
O mercado de áudio no Brasil e no mundo vive um momento de transformação. Com o avanço da inteligência artificial, que automatiza processos e cria novas possibilidades, ser um profissional do áudio exige não apenas talento, mas também preparo técnico, versatilidade, visão estratégica e sempre estar por dentro das novas tendências.
Para guiar quem deseja se destacar nessa área, Rane Oliveira, vocalista premiado, produtor musical, engenheiro de áudio e profissional atuante no mercado da música e da dublagem, compartilha sua experiência e dicas valiosas
O mercado de áudio no Brasil
O setor de áudio no Brasil abrange diversas frentes, as mais comuns são produção musical, sound design, sonoplastia e dublagem de séries e filmes. Cada uma exige habilidades específicas, mas todas compartilham a importância de dominar as técnicas de captação e mixagem, processos fundamentais para garantir qualidade sonora e estéticas diversificadas.
Produção Musical
Na produção musical, o objetivo é transformar ideias em músicas prontas para o público. Existem algumas etapas dentro da produção musical que é interessante seguirmos, como: Composição, escolha de repertório, pré-produção e aí passamos pra parte em que começamos a captação definitiva dos instrumentos, a qual vamos falar um pouco mais.
A captação envolve gravar instrumentos e vozes por diferentes métodos: sinal de linha, instrumentos virtuais via MIDI, e microfones estrategicamente posicionados para capturar o melhor timbre. Como destaca a Rane, o microfone ideal nem sempre é o mais caro, mas contar com clássicos como Shure SM58, SM57, SM7, AKG 414 ou Neumann U87 certamente enriquece o resultado final.
A mixagem é o processo de equilibrar os elementos gravados usando volume, equalização, compressão e efeitos. Em relação às DAWs (Digital Audio Workstations), o REAPER é altamente recomendado por ser leve, customizável e robusto — ideal para profissionais autônomos. Já o Pro Tools é essencial para quem deseja atuar em grandes estúdios, por ser o padrão da indústria.
Para trabalhar como produtor, é essencial ter conhecimento técnico e sensibilidade artística.
Dublagem de Séries, Filmes e Games
Na dublagem, o foco está na captação de diálogos em ambiente de estúdio, sincronização de vozes com imagens e mixar esses mesmos diálogos através do volume, equalização, compressão transparente, ambientação e efeitos, seja em séries, filmes ou jogos eletrônicos. A captação exige estúdios tratados acusticamente e microfones condensadores, como por exemplo o Neumann U87 e o Tlm 103 para garantir vocais nítidos e expressivos. Em games, a captação pode incluir múltiplas tomadas para diferentes cenários interativos, exigindo versatilidade dos dubladores, agilidade e precisão técnica. A mixagem alinha o áudio ao vídeo ou à jogabilidade, equilibrando diálogos, trilhas sonoras e efeitos para criar uma experiência imersiva.
Rane aponta: “O mercado está instável por conta de paralisações artísticas devido a implementação de inteligência artificial sem regulamentação, porém profissionais que estão antenados nas novas tendências e que dominam formatos avançados, como mixagem 5.1 e Dolby Atmos, especialmente valorizados em jogos AAA e produções audiovisuais, não ficam sem emprego”.
Audiobooks
A produção de audiobooks tem ganhado força com o aumento da demanda por conteúdo narrativo em plataformas como Audible e Storytel. Na captação, a prioridade é gravar vozes narrativas e(ou) interpretativas, usando microfones condensadores para uma voz mais clara, em ambientes livres de ruídos externos. É importante ter um estúdio isolado e bem tratado acusticamente para evitar ecos indesejados. A mixagem foca em manter a consistência vocal, com ajustes sutis de compressão e equalização para garantir uma audição confortável por longos períodos, além de adicionar eventuais efeitos sonoros ou trilhas discretas para enriquecer a narrativa.
Para trabalhar com audiobooks, é preciso praticar a edição de áudio para eliminar pausas excessivas e ruídos de respiração, além de buscar parcerias com editoras ou plataformas digitais. Um bom portfólio com trechos narrados pode abrir portas nesse mercado em expansão.
Sonoplastia
A sonoplastia cria a atmosfera sonora de peças teatrais, comerciais ou eventos. Na captação em situação de ao vivo , os microfones mais comuns para diálogos são os microfones dinâmicos e de lapela, enquanto microfones condensadores são utilizados para captura de sons ambientes. A mixagem exige precisão para integrar sons ao vivo ou gravados sem interferir na narrativa. É importante estudar o comportamento do som em diferentes espaços, já que cada ambiente altera a acústica.
