Fábrica
Giannini: Reinventar-se é preciso

Ao completar recentemente 115 anos de existência, a Giannini volta a apostar na exportação como pilar para o seu crescimento sustentado
Não é fácil ser uma empresa com a história da Giannini. Uma marca tradicional que acompanhou diversas gerações de consumidores e gestores, que chega a 2016 com a meta de figurar entre as maiores exportadoras de instrumentos e acessórios produzidos entre Brasil e Ásia.
Com um histórico exportador de décadas, a empresa passou por altos e baixos e sobreviveu a todas as crises brasileiras durante seus 115 anos de história.
Longe dos holofotes, a companhia vem se transformando. Sua influência no mercado internacional e sua vivência no exterior são visíveis. A Giannini vem atuando há cinco anos com seu próprio um escritório em Nova York.
E a mudança não para. O que no mercado era obrigatório ser ‘Made in Brazil’ se transformou em ‘Made in Giannini’. Onde se produz? Onde for conveniente e obedecendo aos padrões que a empresa adquiriu ao longo de sua trajetória, seja no Brasil, seja comandando a produção OEM em países asiáticos. Entre esses onde hoje ela produz, obviamente está o Brasil. Como é o caso da fábrica de cordas e violões de alto valor agregado, destinados ao mercado internacional.
Fator Brasil
A decisão de importar os produtos e parar com a produção em larga escala dos violões era inevitável. Já a produção de cordas foi mantida e hoje é considerada uma das ativas no mercado.
Com a ajuda de agentes, a empresa iniciou suas primeiras pesquisas para outsourcing na China. Pouco tempo depois, Roberto Giannini estabelecia padrões de qualidade nas fábricas asiáticas.
Prevendo uma baixa sustentação na economia do País, a marca de instrumentos mais antiga do Brasil direciona mais do que nunca seus esforços para atender o mercado global novamente.
Para Giorgio Giannini, chairman da companhia, “se o empresário não se reinventar, ele não acompanha a evolução do mundo, não acompanha suas mudanças”, explica. Essa frase de Giorgio sintetiza o que você lerá a seguir.
Roberto, como você define a transição da Giannini fabricante para a Giannini atual?
Roberto Giannini, foco na construção dos produtos
Roberto: A Giannini de cinco anos para cá passou de uma fábrica de violões 100% nacional à importadora e fabricante, em que ela tinha (na época) como carro-chefe a linha de entrada.
Nesses últimos cinco anos nos profissionalizamos, desenvolvemos fornecedores na China que produzem com a nossa especificação de qualidade, muito bem estruturada. Conseguimos formar uma equipe da Giannini na Ásia, que faz todo o controle de qualidade, além da consolidação das importações. Nossa equipe técnica do Brasil vai constantemente à China para controlar a produção e o desenvolvimento de novas linhas.
Então vocês querem dizer que um produto Giannini feito na China não é exatamente igual a qualquer outro produto feito lá?
Flávio: Sim, não é igual. Como disse antes o Roberto, temos um departamento de desenvolvimento profissionalizado em que criamos desde a pegada do braço, que madeira usar, leques internos para que o som tenha a característica dos violões Giannini — que é o ponto forte da nossa empresa —, então o instrumento é única e exclusivamente montado na China, mas toda a parte de desenvolvimento, todos os detalhes técnicos, são feitos no Brasil e levam o DNA da Giannini.
Como você analisa a atuação da Giannini antes e depois da fabricação asiática?
Roberto: Atualização dos produtos e uma visão global. A Giannini escolheu produzir várias linhas de produtos na Ásia para poder ser competitiva internacionalmente, usando a tecnologia e a experiência acumuladas há mais de um século. O processo produtivo hoje está mais automatizado. Os chineses absorveram a tecnologia e o know-how de diversas marcas mundiais, como Fender, Martin Guitars, Takamine etc.
Como você explica o know-how da Giannini?
