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Inaugurada cooperação internacional sobre desafios do espectro de radiofrequências no Brasil

Auditório da Escola SENAI/SP, unidade Anchieta, sediou uma encontro focado nos desafios que o espectro de radiofrequências tem oferecido, cada vez mais ao longo dos últimos anos, aos profissionais que dependem de tecnologia wireless para produção de conteúdo ou em eventos especiais.

por Tairo Arrabal
Especialista em Áudio e Acústica (Audio and Acoustics Specialist) 

8 de Novembro – Promovido pela organização internacional APWPT (Associação das Tecnologias de Produção Wireless Profissionais), com o apoio do SENAI/SP Unidade Anchieta, AVIXA Brasil e a Enginear Audio Solutions, de Manaus/AM, o encontro se deu em tom de discussão aberta, onde alguns dos principais profissionais, fabricantes e associações profissionais se fizeram presentes e participaram de forma intensa na discussão, relatando algumas de suas recentes experiências enfrentadas no campo da transmissão wireless (uso de microfones e retornos sem-fio), campo este, abalado pelo mais recente Digital Dividend, processo iniciado com o desligamento do sinal da TV analógica no país e consequente realocação do 4G da telefonia celular para a chamada “banda dos 700MHz” (compreendida entre 698 MHz e 706MHz) que era antigamente destinada aos conjunto de canais de TV 52 a 69 no UHF analógico e que sempre foi utilizada por vários de nossos sistemas sem-fio em produção, shows e eventos.

RADIOFREQUÊNCIAS

Abriu o evento a engenheira alemã, Pia Seeger (Beuth University, Berlin), que apresentou a conclusão da sua tese de mestrado realizada após meses de estudo, em solo brasileiro, fruto de uma parceria com a Universidade Federal do ABC, acerca da “Comparação entre os impactos do Digital Dividend no uso das frequências por equipamentos de áudio profissional da América Latina e na Europa”.

Seeger, abordou os diferentes aspectos do mesmo processo em ambos os continentes, pontuando similaridades e diferenças, tais como a ausência de acordos transnacionais envolvendo o Brasil, a informação insuficiente promovida acerca do tema pelas autoridades brasileiras que deveriam informar aos usuários de tecnologia PMSE (Produção de Conteúdo e Eventos Especiais) as consequências do processo do Digital Dividend na utilização de equipamentos wireless e também as diferentes soluções e alternativas oferecidas aos usuários PMSE aqui e no exterior.

A pesquisa da engenheira se deu, em boa parte, através da colaboração de experientes coordenadores de RF em eventos diversos por todo o país, que relataram e registraram os desafios que o espectro local de RF, em cada região, oferecia aos profissionais.

Em seguida, o presidente do conselho executivo da APWPT, Matthias Fehr, relatou um pouco do seu trabalho junto à organização. Matthias monitora e mantém registros do espectro de radiofrequências em diferentes localidades do planeta há decadas e tal façanha o possibilita observar os crescentes desafios que cada profissional de RF, de cada localidade, vem enfrentando ao passar do tempo, afinal, enquanto novas tecnologias surgem e demandam espaço no espectro RF para funcionar, as que já existiam não podem deixar de funcionar também.

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A APWPT é uma organização sem-fins lucrativos que representa indiretamente mais de 25.000 membros de outras 22 associações, e, junto a órgãos reguladores e normativos na Comunidade Européia, tem militado a favor de empresas fabricantes de equipamento wireless e também a favor dos usuários destes equipamentos, representando o ponto de vista desta comunidade profissional e demandando apropriada terminologia para o setor.

A APWPT dentre seus êxitos, conseguiu a liberação de bandas de radiofrequência, antes inutilizadas por qualquer outro setor, para o uso de sistemas wireless, garantindo assim que empresas de sistemas sem-fio possam desenvolver equipamentos para bandas de RF inexploradas tendo o compromisso governamental de que estas não serão afetadas tão cedo. Fehr defende que o espectro de radiofrequências deve ser interesse de todos e que neste assunto, aqueles que dependem de espectro de RF, devem trabalhar pela preservação deste. A APWPT atua em grupos de estudo junto à Conferência Mundial de Rádio, WRC, que periodicamente se reúne para tratar da regulamentação do espectro RF a nível mundial.

A APWPT sugeriu a mudança do texto de certa norma ITU-R, que, acerca da Região 1 (Europa, África e Rússia) descrevia usuários de tecnologia wireless como parte da indústria de broadcast, o que desprezava a existência de milhares de usuários de estes equipamentos na produção de conteúdo de áudio e vídeo ou na realização de eventos “ao vivo”. O texto foi então alterado e desmembrou os usuários de tecnologia wireless em duas categorias: Broadcast e PMSE, termo que define tecnologia de sistemas sem-fio, como microfones, intercoms e retornos sem-fio utilizados na produção de conteúdo (ENG, som direto, produção musical e estúdios de gravação) e em eventos especiais (shows ao vivo, teatro, templos religiosos, câmaras governamentais e outros).

