Sediada em São Paulo, a PHX fabrica uma ampla variedade de instrumentos, mas a empresa é muito mais do que uma simples fabricante. Possui uma rica história e filosofia para continuar sendo uma das maiores no País
No início da década de 1980, os fundadores da empresa, Tony e Ana, tinham em Taiwan uma confecção de roupas infantis, num momento muito difícil naquele país. Decidiram então vir para o Brasil, em busca de melhores condições e qualidade de vida. Desde essa época iniciaram-se no meio musical, fabricando capas de instrumentos e aproveitando as habilidades manuais da costura para esse novo mercado. Trabalharam por longos anos todos os dias, sem fim de semana, numa fase muito dura, pois eram apenas os dois, sem amigos ou familiares, ainda lidando com a dificuldade da língua. Costuravam durante o dia e à noite estudavam português. Assim, como uma empresa familiar, participavam desde a compra do material até a entrega do produto, e aos poucos foram se relacionando com o setor, conquistando clientes e aumentando a gama de produtos. “É uma história de inspiração que me ensinou a humildade e a determinação para alcançar os objetivos traçados”, disse Luciana Chen, atual diretora comercial da PHX e filha dos fundadores.
Nesta entrevista, Luciana conta mais sobre a empresa, sua filosofia e a situação atual da PHX e do mercado. Uma boa estratégia e boas parcerias são palavras-chave para continuar no sucesso!
Música & Mercado: A empresa tem mais de 30 anos no mercado. Como foi a evolução ao longo dessas três décadas?
Luciana Chen: Foi uma evolução constante e gradativa. As capas foram o início, porém, com o decorrer dos anos e a necessidade de ter mais gente auxiliando na produção, passamos a ampliar o mix com a produção de percussão. Ficamos durante muitos anos num galpão, mas precisávamos de mais espaço. Há cerca de 15 anos nos instalamos na fábrica atual, na região central de São Paulo, com a facilidade de escoamento e distribuição para os arredores. O Brasil é um país de muitas oportunidades quando buscamos áreas ainda não exploradas. Em outra etapa, partimos para uma nova fase de instrumentos de corda e acessórios, que atualmente são uma referência da PHX. O mercado tem produtos de muita qualidade e clientes exigentes, por isso sempre procuramos tocar a produção com muito cuidado. Recentemente, nos tornamos pioneiros com o licenciamento de marcas consagradas. Somos fabricantes de instrumentos da Disney, a marca mais poderosa do mundo; a Marvel, que tem personagens que agradam crianças e adultos, e neste ano fechamos um novo contrato com a Peanuts, trazendo o Snoopy, que mesmo já sendo muito conhecido, está em evidência pelo recente filme de sucesso no cinema.
M&M: Decidiram investir nessas linhas mesmo com os problemas atuais no Brasil…
LC: No momento em que o País passa por uma crise de diversas naturezas, que trazem incertezas e inseguranças, surgem também oportunidades para buscarmos alternativas. A crise não é algo inédito, muito menos interminável. Aliás, ela serve para evidenciar alguns equívocos e potencializar condutas certeiras. Parecemos nadar contra a corrente, mas o momento exige esforço e estratégia. A parte mais dolorida desta crise são as consequências mais visíveis, como o fechamento de empresas, muitas delas tradicionais, e o desemprego. Muitas vezes se leva tempo para obter estabilidade econômica. Nós mesmos tivemos que readequar o quadro de colaboradores para suportar o cenário atual.
M&M: Que oportunidades a PHX está vendo e aproveitando neste momento de crise?
LC: Nossa principal aliada é a inovação. Buscamos incessantemente produtos diferenciados, exclusivos e que tenham a nossa cara. Mudar é complicado, mas buscamos sempre o novo para acompanhar o ritmo das mudanças. Afinal, acomodar-se é perecer. Acreditamos que a crise é sempre um movimento também de criação e de inovação. Por isso estamos ainda mais atentos nesse período. Meus pais viajam de cinco a seis vezes por ano para a Ásia atrás de novas oportunidades e para fortalecer as parcerias que já existem.
TRABALHANDO COM AS LOJAS
Atualmente a PHX Instrumentos tem presença em 1.600 pontos de venda ao longo do território brasileiro. Um grande e importante número que, sem dúvida, demanda ações específicas para contar com as parcerias e o trabalho certos.
M&M: Que tipo de apoio estão dando para os lojistas neste momento?
LC: Uma das formas de ajudar é ter maior flexibilidade nas negociações e nos pagamentos. A loja e a indústria precisam se unir, pois vivemos uma crise de credibilidade, muitos enxergam o outro como inimigo e não como parceiro. É preciso fazer um mutirão para salvar o mercado como um todo. A parceria deve ser forte neste momento. Também, para maior aproximação do lojista com a empresa, intensificamos as visitas regionais, em que demonstramos os nossos produtos e fortalecemos as alianças comerciais, além de fazermos workshops demonstrando a funcionalidade dos lançamentos.
M&M: Que outras estratégias comerciais estão aplicando dentro da empresa?
LC: Estamos lançando este ano mais de 15 novos SKUs. Tenho convicção de que iremos fazer grandes números por conta disso. A ideia é construir parcerias sólidas e duradouras. Acredito que é preciso ser resiliente, acreditar quando todos desacreditam. Queremos construir um relacionamento constante, que faça valer o investimento.
M&M: O marketing ajuda com isso?
