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José Augusto Mannis – o que você precisa saber para ser um engenheiro de áudio

Não basta ter um home estúdio para se intitular ‘engenheiro de áudio’. Mannis fala sobre a formação de músicos e técnicos de som e seu entrosamento na emergente indústria criativa, que responde por mais de 5% do PIB brasileiro.

Em uma conversa franca e direta, Saulo van der Ley entrevista José Augusto Mannis, Professor e Doutor pela Unicamp/SP.

Mannis se confunde com a produção de música erudita de vanguarda e outras formas que não seja “aquela que diz assim” – a canção (poema musicado), que tomou para si a própria definição de música na mídia. Vamos à entrevista!

Saulo van der Ley: Desde o encontro na AES em maio de 2014, como evoluiu o trabalho de definição da grade curricular para o ensino de áudio profissional no país? O grupo inicial se mantém em contato?

José Augusto Mannis: A oficina realizada na AES 2014 teve por objetivo fazer uma reflexão sobre currículos de cursos de formação superior em áudio com foco em uma base mínima de disciplinas para a estruturação de cursos superiores de áudio e produção fonográfica. Apesar de não estar em pauta a criação de um grupo de trabalho, de maneira recorrente, mas não sistemática, tenho tido retornos dos participantes e do público presente sobre essa discussão, pois nessa sessão houve abertura para um interessante debate com a plateia.

Saulo van der Ley: Atualmente, qual é a situação nacional dos cursos de áudio, física e engenharia acústica no nível superior? Surgiram outros cursos desde 2014, outros parâmetros ou mais pessoas no setor aderiram à iniciativa?

José Augusto Mannis: Não tenho nenhum levantamento atualizado para lhe dar uma informação precisa. O que posso afirmar no entanto é que muitos dos participantes são pessoas influentes, formadores de opinião e exercem liderança em suas respectivas áreas. Esse encontro foi uma oportunidade de estarmos todos juntos, contribuindo e colaborando uns com os outros, tendo fomentado nossa reflexão. Certamente teve influências posteriores individualmente, como aconteceu comigo até aqui e penso que com você também. Posso afirmar que embora naquela época algumas iniciativas visando novas estruturas de ensino já estivessem emergindo, a crise econômica que assolou o país nos últimos anos acabou tendo impacto forte nas universidades, notadamente em iniciativas demandando investimento. Há certamente projetos em demanda reprimida, mas me parece difícil prosseguir antes de haver a retomada de uma política educacional plena sem exceções e contenções.




Saulo van der Ley: Como você vê a existência de cursos de áudio e produção musical particulares, livres e de outros formatos e níveis no Brasil hoje? Os conteúdos seguem a proporção 1/3 música + 1/3 técnica + 1/3 prática? Sua situação em relação a uma grade curricular ótima, é pior ou melhor do que as dos cursos superiores?

José Augusto Mannis: Na minha análise nenhum formato de curso se correlaciona direta e necessariamente com sua qualidade ou excelência. Pode haver cursos excelentes tanto em nível superior quanto em iniciativa livre. Contudo um dos motivos pelos quais tive a iniciativa de organizar esse encontro de trabalho foi por ter constatado que vários conteúdos programáticos que encontrei, que não foram incluídos no documento para não comprometer as fontes, tinham proporções irregulares quanto às áreas do conhecimento das disciplinas. Não que todos devam ter a mesma característica, uma vez que para sua diversidade cada curso tem individualmente sua própria ênfase em aspectos específicos, sejam estes de natureza pratica ou teórica ou referentes à uma área preferencial de aplicação. Contudo, após analisar seis grades curriculares de cursos reconhecidos em diferentes regiões e países, pudemos perceber que existem importantes pontos em comum, um deles sendo a presença efetiva e equilibrada de três grupos de disciplinas, a saber: (1) Fundamentos musicais; (2) Fundamentos científicos e tecnológicos; (3) Ensino prático. A seguir  estão elencadas as disciplinas cujas analise nos levou a estabelecer essas três categorias:

Fundamentos Musicais – Teoria musical, Percepção musical, Apreciação musical, História da Música, Harmonia, Contraponto, Orquestração, Análise musical, Música popular;

