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Audiobrazil: escola de áudio com TPM: técnica, prática e música

Fernando Marques, da Audiobrazil, explica como criou a escola com o mérito de nascer do esforço e visão aliando a música à técnica e a prática

Desde 2014, um grupo formado no encontro anual da AES Brasil – Audio Engineering Society – propôs a criação de uma grade curricular para os cursos de áudio no país, baseado na experiência de alguns cursos nacionais e do exterior. Este conteúdo teria 1/3 de matérias técnicas, 1/3 de matérias musicais e 1/3 de prática. A Audiobrazil já vinha a algum tempo trabalhando com a mesma ideia, e já coloca à disposição do mercado seus cursos e serviços em São Paulo. Fernando Marques explica como nasceu e se desenvolveu todo o projeto, que tem o mérito de ter nascido de um esforço autodidata de quem tem a visão para aliar a música à técnica de forma prática.

M&M – Como nasceu a ideia de criar a Audiobrazil?

Fernando Marques – A Audiobrazil nasceu de forma muito espontânea, inicialmente não houve nenhum tipo de intenção de criar uma escola. Na época, ano 2007, já trabalhava na área há muitos anos, havia passado por inúmeros estúdios em São Paulo, já tinha minha produtora, e entre produções, gravações e mixagens gostava de participar de fóruns de áudio, na verdade era um grande passatempo para mim, pois me divertia e escrevia sobre o que mais gostava de fazer. Sempre que podia respondia dúvidas de quem estava iniciando e tentava sempre contribuir nas discussões, muitas vezes de forma bem humorada, sem nenhuma pretensão em dar aulas.

Não demorou muito para que, tanto meu trabalho como minhas participações nesses fóruns, despertassem  interesse em algumas pessoas que começaram a me procurar pedindo aulas. No começo tive uma certa resistência para lecionar, não me via como professor, logo depois gostei da idéia justamente porque as pessoas me motivavam ao relatar os resultados obtidos, elogiavam a didática adotada, e quando me dei conta estava desenvolvendo uma metodologia própria, escrevendo um material considerável de aulas, e pouco depois iniciava uma primeira turma.

À medida em que a escola crescia chamávamos reforços para incorporar nosso corpo docente. A idéia era chamar especialistas de diversas disciplinas do áudio e da produção musical para somar conosco e assim oferecer o melhor ensino possível.  Alguns profissionais passaram nesse tempo todo e foram vitais para o desenvolvimento do que é a Audiobrazil.

A escola tem seu nome entre as pioneiras na forma inovadora de ensinar áudio e produção musical no Brasil no que tange a aplicação do conteúdo, estamos hoje entre as principais escolas do segmento, não só em estrutura, mas principalmente em qualidade de ensino, possuímos um feedback muito positivo não só de ex-alunos, mas por parte de contratantes e grandes nomes do mercado, o que nos deixa extremamente orgulhosos, pois estamos contribuindo para o fortalecimento de nossa profissão, renovando com qualidade a nossa classe, conduzindo as pessoas que estão ingressando nesse meio e levando muitos às suas realizações profissionais, além de que é uma responsabilidade muito grande de nossa parte para com nossos alunos, pois estamos lidando muitas vezes com futuros e sonhos.

M&M – Antes da ideia, como foi a sua formação envolvendo o áudio?

FM – Desde a minha mais tenra idade já tinha uma forte ligação com a música, era o que pretendia fazer como profissão, tanto que comecei estudando música. Me apaixonei pelo áudio e produção musical quando me vi dentro de um estúdio e comecei a ter contato com esse mundo, senti que era da música que queria viver, porém de uma outra forma que não fosse exatamente como músico, na verdade queria estar na parte técnica e no processo da produção musical em si.

Sou o proprietário de uma escola e praticamente autodidata. Na minha época as informações, tanto de áudio como de música, eram bem mais restritas e de difícil acesso. Aprendi muito trabalhando com grandes profissionais, porém o caminho foi tortuoso, foram anos de grandes desafios em busca do conhecimento e de um lugar no mercado, pois a curva de aprendizado de um autodidata não é nada fácil, quem diz que é simples está mentindo. Me lembro que na época o acesso aos profissionais e estúdios eram bem mais restritos, entre as diversas lembranças que tenho estão as tentativas de achar estúdios para trabalhar na lista telefônica, batia de porta em porta e muitas vezes levava um não, porém minha persistência foi maior do que tudo, tanto que quando ingressei eu tive sorte de trabalhar com diversos profissionais de grande expressão.