Roberto: Nosso know-how está na lutheria. São 115 anos, dos quais 110 de produção ininterrupta de violões. Inclusive ainda produzimos a lutheria no Brasil — os produtos high-end que são feitos à mão no Brasil por luthiers que estão conosco há mais de 40 anos — e o know-how da Giannini se traduz em design, sonoridade, facilidade para tocar e construção. Conseguimos transferir essas características para a produção na China com eficiência.
Esse não é um jargão que todos os fabricantes têm?
Roberto: Alguns usam como jargão, mas a nossa empresa não. Nossos produtos são 100% desenvolvidos no Brasil e com nossa equipe, que foi formada nos últimos sete anos, totalmente profissionalizada.
Exportação
Como está sendo o retorno da empresa ao mercado exterior?
Flávio: A entrada da Giannini no mercado internacional vem de longa data. Começamos a exportar em 1963 — chegamos a enviar produtos para 48 países — e a importar OEM, ou produto acabado, no final da década de 1990, inclusive produzindo no Brasil instrumentos de marcas internacionais, durante seis anos, como a Fender Sothner Cross, vendida no Brasil e na América Latina.
Flávio Giannini: vendas fora do Brasil ampliam
Há quase cinco anos a Giannini iniciou a operação direta nos Estados Unidos. Abrimos um galpão de aproximadamente 700 metros quadrados e um escritório com cinco funcionários, com experiência média de 40 anos no mercado de instrumentos musicais americano. Temos 12 representantes em solo americano. Precisávamos desenvolver a marca, que ainda é conhecida pelo trabalho realizado no passado. A Giannini está nos Estados Unidos desde 1963 e sempre vendeu muito bem para este mercado.
Em que tipos de varejo a Giannini trabalha nos Estados Unidos hoje?
Flávio: Para você ter uma ideia do nível em que está a Giannini agora, atendemos Costco, com a linha entry-level, que é uma grande wholesale nos Estados Unidos e compra em grandes volumes. Também estamos presentes nos grandes sites de e-commerce Musician’s Friends e Amazon. E em grandes lojas especializadas como a SamAsh. Não é uma empresa qualquer que consegue adquirir vitrine nesse tipo de lojas.
O que isso significa para vocês?
Flávio: A Giannini conseguiu desenvolver produtos que estão sendo bem-aceitos no mercado americano em lojas desse porte. Acredito que não existe prova maior do que esta de qualidade, sonoridade, conceito e marca que foram atingidos. Sem contar as grandes redes que mencionei, temos também cerca de 400/450 clientes ativos. Ainda estamos em crescimento, temos muito a atingir. No caso de encordoamentos, é um desafio muito maior, pois existe um domínio forte de grandes marcas, então conseguir quebrar essa barreira é um trabalho bem difícil, mas estamos tendo êxito.
No exterior, os produtos da Giannini são considerados de categoria intermediária ou entry-level?
Roberto: Temos a linha iniciante, que representa 15% do faturamento, e as linhas intermediária e high-end, que são os 85% restantes.
O produto hoje distribuído no Brasil é o mesmo que o distribuído nos Estados Unidos?
Roberto: Exatamente. A Giannini hoje é mundial, então o mesmo produto que é vendido na loja no Brasil é vendido nas lojas nos Estados Unidos, na França, na Itália, na América do Sul. Os nossos produtos são mundiais.
Que tipos de produtos a empresa continuará desenvolvendo para se posicionar internacionalmente?
Roberto: Estamos expandindo a linha de violões de aço, guitarras e contrabaixos, e vamos continuar evoluindo nessa linha de cordas. Gostaria de lembrar que nos últimos cinco anos a Giannini também investiu em eletrônicos. Hoje temos uma linha consolidada em eletrônicos, amplificadores, pedais de efeitos, afinadores e acessórios, e vamos continuar investindo neles. A linha Arco também irá crescer bastante nos próximos três a cinco anos.