Fundamentos científicos e tecnológicos – Física (acústica geral, acústica de salas, mecânica e eletromagnetismo), Psicoacústica, Eletricidade, Eletrônica, Eletroacústica, Cálculo, Análise matemática e estatística,  Processamento de sinal, Computação e Programação, Filosofia, Ética, Estética,  Antropologia, Cultura popular, Comunicação, Direito, Legislação, Direito autoral,  Contratos e procedimentos legais, Administração, Empreendimento, Metodologia de pesquisa, Indústria cultural, Processos editoriais;

Ensino Prático – Manutenção de estúdio, Tomada de som, Microfonação, Laboratório de Produção fonográfica  e Pós-Produção, Gravação multicanal, Edição, Mixagem, Masterização, Produção de Áudio em vídeo e filmes, Sonorização, Laboratório de Eletroacústica, Design de sistemas e projetos, Áudio para Radio e TV, Elaboração de roteiro, Realização documental, Projeto ou seminário de final de curso, Direção artística, Escuta crítica, Prática musical (instrumental, composição, arranjo).

Para fazer a avaliação da suficiência de um currículo de um curso basta checar na grade curricular em que proporção as disciplinas se encaixam nessas categorias, lembrando que a distribuição de disciplinas nas escolas de referência tende ao equilíbrio entre os três grupos.

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Saulo van der Ley: Sob o ponto de vista da formação real para o mercado de trabalho existente, qual seria a melhor opção para um iniciante hoje no Brasil: estudar sozinho ou buscar parâmetros em um curso? Vale a pena estudar áudio no exterior?

José Augusto Mannis: O mercado de trabalho atual no Brasil para áudio profissional, numa abrangência ampla do termo, não preenche sua demanda de recursos humanos qualificados com os mesmos perfis de capacitação e desempenho que setores similares na América do Norte e Europa. O ensino de áudio profissional nesses países tem tradição e reconhecimento. No Brasil essa área educacional começou a emergir nos últimos 30 anos e somente nos últimos 10 anos está começando a aparecer publicamente e ainda assim timidamente.

Na minha opinião poderíamos ter sido mais agressivos nessa formação especializada, mas isso tem dependido da cultura e dos interesses das instituições, sobretudo de seus diretores e coordenadores de cursos. Quanto à sua pergunta sobre estudar sozinho, não se pode generalizar uma recomendação de estudo seja esta individualizada, autônoma ou então assistida, uma vez que cada pessoa é uma pessoa, cada indivíduo tem suas especificidades, suas características e seu talento próprio único. Tanto alguns podem se sair bem como autodidatas, quanto outros podem tolher seus talentos e não encontrar suas próprias capacidades em um processo de formação insuficiente ou em cursos onde o termo ‘grade’ curricular refira-se a uma efetiva prisão.

Janete El Haouli

Profa. Janete El Haouli: pioneira no Brasil no ensino musical criativo para crianças

Esta comparação entre grade curricular e grade de prisão é sempre usada pela discípula de H. J. Koellreutter, Profa. Janete El Haouli, que foi uma pioneira no Brasil no ensino musical criativo para crianças tendo montado de 1984 a 1986, na sua Oficina de Música em Londrina, com a ajuda do técnico da Sony Brasil Pedro Arai, um estúdio de música concreta para ensino infantil atendendo a mais de 200 crianças a cada ano. As crianças aprendiam fazendo o que estavam conhecendo.

As atividades de ensino não devem se restringir apenas à transferência de conhecimentos, sendo declarativas, mas, ao contrário, devem ser processuais, nas quais os estudantes construam aquilo que estão aprendendo. Essa foi uma das mais importantes contribuições de Koellreutter enquanto pensador da educação musical, cujos princípios se aplicam também no domínio do áudio profissional, uma vez que este está muito próximo de uma construção estética do som, portanto remetendo a uma forma de arte sonora. Se pensarmos o áudio profissional também como uma arte além de uma técnica, creio que teríamos muito a ganhar em qualidade e desempenho profissional.

