas diariamente, o uso de IA impõe mais um desafio para quem vive da arte: como se destacar entre vozes que não respiram?