Sérgio Pais, CEO da Roland Brasil há cinco meses, conta sobre a situação do mercado atual e a iniciativa on-line que a empresa japonesa usou para apresentar produtos no mundo inteiro
Sérgio é novo no nosso mercado mas sua experiência em outros segmentos está trazendo ideias frescas e renovadas à empresa. Ainda em processo de adaptação, ele se mostra seguro das ações a ser desenvolvidas pela Roland Brasil, com inteligência e antenado nas tendências do mercado.
Descubra mais nesta entrevista.
M&M: Como foi o último ano para a Roland?
Sérgio: Esse último ano para a Roland, falando da metade do ano passado para a metade deste, foi de muita transição, com uma série de mudanças internas na empresa. Tivemos mudanças de equipe, na área de marketing, de produtos, comercial, tivemos a saída de Takao Shirahata (o executivo que esteve a frente da empresa por 10 anos) então foi uma mudança muito grande nesse sentido.
É claro que a Roland não perde sua essência, continúa sendo a mesma Roland. Acho que aqui, no Brasil, a nossa principal mudança gira muito mais entorno de organizar, estruturar um pouco mais o mercado, um mercado que está atravessando por uma série de transformações, não só em virtude da crise mas também em relação ao próprio cenário do segmento: a chegada do mercado on-line, a entrada mais forte nesse tipo de comércio, inclusive a entrada de diferentes varejistas especializados migrando para o on-line como também a entrada de grandes varejistas de eletro-eletrônicos, por exemplo; a metamorfose nesse mercado de algumas lojas infelizmente deixando o mercado, outras pequenas resurgiendo, então é um mercado que está em transição e a gente tem que tomar bastante cuidado nesse momento, para ser criativo, para tomar decisões importantes mas ao mesmo tempo com cautela.
Globalmente a Roland também está passando por algumas mudanças bastante positivas. Um exemplo é a ação realizada no passado dia 9 de setembro que teve o maior lançamento de produtos da história da Roland com aproximadamente 30 modelos novos. Acredito que seja também a primeira vez que a gente consegue trazer todos esses produtos quase em prazo recorde para o Brasil e apresentamos eles na feira.
Com a iniciativa 909 Day, os produtos foram lançados paralelamente no mundo inteiro de forma on-line e já estão aqui. Isso é muito legal para o consumidor principalmente. Existe a frustração do consumidor às vezes de ver o produto ser lançado no exterior e ter que esperar uns seis meses para ver ele no País, então esse delay é um pouco desagradável. Estamos tentando melhorar a experiência do consumidor e o timing do consumidor com os nossos produtos, essa é outra mudança bastante importante também.
M&M: O que você achou da iniciativa de lançar os produtos on-line no mundo inteiro?
Sérgio: Eu gostei muito da iniciativa! Acho que é algo inovador, uma tentativa de fazer algo diferente. Nós tivemos algumas vezes comparando o número de consumidores on-line vs o número de consumidores na NAMM, por exemplo, e o número on-line foi superior, significa que a gente consegue atingir um número muito maior de pessoas, algo que físicamente você não consegue. Acho que essa foi a grande vantagem e que faz parte da grande preocupação que a gente tem para ver como é que podemos incentivar mais a música? como é que a gente leva a música para mais pessoas? como é que a gente torna a música mais acessível para mais pessoas? Esse talvez seja o nosso grande desafio então esse papel de lançar on-line foi cumprido com sucesso.
M&M: Como você está vendo o mercado atual?
Sérgio: Todo momento de crise provoca a busca de criatividade, de eficiência, de mais produtividade. Cheguei ao mercado há cinco meses só mas o que eu tenho sentido em todas as empresas a preocupação de olhar melhor os seus custos. Muitas vezes aquele custo que você deixava um pouco de lado e falava “depois eu olho isso”, agora é o momento de analisar, de ser um pouco mais eficiente, de melhorar talvez a produtividade em algumas áreas ou setores. Sinto isso muito forte no segmento, como também a preocupação de começar a organizar melhor o mercado nesse momento específico, de tomar cuidado de não vender tudo para todos ao mesmo tempo e em quantidade, senão você acaba transferindo problemas para o restante da cadeia. Sinto isso principalmente de alguns fabricantes, junto com um movimento de reorganização no mercado e de readequação das empresas e adaptação a um cenário que é diferente. Não diria que é um cenário melhor ou pior, é um cenário diferente do que nós tínhamos. É claro que todos sentimos a crise mas temos que nos adaptar ao cenário com vendas diferentes e com consumidores diferentes.
M&M: Como serão or próximos 12 meses para a Roland?
Sérgio: Temos alguns planos importantes em todas as nossas áreas. Comercialmente teremos algumas mudanças que começarão a acontecer no final desse ano. O foco é ter maior relacionamento com o dealer principalmente, com os nossos lojistas e também com o consumidor. Por outro lado, em produtos, reorganizaremos eles, melhoraremos a experiência do consumidor com o produto e permitiremos que o consumidor tenha mais acesso à informação, mais acesso a dados de produto, seja on-line ou fisicamente.
Devemos investir também na experiência do consumidor on-line, não necessariamente para venda no varejo online mas melhorar a percepção e a experiência do consumidor com o nosso produto através de uma interação diferente do que a gente tem hoje. Precisamos chegar a mais pessoas num prazo mais curto e não dá para negar isso.
Na Expomusic tive uma reunião com o pessoal da Google e eles passaram informações extremamente preciosas a respeito de movimentação, acessos pelo celular, nova geração de visitantes. Precisamos ficar antenados com isso, precisamos olhar para o mercado on-line não como um mercado ruim ou um mercado que talvez venha para destruir. Precisamos olhar para essas mudanças de uma forma um pouco diferente: como é que posso me beneficiar com essas mudanças? como posso usar essas mudanças ao meu favor? Essa é a parte mais difícil. A parte mais fácil é criticar. Mas temos que olhar para dentro da nossa empresa e pensar: como é que posso me adaptar melhor?
Esse é o exercício que a gente está fazendo agora. É muito trabalho de restruturação de mercado mas o consumidor pode esperar mais produtos novos e inovadores da Roland. Um bom exemplo disso foi o lançamento do Aerophone, a primeira vez que a Roland entra no segmento de sopro. Acho que o que o consumidor pode esperar para os próximos 12 meses são mais lançamentos de produto e mais inovação.
M&M: Mudando de tema, como você está se adaptando a sua nova posição na empresa?
Sérgio: Ainda não terminei meu processo de adaptação. Alias não sei se vou terminar esse processo de adaptação nunca! Mas está sendo uma experiência muito rica. Há muito aprendizado, seja com colegas de trabalho internamente, seja com o mercado, com o varejo, com os próprios distribuidores, concorrentes, enfim a gente acaba aprendendo muito. Tenho investido muito tempo em estar próximo ao mercado para poder entender um pouco melhor a dinâmica e nesse sentido tem sido uma troca muito positiva. Poder trazer minha experiência em outros setores pelos quais passei e poder enxergar que existem muitas similaridades também é bom. O pessoal às vezes fala muito “do setor” mas na verdade as mesmas coisas acontecem em todos os setores. Qualquer setor tem suas qualidades, suas deficiências, então poder fazer combinações diferentes de outros segmentos para este acaba sendo muito bom também. Tem sido uma experiência fantástica!
Mais informações: www.roland.com.br