Koellreutter: As atividades de ensino não devem se restringir apenas à transferência

Koellreutter: As atividades de ensino não devem se restringir apenas à transferência

Em estudos anteriores que realizei desde a década de 1990 acerca do perfil profissional de egressos de cursos de música, a partir de dados de diversas fontes, inclusive do exterior, verifiquei atuações profissionais no domínio de Música e espetáculo, como produtor fonográfico, músico-engenheiro de som, técnico ou assistente de áudio, sonoplasta, sonorizador ou operador de som, ilustrador musical enquanto compositor de trilhas; em Documentação e acervos, como restaurador de registros sonoros, conservador de acervo, arquivista de orquestra; em Cinema e audiovisual, como chefe de operação de áudio ou responsável pela tomada de som; técnico de mixagem, pós-sincronização e pós-produção; criador de ruidagem (bruiteur/foley), sound designer; no domínio industrial em diversos setores, desde alimentação até indústria automotiva, como designer sonoro; em Acústica, sonorização de espaços públicos, acústica arquitetural, acústica musical; em Construção e manutenção de instrumentos musicais; e ainda em diversos outros setores de comércio, ensino, comunicação (rádio e TV), produção executiva, museologia, publicações (edição musical [copista, revisor], edição impressa e eletrônica [periódicos, livros e monografias sobre musica], provedores de conteúdo), assessoria de imprensa especializada.

Escolas de alto ranking implementaram cursos alinhados com novos perfis profissionais como o Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris com o programa de Formation Supérieure aux Métiers du Son, único curso em toda a França destinado a músicos-técnicos de som tendo como desafio transmitir para os futuros profissionais, habilidades de alto nível tanto musicais quanto técnicas para desempenho profissional como Músico-Engenheiro de som,  Diretor artístico de produção áudio-visual (CD, DVD, filme etc.); Engenheiro de som para concepção e operação de dispositivos de som; Assessor ou Consultor Musical ou artístico; Controle de qualidade de som e áudio em filmes e vídeos; Produção musical em música contemporânea; arranjador; orquestrador; designer de som; computação musical. Esta tendência por parte de instituições de elevado padrão internacional, denota a clara tendência à responder a uma modificação ocorrendo no perfil profissional efetivo dos músicos e às recentes oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho nas últimas décadas.  Essa transformação está diretamente vinculada à nova conformação mundial dos setores produtivos e à recente emergência da indústria criativa.

Saulo van der Ley: A maioria dos artistas e bandas contratam, na maioria dos casos, um técnico/operador/engenheiro “avulso” para cada apresentação. Poucos têm uma pessoa contratada exclusivamente, ou pelo menos constantemente, para operar o áudio. Na sua opinião, como isto se reflete nas características e qualidades técnicas e sonoras dos trabalhos?

Hans Keller

Hans Keller: advertindo sobre as falsas profissões

José Augusto Mannis: A questão é que em alguns casos a denominação de técnico, operador ou engenheiro é falsa. É como Hans Keller adverte sobre as falsas profissões (phoney professions) como a do crítico: alguém que analisa e comenta música deve ser antes de mais nada um músico, não basta saber escrever. Precisa saber como pensar e como escrever sobre música. Da mesma maneira no desempenho profissional em áudio no caso de um grupo musical, uma banda, uma orquestra, não se trata de ter uma pessoa que tenha conhecimentos científicos e tecnológicos sobre áudio e que entenda um pouco de música, é preciso um músico com conhecimentos científicos e tecnológicos sobre áudio. O músico do áudio é mais um músico na banda. Ele é o ‘regente’ do som. Sem ele a banda ficaria incompleta. Portanto, neste caso, definindo essa pessoa como técnico, operador ou engenheiro estamos denominando-a de maneira equivocada, falsa. É um músico que atua com os demais músicos, pois a banda é um grupo “musical” como um todo.

Saulo van der Ley: Formações eruditas, como orquestras, corais etc. tendem a contratar melhor o pessoal técnico, assim como os grandes eventos, festivais, ou em nada se diferenciam da música popular mais consumida?