Tal progresso, fez com que as autoridades normativas possam visualizar um mercado antes desapercebido e muitas vezes prejudicado com ações governamentais que comprometeram o uso do espectro RF por parte dos usuários PMSE. Acerca da região 2 (Américas), explicou Matthias, não se vê nada do tipo no mesmo documento ITU-R, fato que denota a falta de compromisso da comunidade PMSE das Américas em se fazer mais visível às autoridades normativas, motivo este, que traz a APWPT ao Brasil para oferecer cooperação no tema, de forma que no futuro cada vez mais digital, os equipamentos PMSE não sejam renegados do espectro RF e que usuários das Américas e da Europa possam compartilhar de tecnologia similares, fato que reduziria o custo final dos produtos wireless aos usuários em ambos continentes.

Como objeto de seu trabalho, a APWPT demandou da Comissão Européia uma compensação de espectro, de forma que os 27 países-membros da comissão, passaram implementar novas bandas reservadas a equipamentos PMSE de forma harmonizada entre os países. Matthias reconhece que ser um expert em áudio e vídeo não garante a subsistência daquilo que precisamos para trabalhar e, por vezes, a atividade do profissional deve ser também política, junto às autoridade normativas. Segundo ele, a melhor forma de trabalhar pela preservação do espectro RF é em uma rede privada, composta por organizações, fabricantes e usuários PMSE, que, de forma cooperativa e alijada de interesses financeiros, possam discutir problemas e encontrar soluções.

Em seguida, ampliando a discussão, Fábio Tolentino, do Seja Digital/EAD  (Entidade Administradora de Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais TV e RTV, uma organização não-governamental e sem fins lucrativos responsável por operacionalizar a migração do sinal analógico para digital da televisão aberta no Brasil) e Marcus Manhães, consultor da Fundação CPqD, que oferece consultoria tecnológica à EAD, apresentaram o outro lado da moeda: A dificuldade que a rede LTE da telefonia celular tem sofrido por conta de dispositivos PMSE (microfones ou inears sem-fio) interferentes ao sensível sistema LTE. Manhães relatou um caso, em Curitiba, onde dois retornos sem-fio (in-ears), irradiavam suas portadoras de RF durante a semana inteira, graças ao operador de som da igreja dona dos aparelhos, que os deixava, desavisadamente, ligados durante a semana toda. Devido à elevada altitude da igreja em relação à cidade, os in-ears irradiavam suas portadoras de RF por um raio de 3km, interferindo drasticamente na qualidade do LTE naquela região.

Marcus Manhães explicou que devido à durabilidade de certos aparelhos PMSE, mesmo que licenciados pela ANATEL (e em alguns casos, tal licença é bem recente) os aparelhos não são ilegais, mas por serem considerados, aos olhos da legislação vigente, como aparelhos de radiação restrita (limitados a um curto espaço geográfico) não podem interferir em serviços primários como a telefonia, por exemplo.

O consultor do CPqQ, relembrou a última reunião entre representantes da indústria PMSE e a ANATEL, que contou com a participação da ANAFIMA, Sennheiser, Shure, TSI, Harman e Kadosh, confirmando que o setor PMSE necessita de maior representação frente às autoridades normativas para discutir situações como estas, e também afirmou que a APWPT chega ao Brasil em momento oportuno e que pode oferecer suporte e experiência para promover um espaço de trabalho contínuo e cooperativo entre fabricantes, usuários e as autoridades reguladores do assunto.

Também estavam presentes, Rubens Jr. e Uirá Moreno da Rede Globo, Renan Dias e Matheus Madeira da Yamaha Musical do Brasil, André Nascimento e Fernanda Gereto da Shure do Brasil, Ingo Freiherr e Antônio Morilhas da Rede Record, Tonny Rufino da MGA Pro Áudio, Carla Anne da ANAFIMA, Marcelo Claret da AES Brasil e do IAV, Nelson Baumgratz da AVIXA, Luís Salgueiro da Audio-Technica, professores da Universidade Federal do ABC, Euler Zabuscka do SENAI/SP e técnicos de áudio e RF de várias regiões do país, tal como o cearense Adefran “Soundmaker” da Semanáudio, que veio desde Cascavel/CE especialmente para o evento: “-Muito enriquecedora a discussão que abriu a mente para uma nova visão para este problema.”


 

 

 

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