Atualmente um dos objetivos da nossa escola é fazer com que nossos alunos não passem pelas mesmas dificuldades que passei e que muitos profissionais da minha época passaram, tentando transferir à eles toda a bagagem adquirida. Não ensinamos apenas a trabalhar, mas mostramos nossas experiências e como eles encontrarão os desafios do mercado fora do ambiente da escola.

Não iludimos nossos alunos, acho que é exatamente por isso que existe uma grande satisfação e aceitação por parte deles, eles sabem que o caminho ainda assim é grande e que haverão dificuldades pela frente, preparamos nossos alunos para as enfrentarem, deixamos claro que o desenvolvimento profissional em qualquer que seja a profissão demanda tempo de lapidação, e isso não é diferente no áudio. Uma das grandes vantagens de ser orientado por bons professores é que o conhecimento adquirido aliado ao preparo torna esse desenvolvimento bem mais  objetivo, sem perda de tempo e sem grandes traumas, ensinamos inclusive ética profissional e valorização de nosso trabalho.

Apresentamos à esses alunos um conteúdo de qualidade, que vai ajudá-los a filtrar as informações que hoje em dia há aos montes na internet, e muitas delas não são de grande valia, ou até mesmo desencontradas e errôneas, o que infelizmente pode induzir o iniciante a começar de forma inapropriada e perder muito tempo por conta disso. Também existe o preparo para que possam chegar a suas próprias conclusões sobre o que precisam para trabalhar em suas respectivas situações e necessidades.

M&M – Quanto à equipe, quantas e quais as incumbências de cada membro?

FM – Cada membro que trabalha em nossa empresa tenta contribuir de forma positiva com seus melhores atributos, desde quando começamos dividimos muito bem o que cada qual assume. Os professores, por exemplo, sempre são direcionados ao que melhor respondem dentro do campo vasto que é o áudio. Tivemos algumas equipes que ficaram por muitos anos e que contribuíram muito para nossa escola, já tivemos professores com grandes currículos e bagagens internacionais, formados fora do país, mas formação acadêmica não é necessariamente um requisito indispensável para dar aula em nossa escola, pois por si só não compõem o professor, somos extremamente seletivos e rigorosos, analisamos diversos aspectos, além do conhecimento, experiência e didática que são os que mais pesam, nos focamos também em outras qualidades, tais como, inteligência emocional e socialização com nossos alunos.

M&M – Até agora, quantos alunos passaram pela escola?

FM – A Audiobrazil tem centenas  de alunos formados. Muitos estão trabalhando e se sustentando com áudio, o que para nós é uma grande vitória. Nosso objetivo é muito mais do que ser apenas uma escola que fornece conhecimento, vamos além disso. O intuito é capacitar e ajudar essas pessoas na realização de seus objetivos e fazer com que nosso mercado melhore em condições e respeito para com o profissional, tentando colocar pessoas, além de capacitadas, com uma mentalidade profissional diferente, que preza o respeito e honra sua classe.

M&M – Quais os alunos que se destacaram? Já existem alguns com atuação destacada no cenário do áudio paulistano ou de outra cidade/estado?

FM – Existem inúmeros casos de sucesso, temos alunos que se destacaram nacionalmente e que estão trabalhando com grandes produtores e artistas, outros que estão na estrada, há casos de alunos que montaram seus estúdios, produtoras e empresas de sonorização, e estão bem colocados no mercado, e existem até alguns alunos que prestaram concursos públicos e trabalham hoje em teatros nessas prefeituras.

Tivemos um caso de uma aluna que mandamos para estagiar em Los Angeles, e recebemos elogios por parte dos profissionais de lá pela expertise dela e pela forma com que a preparamos. Um outro caso de âmbito internacional foi um aluno que passou uma temporada nos Estados Unidos onde fez a parte técnica de igrejas e também foi requisitado a dar treinamentos de áudio para as igrejas pelas quais passou. Tudo isso foi algo muito gratificante para nós e que marcou nossa história.

M&M – Sobre o equipamento, como está o setup da Audiobrazil atualmente?

FM – Contamos com equipamentos como consoles Allen Heath e Soundcraft, placas da Focusrite, monitores Adam, caixas passivas JBL, potência Crown, microfones Audio Technica, inclusive estamos em uma parceria exclusiva com eles, computadores Macintosh, entre demais equipamentos que compõem nossa estrutura. Contamos também com salas tratadas acusticamente, projetadas por nós, pois também somos uma empresa do setor de projetos acústicos.