Fabricação
Fale um pouco sobre as cordas. Houve investimento na fábrica de cordas no Brasil?
Roberto: Sim. A Giannini é a maior fabricante de cordas da América Latina, a nossa fábrica é altamente tecnológica. Investimos muito nos últimos cinco anos e hoje somos, em quantidade, os maiores fabricantes da América do Sul em encordoamentos e cordas avulsas.
As cordas são vendidas também OEM?
Roberto: Vendemos internacionalmente e também para o Brasil. Vendemos para sete países OEM. Agora, como produto acabado, exportamos para vários países.
Com o real desvalorizado nos últimos anos, chegaram a investir em maquinário para a futura produção de outros instrumentos no País?
Roberto: Estamos investindo em novos maquinários para ampliar a produção de lutheria, inclusive acabamos de construir a nova unidade de fabricação de produtos high-end. Iremos retomar a produção brasileira em 2016 em uma linha específica.
Mercado brasileiro
Flávio: A Giannini tem um projeto para os próximos cinco anos de ampliar as linhas que já existem hoje e incluir outras, para ter uma expansão nos mercados nacional e internacional com a meta de chegar a 1.500 dealers e expandir nossas exportações para 25 países. É claro que para atingir essas realizações em cinco anos teremos de investir sempre em tecnologia e qualidade, a fim de tornar a marca Giannini sempre bem-sucedida.
Por outro lado, posso dizer que muitas pessoas não conhecem a qualidade dos produtos médios e high-end que a empresa tem. Existe um preconceito com certos produtos high-end (de marcas brasileiras) perante as marcas internacionais. Acredito que o preconceito seja o maior concorrente hoje, mas também creio que o marketing pode passar imagens diferenciadas entre as empresas do nosso segmento.
Há ainda um preconceito da Giannini vendendo produtos da China…
Flávio: Uma empresa de longa vida como a Giannini tem vários tipos de público. Tem aqueles que conhecem a Giannini muito bem e gostariam de perpetuar as características do passado, e tem o público que se renova constantemente pedindo atualização e inovações, acompanhando a tendência global. Os dois públicos sempre têm algum tipo de preconceito. Por meio de ações de marketing, tentamos detectar a necessidade atual do mercado sempre trabalhando de uma forma a satisfazê-los.
Futuro
Qual é o futuro da Giannini?
Giorgio: “Eu acredito que o futuro da Giannini, levando em consideração tudo o que foi dito sobre as inovações técnicas, a estruturação da empresa, a abertura de mercados internacionais, poderá ser só muito bom! É difícil ser otimista nesses dias, mas nós somos otimistas porque todos os investimentos que fizemos no passado — tanto no campo tecnológico como no administrativo, em marketing e pesquisas de mercado — está dando frutos e nos ajudou, neste ano tão difícil, a estar acima dos números que muitas empresas não estão conseguindo atingir. Tivemos crescimento em comparação com o ano anterior. Esse é um sinal muito importante e, com tudo aquilo que está em fase de realização, com certeza 2016 será um ano muito bom para nós, independentemente da situação econômica do Brasil. Estamos apostando muito no mercado internacional, em que existe maior estabilidade. E acredito que a gente poderá crescer aqui o porcentual que fará a diferença para o grupo se manter no crescimento.
O que vem agora?
Flávio: Estamos em uma nova fase, com novas diretrizes, profissionais gabaritados, conceitos atualizados, e vamos mostrar uma Giannini que vai surpreender as pessoas. Hoje, o grupo — entre mercado externo, mercado interno e com a futura internacionalização da marca nos demais países onde estamos trabalhando para chegar — está na faixa dos R$ 75 milhões de faturamento, então estamos trabalhando forte para crescer. Estamos ouvindo muitas pessoas dizerem: “Nossa, a minha empresa do ano passado para esse ano caiu X por cento”. Posso dizer com muita honra que a Giannini não caiu, pelo contrário, tanto em valores como em quantidade, estamos acima do ano anterior.