José Augusto Mannis: Cometer erros não é privilégio de nenhum gênero musical. Porém, cada formação, erudita ou popular, tem um potencial de produção, sobretudo em relação a sua capacidade orçamentária, o que pode limitar suas possibilidades de contratação de pessoal qualificado. Por outro lado, tanto em um setor como em outro, pela falta de cultura no trato de tecnologias aplicadas à arte, pode-se pagar caro por um simulacro de serviço sofisticado, e se decepcionar no final das contas com um serviço muito ruim. Quando a questão envolve publicação já é um pouco diferente, uma vez que um produto é fixado em suporte e passa por várias etapas de avaliações, por várias mãos e ouvidos. Mas quando é efêmero, em situações nas quais só ouvirá que ali estiver, pode haver mais brecha para resultados medíocres.




Saulo van der Ley: Partindo de uma presunção de que há um círculo vicioso entre a má formação de músicos -> más composições no mercado -> público musicalmente mal informado -> baixo nível de obras, a boa formação musical aliada à boa formação técnica poderia melhorar este quadro? De que formas?

José Augusto Mannis: O que eu particularmente acredito e estou alertando, de maneira formal há mais de 20 anos, é que o ensino de música deveria se adaptar a um novo mercado de trabalho, que pode ser identificado analisando as ocupações dos egressos dos cursos superiores bem como as demandas por profissionais. Não creio que todas as formações musicais sejam, em si, más. Simplesmente estão defasadas da realidade. Temos ótimos professores, artistas de talento, pesquisadores de alto desempenho, mas a organização da formação, das atividades, das disciplinas, não condiz com a ampla realidade profissional que aguarda nossos alunos depois que estiverem com o diploma na mão.

Nossos alunos saem dos cursos de composição nos quais são preparados para atuarem como compositores e dos cursos de instrumento/canto e regência para serem performers. Porém, alguém já se perguntou quantos egressos estão vivendo de suas composições ou estão contratados em orquestras ou atuando em uma carreira regular como performers? Pois bem, durante os últimos sete anos me dediquei como pesquisador convidado a um projeto proposto por docentes da UFRGS, UFBA e Unicamp com financiamento da CAPES e do CNPq com objetivo, entre outros, de mapear os egressos de cursos de pós-graduação música.

Eis alguns dos resultados: (1) mais de 70% dos egressos de Pós-Graduação em Música se dedica profissionalmente ao ensino musical; (2) 21% segue ministrando também aulas livres; (3) 21% atua profissionalmente com composições ou arranjos, não sendo esta necessariamente sua principal atividade profissional; (4) 42% mantém atividades com performance havendo diminuição da quantidade de pessoas que antes da Pós-Graduação se dedicavam profissionalmente a atividades de performance; (5) diminuição da quantidade relativa de pessoas que antes e depois da PG se dedicam profissionalmente à Música enquanto atividade fim, ou seja, se mantendo com trabalhos de performance ou encomendas/serviços criativos.

Analisando esses resultados percebemos que o que está acontecendo é que as IES estão formando prioritariamente professores de música. E então nos perguntamos: e os demais especialistas para as novas atividades profissionais adjacentes ou em intersecção com a música, notadamente do setor emergente da indústria criativa que responde por mais de 5 % do PIB brasileiro, de onde estão vindo?

Saulo van der Ley: Assim como os técnicos estudando harmonia e outras matérias musicais, como você vê o interesse dos músicos em estudar acústica e áudio? É recíproco o interesse de músicos e técnicos em fundirem seus conhecimentos?

José Augusto Mannis: Essa pergunta começou a ser respondida quando falei da necessidade de adequar as grades curriculares às necessidades atuais e à demanda do mercado de trabalho por novos perfis profissionais. Acredito que a espinha dorsal de um novo currículo básico para música deva ser bastante condensado e que haja um catalogo mais amplo de disciplinas eletivas que cada aluno pode escolher para sua formação, conforme necessário e segundo seu próprio plano de estudos, mantendo porém um equilíbrio relativo entre a quantidade de disciplinas pertencendo a cada grupo básico, à imagem dos três grupos que mostrei acima como resultado da análise dos cursos de áudio: Fundamentos Musicais; Fundamentos científicos e tecnológicos; Ensino Prático. Grupos genéricos correspondendo a áreas do conhecimento, mas com liberdade para cada aluno escolher o assunto especifico a ser estudado. Esse princípio pode ser aplicado tanto para o ensino de música como para o ensino de áudio profissional.

