Retomada de eventos em 2021 recuperou 300 mil postos de trabalho, sem recuperar nível de emprego de 2019.
A evolução da pandemia da Covid-19 trouxe uma rápida retração dos empregos do setor cultural. A tendência de crescimento desse setor, que passou de 4,9 milhões para 5,5 milhões de pessoas empregadas entre o primeiro trimestre de 2018 e o último de 2019, foi interrompida, verificando-se, no terceiro trimestre de 2020, queda do nível de ocupação para 4,6 milhões de empregos e, em seguida, voltou a crescer atingindo 5 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2021.
Os resultados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nesta quinta-feira (27/1), e o estudo usa como base informações da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD) Contínua e apresentadas pelo Sistema de Informações e Indicadores em Cultura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo mostra assim, que nos últimos nove meses do horizonte da pesquisa (3º tri 2020-2º tri 2021), foi percebida uma retomada no nível de empregos no país e, em particular, no setor cultural, que criou 340 mil postos de trabalho.
As novas contratações fizeram com que o número de empregados no setor atingisse cerca de 5 milhões de pessoas, número similar ao observado no início de 2018, mas abaixo do nível de 2019.
De acordo com a nota, o mercado de trabalho do setor cultural seguiu uma tendência também encontrada no conjunto de pessoas ocupadas no setor não cultural, ou seja, um crescimento gradual de 2018 até o primeiro trimestre de 2020, seguido por uma redução do número de pessoas ocupadas, coincidente com o período da pandemia.
A população ocupada no setor não cultural passou de 89 milhões, no final de 2019, para 78 milhões, em meados de 2020, e registrou uma gradual recuperação até meados de 2021, atingindo 83 milhões de pessoas.
No segundo trimestre de 2021, o setor cultural brasileiro foi responsável por 5,7% do total de vínculos do mercado de trabalho, contra 94,3% de trabalhadores do setor não cultural.
Decompondo os empregados no setor cultural brasileiro conforme a ocupação e atividade, tem-se que 11,6% (ou 0,7% do total de pessoas ocupadas) estavam em ocupações e atividades culturais, 29,4% (ou 1,7% do total de ocupados) encontravam-se em ocupações não culturais e atividades culturais, e 59,0% (ou 3,4% do total de ocupados) possuíam vínculo em ocupação cultural e atividade não cultural.
(i) o período pré pandemia (1º tri 2018-4º tri 2019), no qual houve uma maior variação positiva no emprego das pessoas em atividades e ocupações culturais do que no setor não cultural;
(ii) o período pandêmico do estudo (1º trim 2020- 2º trim 2021), no qual observa-se o inverso. Ou seja, a pandemia afetou mais intensamente as atividades e ocupações culturais do que o setor não cultural, motivando uma continuidade desse monitoramento devido a dinâmica do mercado de trabalho no setor cultural.
O setor cultural é muito diverso, tanto nos aspectos ocupacionais quanto de atividades a ele relacionado, não havendo, na literatura, um consenso quanto a sua delimitação. Nesse sentido, esta Nota de Conjuntura apresenta uma análise dos fluxos e estoques do mercado de trabalho para o setor cultural segundo um recorte a partir da inserção laboral em atividades e ocupações culturais, tal como definido na abordagem do mercado de trabalho formal e informal (com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua – PNAD Contínua) apresentado no Sistema de Informações e Indicadores em Cultura (SIIC 2007-2018) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aqui se explora o período 2018-2021.
O setor cultural foi um dos mais impactados pela pandemia, tanto que no final de 2020 foi criado um auxílio emergencial para tal segmento, via Lei Aldir Blanc (como foi abordado na Carta de Conjuntura no 49 em sua Nota de Conjuntura no 6). Essa lei, além de financiar um auxílio para trabalhadores e organizações do setor cultural, procurou estimular a atividade econômica desse importante setor, que como visto na Nota supracitada, pode corresponder entre 1% e 2,6% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, a depender da métrica utilizada.
Esta Nota de Conjuntura visa contribuir para o debate do efeito da pandemia de covid-19 sobre o mercado de trabalho no setor cultural nacional. Para isso, com base nos dados da PNAD Contínua, realiza-se uma análise dos estoques e fluxos no mercado de trabalho brasileiro segmentado conforme vínculos: i) com o setor cultural (em sua definição ampla adotada no SIIC/IBGE), o qual será detalhado conforme o recorte de atividades e ocupações culturais; ii) com outro setor na economia, intitulado não cultural; e iii) sem vínculo trabalhista em nenhum setor.
Fonte: IPEA | por Geraldo Sandoval Góes, Frederico Augusto Barbosa da Silva, Leonardo Queiroz Athias e Felipe dos Santos Martins