Quais foram os passos internos da Giannini que darão sustentação para o seu legado?
Giorgio: Primeiro, a transição de uma empresa familiar para uma empresa profissionalizada. Hoje os diretores delegam aos seus contratados todas as orientações, deixando para eles o esforço e a competência da realização. Fazemos um orçamento que discutimos conjuntamente com os gerentes das várias áreas, aprovado pela diretoria e entregue para os respectivos setores realizarem. Fazemos o acompanhamento constante, para que todos os pequenos desvios que possam acontecer sejam ajustados à realidade do momento. Isso está garantindo, por meio da nossa controladoria e do setor financeiro, que a Giannini esteja conseguindo se sustentar.
Especial
A voz da experiência
Conversamos com Giorgio Giannini, quem com 83 anos continua ativo, dirigindo a empresa junto com seus filhos.
Como um homem de 83 anos pode transformar uma empresa de 115 anos?
Giorgio: Porque se reinventar é a essência de um ser humano, especialmente um ser humano empresário. Se o empresário não se reinventar, ele não acompanha a evolução do mundo, nem suas mudanças. Reinventar-se significa ter mais entusiasmo para enfrentar as dificuldades, acompanhar o progresso passo a passo. Que seria da vida de um empresario sem a vontade de querer melhorar?
Giorgio Giannini: reinventando a empresa
Mas como não cair nas armadilhas do ego e dizer: “Eu sempre fiz isso e deu certo”?
Giorgio: Isso não existe no meu vocabulário, nem no da minha família! Sempre criticamos nossos próprios erros, os aceitamos e em seguida os modificamos até que se transformem em acertos.
Que conselhos você dá aos seus herdeiros?
Giorgio: Que sempre sejam muito unidos. Que vejam o seu trabalho não como um trabalho próprio, pessoal, mas como um trabalho da família. Sendo ou não ativos na empresa, precisam ser unidos para valorizar a Giannini. Valorizando a Giannini, estarão respeitando o próprio nome.
Quais são as responsabilidades de liderar uma empresa de 115 anos?
Giorgio: Não diria que é uma responsabilidade. Depois de 115 anos simplesmente faz parte da minha vida. Se fosse apenas uma responsabilidade, não teria motivo de viver. Eu não fujo da responsabilidade, muito pelo contrário, a procuro. Enquanto Deus me der saúde e vontade como tenho hoje, vou em frente.
Você sempre foi o líder na empresa. Como é dividir essa situação agora com seus filhos?
Giorgio: Tenho três filhos, dois homens e uma mulher. Ela, por enquanto, se dedica à outra atividade que ama muito, mas espero algum dia trazê-la também, porque é uma excelente profissional. Dividir com meus dois filhos é relativamente fácil se cada um, em todas as reuniões e decisões, pegar o ego e deixá-lo de lado, que é o que tentamos fazer. Sem o ego, cada um tem uma característica, uma essência com a qual nasce. Roberto é principalmente técnico e administrativo, minha filha é altamente pedagógica, entende perfeitamente como transferir uma ideia para a cabeça dos outros, e o Flávio é um comunicador e comerciante nato e profundo conhecedor do mercado. Então, se cada um fizer o seu pedaço, todo mundo acaba ganhando a tranquilidade que o trabalho tem que nos dar. É relativamente simples se o ego não falar mais alto na sala de reuniões.
Efeitos, Pedais e Acessórios
Fuhrmann rebate rumores sobre o fechamento da empresa
Influencer declarou que a fabricante de pedais havia encerrado suas atividades.
A disseminação de informações falsas, popularmente conhecidas como fake news, é um dos maiores desafios da era digital. A desinformação não apenas afeta pessoas, mas também pode gerar danos significativos para empresas, setores produtivos e até comunidades inteiras. Recentemente, a fabricante de pedais Fuhrmann enfrentou um exemplo desse fenômeno, quando informações incorretas foram divulgadas por um influenciador digital.