José Augusto Mannis

José Augusto Mannis

Saulo van der Ley: O boom dos homestudios e distribuição digital afetou de que forma a produção de música de qualidade? Temos hoje maior liberdade de criação, e consequentemente melhor nível de obras? Ou muita bobagem desconhecida passou a ser divulgada?

José Augusto Mannis: Evidentemente quando se oferece amplamente à sociedade meios e acessos livres para uma determinada atividade produtiva de interesse, a produção nesse setor aumenta e as barreiras de controle de conteúdo e qualidade são derrubadas. Surgem então os pros e os contras: pessoas com muito potencial que antes não conseguiam vencer as barreiras emergem com uma nova produção e entram em circulação; por outro lado a quantidade de produções irrelevantes aumenta exponencialmente.

Se por um lado tivemos portas abertas a novos talentos por outro a chance de encontrarmos novas produções de boa qualidade diminuíram enormemente, ou seja, a proporção de lixo na informação disponibilizada aumentou muito. Como consequência, ao buscar por informação, ao invés de procurar um produto (dados, texto, musica, sons, imagens etc.) com um determinado perfil, devemos fazer uma filtragem daquilo que é encontrado, chegando essa filtragem a ser tão ou mais importante do que a própria busca.

Essa sua pergunta é ótima, pois me permite ilustrar uma das novas atividades emergentes e uma transformação de um setor produtivo atualmente em transformação, a saber: o provedor de conteúdo atualmente toma uma parte do espaço de atividade que antes pertencia ao editor.

Não é mais quem fabrica a informação quem lidera, mas quem seleciona e disponibiliza a informação. Novas funções podem ter surgido com esse empreendimento emergente como o responsável pela coleta de conteúdos e em seguida o tratamento do sinal de arquivos de áudio (para masterizar registros sonoros e uniformizar o padrão de sinal dos arquivos) ou gerente de TI para documentos musicais e sonoros (organizar palavras chave e metadados dos arquivos para serem recuperados pelos metabuscadores) enquanto outras seguramente sentiram o impacto dessa transformação, como as de copista musical e arquivista musical.

Hoje qualquer um pode publicar um disco, pode subir sua produção toda na web. O desafio é o que fazer para encontrar algo que seja efetivamente de interesse entre tudo daquilo que foi disponibilizado recentemente. Quem está com a vez neste momento são os filtros.

Saulo van der Ley: Como está vendo a atual tendência de abandono de grandes formações musicais, com no caso da Jazz Sinfônica em SP? É a volta da política do “supérfluo” no cenário cultural tupiniquim trazida pelo mandante de plantão, ou se trata de um “pensamento” mais amplo, envolvendo a chamada “opinião pública” ?

José Augusto Mannis: Esta questão apresenta aberturas para assuntos que extrapolam o escopo desta entrevista. Me limitarei a responder somente que em nosso tempo processos recorrentes de enfraquecimento e banalização de valores culturais e de fortalecimento de simulacros estão transformando a sociedade.




Saulo van der Ley: A chamada “produção musical” produziu também uma figura controversa que geralmente se auto intitula “produtor”, com muitas deficiências e ilusões. No seu conceito, o que seria função de um verdadeiro produtor? O que você diria a alguém que, perguntado sobre o que quer ser quando crescer, respondesse “produtor musical”?

José Augusto Mannis: Pois é, não é que “produtor” – quando este termo é aplicado a uma atividade artística sonora criativa – vem também a ser uma dessas falsas profissões conforme propõe o Hans Keller? Foi colocada uma vestimenta, aplicado um rótulo, instaurado um simulacro para denominar o criador fonográfico, o artista sonoro de estúdio, o maestro dos sons. O termo produtor permitiu que não se associasse esses profissionais à categoria de artistas. Porém, a palavra remete a construtor. Mas se forçou a permanecer como supervisor ou mais próximo a figura de um empresário, um produtor executivo ou produtor cultural.

