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Músico de rua: músicos de rua são destaque no Carnaval de Recife

Artistas que aprenderam música na rua falam de sua experiência e como isso ajudou na carreira deles

MusicaeMercado

O Carnaval do Recife é a festa popular que mais movimenta a economia da cidade. Os setores de turismo, comércio e serviços ganham importante impulso semanas antes, durante e até dias depois dos quatro dias oficiais do evento. E sem o empenho do batalhão de tocadores de cordas, metais e percussão não existe folia.

É nessa época que centenas de músicos de orquestras de frevo ganham as ruas do centro e de bairros da capital. Além da diversão proporcionada a milhares de foliões e da oportunidade de trabalho, a experiência proporciona amadurecimento e possibilidade de expandir a atuação desses artistas dos sons.

“A cada carnaval você adquire mais vivência, entende melhor a linguagem do frevo e vai melhorando como músico instrumentista. E, claro, passa a ser mais um multiplicador da divulgação do frevo”, orgulha-se Paulo Sérgio Albuquerque de Melo, morador do Morro da Conceição, no bairro de Casa Amarela. O clarinetista, saxofonista, arranjador e produtor fala com a autoridade de ser um dos fundadores da destacada Orquestra Popular da Bomba do Hemetério.

Graduado em música pela UFPE, Parrô Melo, como é mais conhecido, integra diversos grupos da cena recifense, a exemplo de DJ Dolores e a Aparelhagem, Orquestra Santa Massa, Erika Natuza, Zmaia e Orquestra do Sucesso.  No ano passado, conquistou a terceira colocação no Festival Nacional do Frevo, realizado pela Prefeitura do Recife, na categoria Frevo de Rua, com a composição e arranjo de “Adriana no Frevo e Cia”.

O baterista Wellington Francisco, o Jamaica, também exalta o grande aprendizado que obteve tocando caixa na rua.  “Minha experiência foi bastante produtiva. Por participar de várias orquestras e troças, tive a oportunidade de conhecer grandes músicos e me aprofundar na execução do frevo na bateria”, conta o músico, que mora em Água Fria. Em tempo, caixa é o tambor mais agudo de um conjunto percussivo, com som semelhante a um tarol de banda marcial.

Oriundo de uma geração mais antiga, o maestro Ademir Araújo se empolga ao falar da extensa maratona de apresentações que enfrentava quando era músico de rua na juventude. “Eu saia com o instrumento no sábado de manhã e dizia pra minha mãe que só voltaria na segunda”, rememora com humor. Não era incomum tocar numa noite em um lugar, passar a noite dormindo em banco de jardins públicos e se mandar para alguma manhã de sol, logo cedo.  “Jogava água na cabeça, comia uma macaxeira e ia embora tocar. Depois pegava um rango e partia para uma matinê, que normalmente durava das três às seis horas da tarde”, conta Araújo, o guerreiro do frevo.

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E o que é necessário para se tornar um competente instrumentista de orquestra de rua? “É preciso ter um bom ouvido, boa leitura musical, exercitar bastante o instrumento para ficar com os lábios resistentes, afinal tocar no carnaval não é fácil”, orienta o maestro Edson Rodrigues, outro grande nome da música pernambucana.

Com mais de 60 anos de experiência, Rodrigues insiste na necessidade de estudo, pois é preciso que o músico tenha total controle sobre seu instrumento.  “Até porque o frevo é o gênero musical mais difícil de ser tocado. Músicos do Sul e Sudeste, quando tomam contato com ritmo pela primeira vez, sempre falam da complexidade das composições”, diz Rodrigues.

Wellington Jamaica ressalta a importância de os músicos possuírem seus próprios instrumentos. “No meu caso, como percussionista, é preciso estudar as levadas do frevo na caixa e conhecer as músicas mais conhecidas como ‘Cabelo de fogo’, ‘Mosquetão’, ‘Pitombeira’, entre outras”, orienta. Para o pessoal dos metais e palhetas, ele diz que é possível encontrar partituras na internet.

Além disso, tanto Jamaica quanto Parrô Melo acrescentam que é essencial procurar alguma orquestra para aprender na prática e aproveitar a experiência dos mais velhos.

Críticas

Parrô Melo cita como um dos aspectos negativos do universo do frevo executado nas ruas certa acomodação de alguns instrumentistas e donos de orquestra.  Segundo ele, há músicos que relaxam e acabam tocando sempre um mesmo repertório, não progridem. No caso dos conjuntos, ele critica certos donos de orquestras que não estabelecem rotina mais ampla de ensaios. Isso ajudaria na melhor execução das músicas. “Os encontros acontecem apenas no período carnavalesco. O frevo precisa ser visto com mais carinho e cuidado”, expõe Parrô.

Veja mais sobre o Orquestrão aqui.


Crédito de foto: Peu Ricardo/PCR
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