Para ingressar na área, é útil fazer cursos de áudio ao vivo e buscar estágios em eventos culturais. A versatilidade é chave, pois o sonoplasta muitas vezes atua sob pressão, ajustando o som em tempo real.
Certificações que Fazem a Diferença
No mercado competitivo, certificações são um diferencial. Rane destaca duas que considera essenciais:
Certificação Avid Pro Tools: O Pro Tools é o padrão da indústria, usado em mais de 80% dos estúdios profissionais, segundo a Gitnux. “Essa credencial valida sua capacidade de gravar, editar e mixar com precisão, algo que o mercado internacional valoriza”, explica Rane. A certificação é reconhecida globalmente e registrada no site da Avid, onde empregadores e clientes podem verificar sua qualificação, além de você poder utilizar o selo profissional em suas comunicações como website ou currículo. Para obtê-la, busque cursos oficiais da Avid, estude os fundamentos do software, pratique muito e prepare-se para o exame prático em inglês.
Certificação em Reaper: O Reaper é uma alternativa acessível e flexível ao Pro Tools, ideal para produtores independentes. Rane recomenda o curso Music Production using the REAPER professional audio software da Reaper Experts, com 240 horas de duração. “O Reaper é leve, personalizável e compatível com plugins de ponta, o que o torna perfeito para home studios”, diz ele. Aprender ambas as ferramentas amplia oportunidades, já que o Reaper é comum em projetos independentes, enquanto o Pro Tools domina estúdios profissionais, por enquanto.
Registro Profissional (DRT): Para formalizar a carreira, o Registro Profissional (DRT) como técnico de mixagem e técnico tomador de som é uma exigência em muitos projetos. Ele pode ser solicitado no site do Ministério do Trabalho (SIRPWeb), mas requer curso superior ou tecnólogo na área de áudio. O DRT é um passo importante para atuar em produções maiores, como cinema e TV, garantindo direitos trabalhistas e credibilidade.
Dicas Extras

Mixagem 5.1 e Dolby Atmos
Com o crescimento do streaming, formatos imersivos como mixagem 5.1 e Dolby Atmos estão em alta, especialmente para filmes e séries. O 5.1 distribui o som em cinco canais e um subwoofer, criando uma experiência envolvente, enquanto o Dolby Atmos adiciona altura ao som, simulando ambientes tridimensionais. “Dominar esses formatos é essencial para quem quer trabalhar com audiovisual hoje”, afirma Rane. Ele sugere estudar em softwares compatíveis, como Pro Tools, e buscar cursos específicos, já que a demanda por profissionais qualificados está crescendo.
Montando um Home Studio
Ter um home studio é uma vantagem para treinar e captar trabalhos freelancer.. Rane recomenda preparar um ambiente acusticamente tratado e se possível isolado. Sabemos que no Brasil tudo é um pouco mais caro, então na maioria das vezes temos que buscar soluções acessíveis como painéis acústicos (absorvedores e difusores), tapetes, sofás, estante de livros e por aí vai, o interessante é termos um equilíbrio entre superfícies reflexivas e materiais absorvedores.
Equipamentos básicos para começar um Home Studio incluem:
- Monitores de áudio: Ex.: Yamaha HS5, KRK Rokit 5, JBL 305P MKII 5 e AdamT5V.
- Placa de áudio: Ex.: Focusrite Scarlett 2i2, Presonus Studio 2x e Universal audio Volt 2.
- Microfones: Shure SM57 para instrumentos e Shure SM58 ou SM7B para voz .
- Computador e DAW: Um PC com o processador mais recente que conseguir comprar, pelo menos 16 GB de RAM e a DAW de sua escolha, eu recomendo Reaper ou Pro Tools.
“Um home studio bem montado permite praticar e entregar trabalhos profissionais sem depender de estúdios caros”, diz.
Rede de Contatos
Além de técnica, é importante construir uma rede de contatos. Participar de eventos, colaborar com artistas locais e estar presente em plataformas como instagram e YouTube ajuda a ganhar visibilidade. “O mercado valoriza quem entrega qualidade e se conecta com outros profissionais”, complementa.
Conclusão
Ser um profissional do áudio no Brasil é desafiador, especialmente com a concorrência e o impacto da inteligência artificial. No entanto, a preparação faz toda a diferença. Investir em certificações como Pro Tools e Reaper, buscar o registro profissional, dominar formatos como Dolby Atmos e montar um home studio são passos concretos para se destacar. Com dedicação e versatilidade, é possível transformar paixão pelo som em uma carreira de sucesso, contribuindo para a rica cena musical e audiovisual brasileira e podendo investir na sua carreira além do Brasil.
Enviado por: Rane Oliveira e Liliane Oliveira.