M&M – Fale um pouco sobre o equipamento no início da escola e sua implementação ao longo do tempo de existência.

FM – Começamos em um estrutura bem menor do que temos atualmente, não só de equipamentos, mas em tamanho. Na época tínhamos equipamentos mais simples, porém a qualidade de ensino sempre foi nosso forte, tanto que sempre ensinei meus alunos que tiramos som daquilo que temos em mãos, o trabalho é em boa parte de suas responsabilidades. Obviamente, devido ao nosso crescimento foi inevitável as parcerias com grandes empresas, com as quais conseguimos facilidades para melhorar nossos equipamentos, assim como todo o investimento feito com recurso próprio da escola.

[blockquote style=”2″]Existe sim gente boa fazendo bons equipamentos aqui no Brasil, mas vejo constantemente a dificuldade dessas pessoas, que na maioria das vezes prefere fazer por encomenda do que ter uma indústria com larga produção.[/blockquote]

M&M – Existe uma diferenciação da grade curricular para os interessados em áudio ao vivo e em estúdio?

FM – Sim. Na verdade eles começam juntos em uma mesma base, onde é transmitido todo o fundamento de forma sólida para que eles possam se aprofundar em suas devidas escolhas. Depois de cumprida a etapa de preparo cada qual vai para sua especialização e vão se preparar para as situações de cada trabalho, com técnicas próprias exigidas no segmento pretendido.

M&M – Quanto aos itens de equipamento nacionais e estrangeiros? Na sua opinião existe produto nacional que alcança a qualidade dos importados?

FM – Para mim o problema da indústria nacional não é nem a competência das mesmas, e sim o fato de tudo que é produzido aqui ter alto custo tributário, não só na produção, mas em encargos sobre componentes eletrônicos importados que muitas indústrias nacionais utilizam, já que muitas peças nem são produzidas em nosso país.

O Brasil é um país que não produz tecnologia nesse setor, inclusive por falta de incentivo estatal em pesquisas, isso causa uma verdadeira covardia ao competir com os produtos importados, mesmo com os encargos que eles sofrem ao entrar no país, que – diga-se de passagem – também são altíssimos, e nesse ponto começamos a entrar no mérito de quanto o nosso país dificulta a indústria de equipamentos eletrônicos, na qual o áudio está inserido.

Existe sim gente boa fazendo bons equipamentos aqui no Brasil, mas vejo constantemente a dificuldade dessas pessoas, que na maioria das vezes prefere fazer por encomenda do que ter uma indústria com larga produção. A conclusão a que chego é que hoje não podemos comparar os equipamentos nacionais com os importados, porém não podemos dizer que nossa indústria de equipamentos de áudio é ineficiente e culpar os engenheiros dessas empresas que fazem verdadeiros milagres. Eles têm uma enorme dificuldade de trabalhar com as últimas tecnologias do mercado, incluindo o uso de kits de desenvolvimento que facilitam a vida do trabalho dos engenheiros, entre outras limitações.

Na verdade o assunto é complexo e entra no mérito tributário, econômico, da falta de incentivo tecnológico e podemos dizer também que cultural, já que marcas estrangeiras consagradas são consolidadas pelo nome, o que traz ao público uma certa credibilidade. Vejo que muitas indústrias nacionais preferem ficar com clientes de entrada para vender com preço mais acessível e atender essa fatia do mercado.

M&M – Os alunos que procuram a escola já têm seu home studio em formação, vêm de algum estúdio onde trabalham, ou procuram ainda sem nenhum ou pouco equipo? Qual o perfil da maioria?

FM – Podemos dizer que recebemos perfis dos mais variados, temos desde alunos que ingressam em nossos cursos sem nenhuma estrutura e sem nunca ter entrado em um estúdio, como outros que já trabalham há anos e buscam por conhecimento e direcionamento em suas carreiras, ou até mesmo ingressam com intuito de se aperfeiçoarem em cursos mais específicos e avançados que oferecemos, pois temos além de cursos de formação, cursos rápidos e objetivos para aqueles que buscam melhoria em seus trabalhos. Para aqueles que não possuem nenhum tipo de experiência e gostariam de ter uma estrutura mínima, nós aconselhamos começar a estudar, pois com o tempo terão condições plenas de decidir as melhores aquisições para seus propósitos.

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