O pensamento comum é ainda bastante refratário à ideia de que o DJ seja um metamúsico, um músico que faz música com remanejamentos de trechos musicais. Tanto quanto um engenheiro de áudio seja um Tonmaister – em alemão um mestre de sons. Talvez essa mesma síndrome dificulte que as pessoas enxerguem o arquiteto também como um artista. O sound designer no cinema, o foley nos dramas radiofônicos, os projetistas que afinam o escapamentos da Ferrari e da Harley Davidson, aquele que afinou o som de fechamento da porta da BMW 4 Series Gran Coupe, estes todos são o que? Artistas sonoros. Salve os artistas sonoros!

[toggles title=”Quem é José Augusto Mannis”]

 

 


Área de Interesse 
Pesquisas
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Informações Pessoais 
Links

Prof. Dr.  José Augusto Mannis

Doutorado em Música
UNICAMP, 2008

Mestrado em Música
PARIS VIII, 1987

Graduação em Composição
UNESP, 1983
Engenharia (incompleto)
FEI/CNSMDP

Endereço :
Instituto de Artes
Departamento de Música
Rua Elis Regina, 50
Cidade Universitária “Zeferino Vaz”
Barão Geraldo, Campinas, SP
13083-970 – Caixa Postal 6159

Telefone : (55 )  (19)  3521-6551 / 3521-7813
Fax :  (55)  (19)  3521-7827
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Currículo Lattes

 

Áreas de Interesse

Composição Musical, Improvisação, Música Eletroacústica, Criação Radiofônica, Performance Eletrônica, Gravação Sonora, Produção Musical, Acústica Musical, Acústica de Salas, Biblioteconomia e Música, Tratamento de Documentação e Informação Musical: Catalogação, Disponibilização, Recuperação de Informação.


Projetos  de Pesquisa

Meu plano de pesquisa no Instituto de Artes da Unicamp compreende ações nos campos de Fundamentos Téoricos, Processos Criativos e Práticas Interpretativas coerentes com projetos e atividades realizados até o presente em Composição musical, Música em suporte tecnológico, Performance eletroacústica, Improvisação musical, Gesto, movimento e energia na música, Criação musical a partir de material com recorte geo-cultural, Heurística musical, Conforto ambiental: acústica, Acústica de salas, Acústica musical, Irradiação de fontes sonoras, Produção musical, Captação do som, Relevo sonoro, Percepção do som no espaço, Difusão sonora (projeção do som no espaço), Mixagem e Masterização, Sonorização em contexto de música erudita, Ciência da informação aplicada à música (Biblioteconomia e música). Continua aqui

Relatórios de Pesquisa:

Claude Ledoux: Análise musical de obras de concerto do séc. XX e XXI com influências de tradições populares

Ricardo Mandolini: Heurística musical

Alexandros Markeas : Improvisação generativa

Tecnologia patenteada pela UNICAMP é aplicada no novo MIS SP


Publicações

MANNIS, José A. Análise modal bidimensional de salas com superfícies seriais difusoras. In: CONGRESSO DE ENGENHARIA DE ÁUDIO, 6., 2008, São Paulo; CONVENÇÃO NACIONAL AES BRASIL, 12, 2008, São Paulo. Anais… p. 30-37.

NANNI, Sara. Melhor acústica para salas de música, cinema, teatro e estúdio de gravação. Conecta : da ciência ao mercado, n. 1, p. 40-41, Jun., 2008.

SUGIMOTO, Luiz. Pesquisador concebe superfícies para salas acústicas que não absorvem som. Jornal da Unicamp, n. 386, p. 4, 25 fev a 2 mar. 2008. https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/fevereiro2008/ju386pag04.html

MANNIS, J. A.; MANZOLLI, J. Introdução aos difusores de Schroeder e análise comparativa com a organização serial na técnica de composição com 12 notas de Schoenberg. Acústica e vibrações, n. 37, p. 15-27, Dez., 2006

MANNIS, José A.; CASTRO, M. Lucia N. D.; PASCOAL, Maria Lucia; VOSGRAU, Sonia R. C.; ROSA; Lilia de O.; BOTTAS, Paulo V. Catalogação e disponibilização de documentação musical pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. SIMPOSIUM IBEROAMERICANO DE EDUCACIÓN, CIBERNÉTICA E INFORMÁTICA, 3., Orlando, Flórida, EUA. Anais… Orlando, SIECI: 2006.

