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Músicas curtas, streaming, redes sociais e outros fatores que transformam o consumo de músicas no Brasil

Vítor Cunha, engenheiro de som, produtor musical e empreendedor, fala como as novas tecnologias impactam o consumo nacional de músicas.

Nos últimos anos, a forma como se consome música mudou e a indústria desenvolveu novas estratégias para produzir canções que engajem e atendam às exigências do público. Com o advento da internet e os reflexos do fenômeno social chamado de “Audição Ansiosa”, que aborda uma possível impaciência do ouvinte nos dias atuais em relação a conteúdos longos, produtores e artistas optam por músicas sem introduções longas e complexas e que possam contar uma história em dois minutos e meio, na tentativa de prender a atenção do público.

Para Vítor Cunha, engenheiro de som, produtor musical e CEO da Magroove, distribuidora digital de músicas nas plataformas de streaming, existem alguns fatores que direcionaram o mercado para o cenário atual: componente social de imediatismo e enxurrada de informações. “As músicas passaram a ser mais curtas, porque o consumo está mais instantâneo, as pessoas estão mais imediatistas, ter músicas que duram menos ajuda a manter o público mais atento e reter a audiência”, comenta.

As redes sociais de áudio e vídeo, como o TikTok e Instagram, também impactaram o mercado musical. “A própria composição de músicas já é pensada para viralizar nas redes sociais. Uma música que consegue chamar a atenção do público em 15 segundos nos Stories do Instagram, ou uma dança que viraliza na rede social de vídeos já fazem parte da estratégia inicial de alguns artistas e compositores”, comenta Vítor.

O empreendedor argumenta ainda que fatores econômicos também contribuíram para a mudança dos padrões de consumo na indústria musical. “Lançar músicas ou um álbum com uma duração menor é economicamente mais viável para o artista, que ganha por play em cada canção nas plataformas de streaming. Por exemplo, se um músico lançar um álbum de 30 minutos com três músicas de 10 minutos, ele terá 6 plays em uma hora. Se as músicas, no entanto, forem de 3 minutos, ele terá 20 plays no mesmo período. As faixas mais curtas permitem que ele ganhe mais, dado que o modelo de pagamento da maioria dos streamings hoje é por play e não por tempo ouvido”, explica Vítor. 

Outro fator que impacta a produção da indústria é a acessibilidade à produção. Plataformas digitais que podem ser acessadas de qualquer lugar, impulsionaram a produção massiva de músicas, evitando até mesmo que o artista tenha que se deslocar a um estúdio avançado de produção. “Do ponto de vista técnico, aumentou também a qualidade da produção musical. Algumas ferramentas e equipamentos musicais mais acessíveis permitem criar músicas com maior qualidade de som por um orçamento menor”, explica.

As plataformas de streaming também ajudaram a movimentar o mercado musical. Segundo levantamento realizado pelo Escritório Central de Arrecadação dos Direitos Autorais (ECAD), realizado em 2022, são executadas aproximadamente 100 mil músicas por segundo. Dados da Opinion Box, empresa com foco em pesquisa de mercado, e da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), apontam também que quase 80% da população ouve música todos os dias.

Apesar de todos esses parâmetros, o especialista argumenta também que músicas que viralizam acabam criando um efeito de bola de neve na indústria. “Muitos pensam que se um artista fez e deu certo, se eles fizerem, dará certo para eles também. Mas é necessário levar em conta fatores como estilo musical, público, perfil de consumidor, estratégia de divulgação e, claro, a singularidade e autenticidade de cada artista. Apesar de alguns parâmetros se repetirem, não há receita para o sucesso”, finaliza.

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