Em um vídeo publicado por Leo Godinho (removido por violar os Termos de Serviço do YouTube), dois modelos antigos de pedais da Fuhrmann foram avaliados, mas o conteúdo incluiu afirmações incorretas sobre a empresa. Entre as declarações, Godinho afirmou que “fontes semi-oficiais” teriam confirmado o encerramento das atividades da Fuhrmann no Brasil, sugerindo ainda que a marca estaria operando exclusivamente por meio de vendas online e, possivelmente, descontinuaria até mesmo essa operação.
Ao buscar esclarecimentos, o CEO da Fuhrmann, Jorge Fuhrmann, classificou o caso como “extremamente preocupante” e lamentou o impacto da desinformação nas redes sociais. Ele assegurou que a empresa está, na verdade, em plena atividade e preparando lançamentos para 2025. “Não faria sentido algum investir no desenvolvimento de novos produtos para, depois, encerrar as atividades”, afirmou.
Investimentos em tecnologia e produção local
Com sede em Penápolis, interior de São Paulo, a Fuhrmann mantém sua operação em uma fábrica de 650 m², onde produz cerca de 800 pedais por mês. Segundo a empresa, ao longo de seus 18 anos de atuação, tem investido consistentemente na qualificação de colaboradores, em novas tecnologias e em maquinário avançado para aprimorar processos.
Os pedais da nova linha são mais compactos e eficientes, equipados com componentes SMDs (Surface-Mount Devices) que são montados automaticamente, trazendo inovação e modernidade aos produtos da marca. Jorge Fuhrmann destacou ainda que a empresa não possui planos de terceirizar sua produção.
Combate à desinformação
Como medida para evitar episódios similares no futuro, a Fuhrmann anunciou a criação de uma seção especial em seu site voltada à imprensa, influenciadores e ao público em geral. O objetivo é divulgar notas oficiais e esclarecer dúvidas sobre a empresa e seus produtos, combatendo possíveis boatos antes que eles se espalhem.
O episódio reforça a importância de verificar informações antes de compartilhá-las, especialmente em um ambiente digital onde rumores podem ganhar grandes proporções rapidamente.
Cultura
Música transforma vidas de presos em projeto de ressocialização
A ressocialização de detentos no Brasil tem ganhado novas dimensões com projetos que unem capacitação profissional e arte.
Iniciativas como o Sons da Liberdade, no Acre, e o Baqueart, em Pernambuco, utilizam a fabricação de instrumentos musicais para proporcionar aos internos uma oportunidade de recomeçar suas vidas de maneira digna, oferecendo uma nova perspectiva de reintegração social e profissional. Além de promoverem o desenvolvimento de habilidades técnicas, esses projetos utilizam a música como ferramenta de transformação, criando oportunidades reais para os presos saírem do sistema penitenciário com novas chances no mercado de trabalho.
Sons da Liberdade, realizado pelo Instituto de Administração Penitenciária (Iapen)
No Acre, o projeto Sons da Liberdade, realizado pelo Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), se consolidou como uma referência nacional na ressocialização de detentos através da luthieria, a arte de fabricar instrumentos musicais. Desde maio de 2024, os reeducandos são capacitados a construir violões e guitarras de alta qualidade em uma oficina que proporciona 222 horas de aulas práticas e teóricas. O coordenador do projeto, Luiz da Mata, destaca que a iniciativa tem como objetivo oferecer aos detentos a chance de aprender uma nova profissão, preparando-os para o mercado de trabalho após o cumprimento de suas penas.