MANNIS, José A.; VICENTINI, Luiz A.; MARTINS, Valéria S. G.; VICENTE, Gilmar; CASTRO, M. Lucia. N. D. Relato de projeto de catalogação de documentação musical integrado a biblioteca digital. Simpósio Internacional de Bibliotecas Digitais, 3, 2005, São Paulo. Anais… São Paulo: Bibliotecas do CRUESP, 2005.

MANNIS, José A. O futuro do passado. Jornal da Unicamp, Campinas, n.294, p.2, 11 a 24 jul. 2005. https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/julho2005/ju294pag02.html

MANNIS, José A. Analise comparativa dos difusores de Schroeder com a organização serial na técnica de composição com 12 notas de Schoenberg : proposta de métodos para design de difusores acústicos. In: SEMINARIO DE MUSICA, CIENCIA E TECNOLOGIA, 1., 2004, São Paulo. Anais… São Paulo, USP, 1994, p. 52-69

MANNIS, José A. Adequação de estrutura de thesaurus para representar formação instrumental/vocal em método de catalogação de documentação musical em formato Marc. In: Congresso da ANPPOM, 14, 2003, Porto Alegre. Anais…

MANNIS, José A. Elementos de acústica de salas, tomada e projeção do som na performance eletroacústica. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE COMPUTAÇÃO MUSICAL : MÚSICA E COMPORTAMENTO EMERGENTE, 9, 2003, Campinas. Anais…

MANNIS, José A. Intérprete do som : Bases interdisciplinares da performance eletroacústica: Tomada e projeção do som. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE ÁUDIO, 1, 2002, Belo Horizonte. Anais… p.10 ISBN:85-89029-01-8 (acompanha CD-ROM com texto completo)

MANNIS, José A. Resenhas de partituras. Hodie, Goiânia, v.1, n.1, p.56-61, 2001.

“MUSICON Guia da Música Contemporânea Brasileira 1a ed. (1985) 2a ed. (1989) CDMC/UNICAMP”

“Proposta de catalogação de documentação musical em formato MARC para um padrão nacional compatível com fontes do exterior” ANPPOM 1998.

“Reflexos” CD Duo Dialogos GHA 126.033 (1993)

“Arapongas” CD Grupo PIAP 199.004.470 (1997)

“Relógio” (poesia de O. Andrade),
“A inalterável presença” (poesia de A. Zuccolotto),

“Noigandres” (poesia de D. Pignatari),

“Nua” (poseia de A. Antunes),

CD Poesia paulista 12 canções 199.004.118 (1997)

“Cyclone” para Fita magnética CD RioArte RD003MEB 1995
“Cyclone” para Fita magnética CD Leonardo MIT Press ISAST 4 1995

“Cyclone” para Fita magnética CD Música Eletroacústica: História e estéticas EDUSP 1996


Atividades Docentes

Composição VII, Composiçao VIII, Contraponto e Fuga I, Contraponto e Fuga II, Contraponto I, Contraponto II disponiveis no portal de Ensino Aberto da Unicamp


Informações Pessoais

Jose Augusto Mannis (1958, Brazil) His repertoire covers a variety of musical genres and styles: electroacoustic, instrumental, music for video, theatre, radio art, and multi-media installations. His music is characterized by one over-riding factor: sound and musical gesture are essential concerns. As a performer of electroacoustic music, he has worked with Ensemble L’Itineraire (France), Ensemble Antidogma (Turin), Grupo Círculo (Madrid), Duo-Diálogos (Brazil) and INA-GRM. He is the founder and former-director (1989-2005) of the Center for Documentation of Contemporary Music (CDMC) at the University of Campinas (UNICAMP) in Brazil, where he is a professor of composition, counterpoint and fugue. His research includes music digital library, music cataloging and the development of ideal acoustical spaces for musical research and performance.


 


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