LC: Há cerca de cinco anos nosso investimento aumentou. Na realidade, tivemos de reestruturar a empresa para dar mais atenção ao marketing. Estamos investindo nas redes sociais para acompanhar essa nova geração que mudou o desenho do consumo e do mercado. A fonte primária de conexão entre eles e o resto do mundo se faz pelos meios tecnológicos, razão pela qual as empresas que não estiverem presentes nas redes sociais serão cada vez mais discriminadas. Estamos o tempo todo compartilhando conteúdos, seja com clientes ou com consumidores. Outro ponto importante é a forte atuação junto às escolas de música, criando maior proximidade com os novos consumidores, levando até eles todo o trabalho e principalmente fazendo com que testem os produtos PHX. Dessa forma estaremos juntos com os futuros músicos do nosso país.
A FAMÍLIA PHX
Atualmente a empresa conta com 40 colaboradores internos, mais 30 representantes externos de todos os estados. O escritório fica na própria sede da empresa, na região central de São Paulo. Além da fabricação dos produtos, os funcionários também precisam se atualizar e se preparar para as mudanças do mercado. Luciana conta mais sobre isso.
M&M: Estão capacitando a sua equipe de um modo diferente?
LC: Sentimos a necessidade de um aprimoramento do nosso sistema. Hoje trabalhamos com pedidos web, consequentemente, para otimização do trabalho, foi necessária a atualização dos nossos colaboradores. Passamos por uma consultoria empresarial, em que todos que trabalham puderam expor a forma como enxergavam a empresa. Foi uma ótima experiência para estreitar os setores internos. A empresa deve ter conexão com a base, com harmonia as coisas fluem naturalmente.
M&M: O que significa a “família PHX” para você?
LC: Significa troca de conhecimentos, aprendizado, respeito mútuo, saber que trabalha em um ambiente onde há alguém que se preocupa com o próximo, dá conselhos, ou seja, tudo que acontece dentro de uma família. Estamos sempre juntos, seja nas adversidades ou vibrando com o sucesso.
M&M: Conte sobre a fabricação de produtos.
LC: A percussão é feita na fábrica. Todo o processo de produção é interno, temos maquinários modernos que facilitam e agilizam. Trabalhamos com o sistema Just in time, pois assim conseguimos alocar a matéria-prima na quantidade e no tempo necessários. A produção por demanda é muito eficaz, já que a venda do produto ativa e puxa todo o processo produtivo. Os instrumentos de cordas e acessórios são importados; temos um acompanhamento cauteloso do estoque para evitar que o produto fique em carteira. A gestão de estoque é importante para evitar perda de investimentos, por isso estamos trabalhando com mais ênfase nesse aspecto.
M&M: Tem algum produto no qual estão se focando atualmente?
LC: Já estamos investindo em produtos infantis, principalmente os licenciados. Lançaremos este ano outros instrumentos da Disney, Marvel e Snoopy, esses serão a nossa grande aposta. Pensamos muito na qualidade, mesmo que seja um instrumento de entrada. O produto deve ser justo, ter um bom custo-benefício e principalmente ter algum diferencial.
M&M: Essas linhas licenciadas foram boas para a empresa?
LC: Sem dúvida! O licenciamento nos trouxe uma vantagem incalculável, abrimos portas, expandimos para novos mercados, ganhamos mais credibilidade, além de ter fortalecido a nossa marca. Viramos vitrine das principais lojas do Brasil.
M&M: Qual a importância para a empresa de ter linhas dedicadas às crianças?
LC: A música proporciona muitos benefícios às crianças, pois é comprovado que com esse contato, elas se desenvolvem com mais facilidade nos campos da linguagem, da criatividade, da memória e da coordenação motora. Ao trazer essa linha infantil, nossa ideia é também incentivar os pais e mostrar a importância da música desde cedo. Atualmente esse segmento representa 25% do nosso faturamento.
M&M: Falando nisso, como vocês desenvolvem o lado social da empresa?
LC: Estamos engajados em projetos de responsabilidade social. Somos parceiros da Fundação Abrinq, uma organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e adolescentes. Somos reconhecidos como Empresa Amiga da Criança. Esse selo significa que temos atuação na parte social, seja financeiramente, como sócios mantenedores, por exemplo, no Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer) ou mesmo com doações de instrumentos para projetos que envolvam aprendizado da música.
FUTURO PRÓXIMO
M&M: O que podemos esperar da apresentação da PHX na próxima Expomusic?
LC: Faremos o nosso melhor, trazendo muitas novidades, lançamentos e com uma energia muito maior do que no ano anterior.
M&M: Como é a relação que a PHX tem com os artistas endorsers?
LC: Temos poucos artistas, mas todos com muita qualidade. Nosso objetivo é ter um time restrito e exclusivo. Temos como filosofia principal unir artistas que acreditam no nosso potencial, que endossam e aprovam o instrumento que será usado.
M&M: Planos para o resto do ano?
LC: Expandir para novos mercados e, consequentemente, aumentar o market share. Quero dizer que me sinto satisfeita em trabalhar com a música, uma arte que desperta sentimentos diversos nas pessoas, transmite um ideal, mas pode também ser um grande registro de um momento na vida de alguém. Sempre temos aquela música marcante na vida. Além de ser um mecanismo de propagação de cultura e imprescindível na formação cerebral. Eu me sinto feliz por poder participar de alguma forma desse ciclo enorme. Afinal, a vida não teria a menor graça sem a música! Continuaremos trabalhando para seguir crescendo como empresa e contribuindo com a nossa parte dentro da indústria brasileira.