O reconhecimento da qualidade dos instrumentos fabricados pelos presos foi evidenciado durante a Expoacre 2024, onde os violões confeccionados na oficina chamaram a atenção de visitantes e músicos locais. “A madeira é de qualidade, e por ser feito por reeducandos, é algo muito interessante, muito gratificante”, comentou o músico Rafael Jones, que visitou o estande do Iapen durante o evento. Além do sucesso na Expoacre, o projeto Sons da Liberdade foi convidado para expor seus instrumentos na Conecta+ Música & Mercado, a maior feira de música da América Latina, um reconhecimento significativo da qualidade do trabalho realizado dentro do sistema penitenciário.
Jardel Costa, policial penal e instrutor de luthieria no Sons da Liberdade, enfatizou a satisfação dos detentos em ver seu trabalho sendo apreciado pela comunidade. “Eles têm ficado muito felizes, tanto com o instrumento pronto, quanto com o fruto do trabalho, também com as pessoas vindo ver o instrumento, tocar neles, ver que é um instrumento bom, de qualidade, que não perde em nada para um instrumento profissional”. Essa valorização do trabalho contribui diretamente para a autoestima dos reeducandos e reforça o potencial transformador da arte dentro do ambiente prisional.
Projeto Baqueart, no Centro de Ressocialização do Agreste (CRA)
Paralelamente, em Pernambuco, o projeto Baqueart, no Centro de Ressocialização do Agreste (CRA), localizado em Canhotinho, também promove a reintegração social por meio da música. Desde agosto de 2024, os detentos participam de aulas teóricas e práticas de fabricação artesanal de instrumentos de percussão, como zabumbas, surdos e pandeiros. Segundo Paulo Paes, secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, o projeto busca oferecer uma formação técnica que permita aos internos sair do sistema penitenciário com condições de sustentar suas famílias e viver com dignidade.
Além da capacitação técnica, o projeto Baqueart se destaca pela abordagem ambientalmente sustentável, com a produção totalmente artesanal e manual, sem o uso de produtos químicos ou máquinas. Sérgio Reis, professor responsável pela formação dos internos, destacou a importância do método: “O processo é totalmente manual, respeitando o meio ambiente e ensinando uma nova forma de trabalho para os internos”.
A valorização do trabalho dos detentos no projeto Baqueart também é recompensada com remuneração e direito à remição de pena, conforme previsto na Lei de Execução Penal. “O Baqueart faz parte de uma transformação maior no sistema penitenciário de Pernambuco, onde trabalho, renda e educação são pilares fundamentais”, afirmou Alexandre Felipe, superintendente de Trabalho e Ressocialização. A iniciativa tem sido vista como um modelo a ser seguido, com planos de expansão para outras unidades prisionais no estado.
Essas iniciativas de luthieria dentro do sistema prisional não apenas promovem a capacitação técnica dos detentos, mas também oferecem um meio de abstração e reabilitação emocional por meio da música. Para Daniel Neves, presidente da ANAFIMA (Associação Nacional da Indústria da Música), os projetos têm uma importância multifacetada: “A fabricação de instrumentos musicais pelos detentos atua em dois parâmetros: a criação de um ofício e a abstração que o instrumento proporciona. Foi louvável a atitude das diretorias de ambos sistemas penitenciários que trouxeram estas atividades aos detentos”.
Ao capacitar os internos para uma nova profissão e permitir que eles utilizem a música como forma de expressão e superação, os projetos Sons da Liberdade e Baqueart demonstram o potencial transformador da arte dentro do sistema penitenciário. Essas iniciativas oferecem aos detentos uma oportunidade real de reescreverem suas histórias e de retornarem à sociedade com dignidade e novas perspectivas de vida.
Empresas
Giannini: quais os próximos passos da recuperação judicial da mais tradicional fábrica de violão do Brasil?
Nesta última semana de julho, o jornal O Estado de São Paulo noticiou sobre o pedido de recuperação judicial da Giannini, a centenária fábrica brasileira de violões.
A Giannini, fabricante de instrumentos musicais com mais de 100 anos de história, entrou em recuperação judicial. Nos autos do processo, a empresa atribuiu a crise à pandemia de covid-19, seguida de uma política de restrição a crédito por parte dos bancos, que levou a marca a acumular dívidas acima de R$ 15,8 milhões.
De acordo com dados do Serasa Experian, pedidos de recuperação judicial aumentaram 71% no primeiro semestre de 2024 em comparação com o mesmo período de 2023. Especialistas apontam que o controle da inflação e do câmbio, a queda dos juros e a geração de empregos são fundamentais para interromper a tendência de endividamento.
Giannini solicita Recuperação Judicial
No processo, a Bacelar Advogados representou a empresa perante o Juiz de Direito de uma das Varas Regionais de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da 4ª e 10ª RAJ do Estado de São Paulo, elaborando um pedido liminar para a manutenção das atividades empresariais e requerendo a Recuperação Judicial da empresa.
O Juiz de Direito, Dr. José Guilherme Di Rienzo Marrey, nomeou a empresa Brasil Expert Análise Empresarial de Insolvência Ltda para realizar trabalhos técnicos preliminares na Giannini. Isso inclui verificar as condições reais de funcionamento da empresa, visitar a sede e filiais, certificar a regularidade das atividades, verificar a documentação apresentada e identificar interconexões e confusões entre ativos ou passivos das devedoras, além de detectar indícios de fraude e confirmar se os principais estabelecimentos estão na área de competência do juízo.
Relatório Preliminar
A empresa Brasil Expert realizou a perícia preliminar e relatou: “Após uma minuciosa análise da documentação apresentada pela Requerente, acrescida da diligência realizada, conclui-se que a solicitação de recuperação judicial está fundamentada em uma crise econômico-financeira real e substancial. Não foram identificados indícios de que a Requerente esteja utilizando o instituto da recuperação judicial de forma fraudulenta.”
O relatório continua: “O exame dos documentos e das informações financeiras revela uma queda no endividamento de curto prazo da Requerente, de R$ 39,73 milhões, no período entre dezembro de 2021 e maio de 2024. Já o endividamento de longo prazo apresentou um aumento significativo de R$ 395,92 milhões. Este crescimento no passivo reforça a evidência de uma crise financeira genuína e não uma manobra para uso indevido da recuperação judicial.”
Mercado se solidariza
O mercado da música se solidarizou com a Giannini. Roberto Guariglia, diretor da marca Contemporânea de percussão brasileira, manifestou-se em um grupo de fabricantes de instrumentos musicais: “Estamos na torcida para que vocês vençam mais este obstáculo que muitas indústrias brasileiras enfrentam. Que a presença da Giannini continue importante no cenário musical mundial!” Em outros grupos, as mensagens de solidariedade não pararam de chegar.
Em mensagem para a Música & Mercado, a ANAFIMA – Associação Nacional da Indústria da Música declarou: “O ambiente de negócios no Brasil tem suas intempéries e a Giannini é uma das raras empresas a ultrapassar 115 anos no país. Torcemos pela sua administração e fazemos votos para que o setor se reúna para proporcionar sustentação à empresa.”
Próximos Passos
Com o pedido de recuperação judicial deferido, a cobrança de dívidas fica suspensa por 180 dias, e um plano de reestruturação deve ser apresentado.
- Publicação da Decisão:
- A decisão será publicada no Diário Oficial e os credores serão notificados.
- Nomeação do Administrador Judicial:
- Um administrador judicial será nomeado para supervisionar o processo.
- Apresentação do Plano de Recuperação:
- A Giannini deve apresentar um plano detalhado em 60 dias.
- Assembleia Geral de Credores:
- Os credores discutirão e votarão o plano de recuperação judicial.
- Implementação do Plano:
- Após aprovação, o plano será implementado e supervisionado pelo administrador judicial.
- Monitoramento e Cumprimento:
- A empresa deve cumprir todas as condições e prazos estabelecidos.
- Encerramento do Processo:
- Se o plano for bem-sucedido, o juiz encerrará o processo de recuperação judicial.
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